domingo, 26 de outubro de 2014

Grey's Anatomy 11x04x05: Only Mama Knows/ Bend and Break


Uma trama bem cosida.

Coser é uma arte que poucos roteiristas de TV dominam bem. Fazem um ou outro arremate interessante e satisfatório aqui ou ali, mas coser de verdade são poucos que conseguem. Com esse episódio de Grey’s Anatomy, fica provado que a equipe de escritores teve um trabalho vigoroso e cuidadoso. Escolheram cenas, diálogos e inseriram novos flashbacks para acrescentar mais pedacinhos na colcha de retalhos. Foi uma excelente costura do que é antigo com o que é novo, um exemplo de como utilizar a própria série para dar sentido aos acontecimentos.

Uma coisa, no entanto, precisa ficar clara. A história de Maggie nunca foi planejada. Não foi inserida desde o começo para que um dia, na décima primeira temporada, desse o ar da graça. É um baita engano pensar assim, mas a questão maior é que o fato de a história se encaixar bem, tendo sido pensada recentemente, é um mérito indiscutível. Existe a ideia de que se não é planejado desde o inicio não é bom ou é feito de qualquer jeito. Grey’s Anatomy prova o contrário. