segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Glee 6x03: Jagged Little Tapestry


Sobre ser quem realmente é.

Ao longo de seis anos de série, Glee já debateu uma porção de assuntos polêmicos, a maioria deles ligados à sexualidade ou ao senso comum do que é considerado normal ou aberração. Por essa função social, sempre achei que a série era desafiadora, afinal, mesmo nos dias de hoje ainda enfrentamos preconceitos, julgamentos rasos e ignorância. Existe, ainda, uma grossa fatia de pessoas que se sente no direito de impor (ou ao menos tentar impor) um modo de vida específico e que, geralmente, atende apenas a seus próprios interesses.

A TV, portanto, ganha um papel educador. Papel esse que Glee sempre desempenhou bem ao trazer para a tela aquela opinião que (quase) todo mundo têm , mas não revela, ou aquela resistência ao diferente que aparece mais constantemente e sem tanto pudor.

Todo esse discurso é para dizer que sim, teve Alanis, teve Carole King, teve o blá, blá, blá de sempre, mas o episódio dessa semana teve dois assuntos sensacionais, vividas por duas personagens queridíssimas: Beiste e Becky.

Os “temas que incomodam” vieram, como sempre, de forma rápida e rasteira, mas ajudam a colocar uma luz sobre o que precisa ser dito. Beiste é um tipo de mulher que já sofreria com os comentários maldosos naturalmente, por seu porte, por seu jeito de agir, por sua profissão. Embora o tema da transgeneridade necessite de ainda mais espaço, acredito que mostrar a coisa de forma sensível é o caminho. Beiste é alguém que nos emociona pela sensibilidade e pela fragilidade que representa. Pelo seu mundo de contrastes tão fortes e dessa vez ela não deixou por menos. Assumir que seu corpo não condiz com o que você realmente é não pode ser fácil. A transição pode demorar anos e anos, porque a aceitação de si mesmo se choca com cada pequena regra que decidiram que devemos seguir. Beiste representa o medo e a coragem ao mesmo tempo e continua sendo uma aparição de impacto na série.

Becky, por sua vez, personifica a nossa ideia prematura de que ela é incapaz, ou anormal, ou infantil. Existe, de fato, dificuldade em lidar com o fato de que ela é uma mulher como as demais, porque a Síndrome de Down nos cega parcialmente. Podemos ver Becky e qualquer um com a síndrome como crianças eternas, como crianças talentosas e com incríveis capacidades intelectuais, mas não somos capazes de vê-la como, simplesmente, a namorada de alguém. Mais uma vez, os diálogos foram direto ao ponto para debulhar com essa ideia pré-concebida que existe em cada um de nós e essa não é a primeira vez que Glee nos mostra que todo mundo, até mesmo eu e você, caro leitor, podemos ter pensamentos completamente equivocados sobre aqueles que nos cercam. É claro que a série faz isso mesclando drama e humor. E as piadas nos ajudam a perceber o quanto o julgamento pode ser vão.

Por essas duas tramas, Glee já fez valer a semana e todo o restante do episódio vem para balancear os assuntos mais pesados. Honestamente, existe um tema da série que poderia ser esquecido e engavetado e estou falando da ladainha chorosa de Kurt e Blaine. Não tenho mais paciência para tanta babaquice desses personagens, pro junta-separa, pras inseguranças bobas e para as brigas de casal mais sem graça do mundo. Parece que estamos presos nessa relação com eles e, se não é para mudar e fazer diferente, os roteiristas poderiam nos poupar de mais Klaine em lágrimas e músicas depressivas. Não me levem a mal. Eu gostei da escolha e da interpretação de It’s Too Late. Um clássico da dor de corno. O problema é ver Kurt dando ataques de pelanca durante o episódio todo, por algo que vai se resolver da forma mais óbvia daqui duas ou três semanas.

Os mash-ups com Alanis e Carole foram bacanas, mas não sei se foram tão bem inseridos na edição. Senti um probleminha também com a falsidade das performances. As músicas gravadas não estavam em sinergia com o que estava na tela. Senti isso com Hand In MY Pocket/IFeel The Earth Move, Will You Still Love Me Tomorrow/Head Over Feet e You Learn/You’ve Got a Friend. A apresentação mais dentro da normalidade foi com Tina e Quinn (ou seria Kitty?) em So Far Away.

Aliás, essas duas foram incríveis ao aturar as grosserias de Becky (suuuuuper bitches). Santana, por sua vez, esculachou Kurt como eu gostaria de fazer e me senti vingada, pelo menos em parte, porque também tivemos a chatice da briga de poder pra ver quem caga mais regra idiota para o novo New Directions. Rachel e Kurt definitivamente não são essa dupla dinâmica incrível que Glee tenta mostrar. Os dois funcionam melhor separados e longe da mesquinharia que insiste em grudar nos plots conjuntos.

Músicas no episódio:
It's Too Late - Carole King: Kurt Hummel & Blaine Anderson
Hand in My Pocket/I Feel the Earth Move - Alanis Morissette/Carole King: Santana Lopez & Brittany Pierce
Will You Still Love Me Tomorrow/Head Over Feet - The Shirelles/Alanis Morissette: Jane Hayward & Mason McCarthy
So Far Away - Carole King: Quinn Fabray & Tina Cohen-Chang
You Learn/You've Got a Friend - Alanis Morissette/Carole King:  Rachel Berry, Santana Lopez, Brittany Pierce, Quinn Fabray, Kurt Hummel, Noah Puckerman, Tina Cohen-Chang, Mason McCarthy, Madison McCarthy, Jane Hayward e Roderick


P.S* Mais destaque para os novatos, por favor!
Comentários
1 Comentários

Um comentário:

João Paulo disse...

Eu não gostei muito do episódio não, achei até legal a relevância das cenas com temas polêmicos entre a Beiste e a Becky, concordo demais com a sua review neste ponto, como plano de fundo elas funcionam muito bem, mas o primeiro plano com Rachel e Kurt sendo treinadores do Glee Club não tá funcionando, essa necessidade de trazer o elenco original para série para ajudar alavancar o grupo está atrapalhando, porque ai não sobra espaço para os novatos, que essa semana voltarem a ser irrelevantes como a segunda geração que entrou na quarta temporada se tornou obsoleta na quinta.


Ryan Murphy não é esperto em deixar que os novatos tomem conta do show e aproveitar o elenco original para pequenas participações no decorrer dos 13 episódios para que todos possam fechar seus arcos. A série é sobre o Glee Club, mas insistem fazer a série só para elenco original, ai fica complicado.


É foda criticar pq Glee é uma série do coração, mas não consegue achar o equilíbrio entre tramas, algo que veio caindo desde o começo da segunda temporada. Concordo sobre as músicas do episódio, as performances estão fora de sincronia e parece que estão cantando por cantar, a energia do segundo episódio meio que sumiu nesse.


Outra coisa que concordo, essa ladainha do Blaine e do Kurt já deu faz 3 temporadas, mas Ryan Murphy precisa sempre de um draminha gay em suas séries, ai complica.


Obs: Jane canta muito, gostei da dupla dela com um dos irmãos.