Perdedores de volta para casa.
Fazia algum tempo que eu não
sentia empolgação de verdade vendo um episódio de série. Tempo demais para quem
é fã do formato há tantos anos e está acostumada a vibrar em frente da TV.
Glee, que foi fonte de grandes desgostos em sua temporada passada, veio para
mudar isso para mim, pelo menos por enquanto, com seus dois episódios de
retorno.
Como dizem por aí, é o inicio do
fim e não vou dizer que não está na hora. Está. Chegou até a passar do ponto,
mas acredito que essa sexta temporada vem para trazer a dignidade perdida.
Talvez eu tenha muita fé quando o assunto é Glee, mas prefiro pensar assim a
encarar os episódios finais com má vontade. Essa série mora no meu coração e
mesmo seus pontos mais baixos não me fazem amá-la menos. Foi difícil encarar os
péssimo episódios da Season 5, em especial, mas agora é hora de esquecer esse
recente passado vergonhoso e focar no que há de bom, tanto em Loser Like Me
quanto em Homecoming. Glee voltou. E dizer isso tem amplo significado.
Temos que perceber a metáfora. A
equipe de roteiristas, ciente dos problemas da série, apropriou-se de cada erro
cometido e colocou tudo nesses episódios numa espécie de mea culpa em que
Rachel representa Glee, como um todo. Pois é, amiguinhos. Existe complexidade
nessa “série teen idiota” como muitos devem julgar por aí e essa é a beleza da
série. Glee decaiu tremendamente. Não posso dizer se teria sido assim sem a
morte de Cory Monteith, mas desconfio que essa tragédia teve ligação direta com
a queda da qualidade, em todos os sentidos. Glee entrou em depressão.
Perdeu-se. Afundou de forma crítica e nos carregou para esse vortex de
tristeza.
Agora, observando com maior
distanciamento, é fácil enxergar que continuar tão rápido, naquela época, foi
um erro estratégico. Ninguém estava bem e assistir à série, mesmo em seus momentos
de humor, virou uma tarefa quase ingrata. A decisão de encurtar a Season 6 e
esperar até agora para recomeçar, no entanto, parece ter sido uma benção.
Depois desse respiro, Glee retorna forte e pronta para recorrer às origens. Precisou
atingir o fundo do poço, assim como Rachel, para encontrar um caminho melhor e
superar o desafio que é sair do ar deixando nos fãs uma lembrança boa e de
dever cumprido.
Para que o saldo fosse
positivo nesse retorno, Glee precisava acertar algumas arestas. Além de uma
história para contar, o que estava extremamente em falta nos episódios, outro
problema havia se instalado: a escolha do mix musical. Lembro de assistir a
temporada passada inteira sem ter realmente gostado de nenhuma apresentação.
Prova disso é que não lembro de NENHUMA performance bacana e o forte de Glee
era também nos fazer rever coreografias, clipes e escutar as canções depois dos
episódios.
Ao observar a setlist desses
dois episódios iniciais, fica claro que o problema foi identificado e está na
mira para ser resolvido. O que vimos e ouvimos foi uma seleção que consegue
misturar o emocional dramático e humorístico, temperado com coreografias
bacanas como nos bons tempos. Em ambos os episódios, as escolhas tiveram bons
resultados. Lea Michele volta a brilhar com simplicidade em Uninvited e
Suddenly Seymour. Cheguei a questionar um pouco o uso de Let it Go, mas compreendo
o momento e o significado, além da questão prática. Frozen continua rendendo e
a performance vai se reverter em uma graninha extra para a Fox. Os Warblers
estavam divertidos em Sing e o Vocal Adrenaline... Bom, Dance The Night Away
não teve alma.
Não dá para negar que os
novatos podem fazer a diferença quando o assunto é música nos episódios. Fiquei
absolutamente encantada com Roderick em seus momentos de acapella e na
apresentação de Mustang Sally. Jane também foi incrível com Tightrope e os
irmãos McCarty, embora menos talentosos, tem simpatia. O novo vilão (que não
vai ser vilão no final), Spencer, vem para agradar meninos e meninas, com seu
jeito escroto de ser.
