Sobre ser quem realmente é.
Ao longo de seis anos de série,
Glee já debateu uma porção de assuntos polêmicos, a maioria deles ligados à
sexualidade ou ao senso comum do que é considerado normal ou aberração. Por
essa função social, sempre achei que a série era desafiadora, afinal, mesmo nos
dias de hoje ainda enfrentamos preconceitos, julgamentos rasos e ignorância.
Existe, ainda, uma grossa fatia de pessoas que se sente no direito de impor (ou
ao menos tentar impor) um modo de vida específico e que, geralmente, atende
apenas a seus próprios interesses.
A TV, portanto, ganha um papel
educador. Papel esse que Glee sempre desempenhou bem ao trazer para a tela
aquela opinião que (quase) todo mundo têm , mas não revela, ou aquela resistência
ao diferente que aparece mais constantemente e sem tanto pudor.
Todo esse discurso é para dizer
que sim, teve Alanis, teve Carole King, teve o blá, blá, blá de sempre, mas o
episódio dessa semana teve dois assuntos sensacionais, vividas por duas personagens
queridíssimas: Beiste e Becky.
Os “temas que incomodam” vieram,
como sempre, de forma rápida e rasteira, mas ajudam a colocar uma luz sobre o
que precisa ser dito. Beiste é um tipo de mulher que já sofreria com os
comentários maldosos naturalmente, por seu porte, por seu jeito de agir, por
sua profissão. Embora o tema da transgeneridade necessite de ainda mais espaço,
acredito que mostrar a coisa de forma sensível é o caminho. Beiste é alguém que
nos emociona pela sensibilidade e pela fragilidade que representa. Pelo seu
mundo de contrastes tão fortes e dessa vez ela não deixou por menos. Assumir
que seu corpo não condiz com o que você realmente é não pode ser fácil. A
transição pode demorar anos e anos, porque a aceitação de si mesmo se choca com
cada pequena regra que decidiram que devemos seguir. Beiste representa o medo e
a coragem ao mesmo tempo e continua sendo uma aparição de impacto na série.
Becky, por sua vez, personifica a
nossa ideia prematura de que ela é incapaz, ou anormal, ou infantil. Existe, de
fato, dificuldade em lidar com o fato de que ela é uma mulher como as demais,
porque a Síndrome de Down nos cega parcialmente. Podemos ver Becky e qualquer
um com a síndrome como crianças eternas, como crianças talentosas e com
incríveis capacidades intelectuais, mas não somos capazes de vê-la como,
simplesmente, a namorada de alguém. Mais uma vez, os diálogos foram direto ao
ponto para debulhar com essa ideia pré-concebida que existe em cada um de nós e
essa não é a primeira vez que Glee nos mostra que todo mundo, até mesmo eu e
você, caro leitor, podemos ter pensamentos completamente equivocados sobre
aqueles que nos cercam. É claro que a série faz isso mesclando drama e humor. E
as piadas nos ajudam a perceber o quanto o julgamento pode ser vão.
Por essas duas tramas, Glee já
fez valer a semana e todo o restante do episódio vem para balancear os assuntos
mais pesados. Honestamente, existe um tema da série que poderia ser esquecido e
engavetado e estou falando da ladainha chorosa de Kurt e Blaine. Não tenho mais
paciência para tanta babaquice desses personagens, pro junta-separa, pras
inseguranças bobas e para as brigas de casal mais sem graça do mundo. Parece
que estamos presos nessa relação com eles e, se não é para mudar e fazer
diferente, os roteiristas poderiam nos poupar de mais Klaine em lágrimas e
músicas depressivas. Não me levem a mal. Eu gostei da escolha e da
interpretação de It’s Too Late. Um clássico da dor de corno. O problema é ver
Kurt dando ataques de pelanca durante o episódio todo, por algo que vai se
resolver da forma mais óbvia daqui duas ou três semanas.
Os mash-ups com Alanis e Carole
foram bacanas, mas não sei se foram tão bem inseridos na edição. Senti um
probleminha também com a falsidade das performances. As músicas gravadas não
estavam em sinergia com o que estava na tela. Senti isso com Hand In MY Pocket/IFeel The
Earth Move, Will You Still Love Me Tomorrow/Head Over Feet e You Learn/You’ve
Got a Friend. A apresentação mais dentro da normalidade foi com Tina e
Quinn (ou seria Kitty?) em So Far Away.
Aliás, essas duas foram incríveis
ao aturar as grosserias de Becky (suuuuuper bitches). Santana, por sua vez,
esculachou Kurt como eu gostaria de fazer e me senti vingada, pelo menos em
parte, porque também tivemos a chatice da briga de poder pra ver quem caga mais
regra idiota para o novo New Directions. Rachel e Kurt definitivamente não são
essa dupla dinâmica incrível que Glee tenta mostrar. Os dois funcionam melhor
separados e longe da mesquinharia que insiste em grudar nos plots conjuntos.
Músicas no episódio:
It's Too Late - Carole King: Kurt Hummel & Blaine
Anderson
Hand in My Pocket/I Feel the Earth Move - Alanis Morissette/Carole King: Santana
Lopez & Brittany Pierce
Will You Still Love Me Tomorrow/Head Over Feet - The Shirelles/Alanis Morissette: Jane
Hayward & Mason McCarthy
So Far Away - Carole King: Quinn Fabray & Tina
Cohen-Chang
You Learn/You've Got a Friend - Alanis Morissette/Carole King: Rachel Berry, Santana Lopez, Brittany Pierce,
Quinn Fabray, Kurt Hummel, Noah Puckerman, Tina Cohen-Chang, Mason McCarthy,
Madison McCarthy, Jane Hayward e Roderick
P.S* Mais destaque para os novatos, por favor!