Ainda no quesito performático,
dancei e cantei junto com o clássico Take on Me e seu videoclipe em Neon, com
estilo storyboard, como no original. Lembrou aqueles tempos áureos de Glee, com
os musicais bacanas e grandiosos no refeitório. E para completar minha alegria,
nossa amada Unholy Trinity vem sendo sexy (sexo vende, bitches) com a
acrobática Problem, onde Naya Rivera tem a chance de cantar música da rival
Ariana Grande. Muitas emoções, tanto na vida real dos artistas, quanto na
série. Home, por sua vez, encerra nossa sessão dupla de Glee com perfeição,
mostrando co que vem por aí em termos de tramas e conflitos. Sim, estou falando
da polêmica relação de Blaine e Karofsky. Se você passou esse tempo todo sem nenhum
spoiler, como eu, foi uma dessas surpresas bacanas. No fundo achei bem fofo
porque estava de saco muitooooo cheio da ladainha Klaine dos últimos dois anos.
Podemos dizer que Glee fez seu
retorno às origens. Pegou os perdedores que amamos e os levou de volta para
casa, se permitem a brincadeira com os títulos. Sim, porque as renovações no
elenco foram malvistas e também tiveram impacto. Pessoalmente, eu gostava dos
atores do novo New Directions, mas caímos na mesmice da “nova Rachel”, “novo
Finn”, “novo Puck” e “nova Quinn”. Britanny pontua isso bem ao chamar Kitty de
Quinn. Era a mesma – fucking – coisa, afinal e repetir plots foi também a
perdição da série.
Já que Nova Iorque também foi
um belo fiasco, o que vemos é o declínio de Rachel que, sem opção, volta apara
casa para encontrar ainda mais destruição. Ela perdeu tudo: Finn, a carreira,
os pais se divorciaram... E para fechar com estrelinha dourada, McKinley High
virou um pesadelo comandado por Sue Sylvester e seus cães de guarda. E aí
alguém vai dizer: “Mas Glee não foi sempre isso? Qual a graça?”. Glee sempre
foi isso e parece que a massa desse bolo desandou quando tentaram inovar a
receita. A tentativa de voltar ao que sempre deu certo, pelo aqui, deve ser bem
vista. Quando colocamos os dois episódios em perspectiva veem o quanto
funcionam bem e a crescente que representam.
Digo isso porque gostei mais
de Homecoming. É mais empolgante, mais divertido, mais tudo. Mas sem a
introdução das tramas de Loser Like Me não daria para ser. Passamos por todo o
processo com Rachel, as novidades de Blaine, Kurt e Mr. Schue e tudo recomeça
com aquelas tradicionais desculpinhas esfarrapadas de roteiro que sempre
chocam, tamanha a cretinice. Convenhamos: a solução para que o pessoal retorne
à escola é sempre furadíssima, mas ok. É Glee. Vamos levando.
Tudo o que Finn faria agora é papel de Rachel, a nova
mentora do New Directions que precisa ressurgir das cinzas, daquele jeitinho
que já conhecemos. O sucesso dessa temporada final depende apenas da medida
certa de loucura que vão aplicar, mas acho que se a coisa seguir como está,
teremos boas surpresas e encerramos nossa jornada com Glee cheios de amor no
coração e lembrando o que nos fez acompanhar essa história até agora.
P.S*Lembraram de trazer Tina de volta! E Becky! E Véia!
P.S* Será que Mercedes ainda é virgem?
P.S*Como transar com Michael Bolton e não se apaixonar?
Músicas nos
episódios:
Loser Like Me
"Uninvited"
- Alanis Morissette : Rachel
Berry
"Suddenly
Seymour" - Little Shop of Horrors: Blaine
Anderson and Rachel Berry
"Sing"
- Ed Sheeran: Dalton Academy Warblers and Blaine Anderson
"Dance
the Night Away" - Van Halen: Clint and Vocal Adrenaline
"Let
It Go" – Frozen: Rachel Berry
Homecoming
"Viva
Voce" - The Rocketboys: Roderick
"Take
On Me" - A-ha: New Directions alumni
"Tightrope"
- Janelle Monáe feat. Big Boi: Jane Hayward with Dalton Academy Warblers
"Problem"
- Ariana Grande feat. Iggy Azalea: Quinn Fabray, Brittany Pierce and Santana
Lopez with Artie Abrams and McKinley High Cheerios
"Mustang
Sally" - Wilson Pickett: Roderick with Quinn Fabray, Santana Lopez and
Brittany Pierce
"Home"
- Edward Sharpe and the Magnetic Zeros: New Directions alumni, Mason McCarthy,
Madison McCarthy, Jane Hayward, Roderick and Spencer Porter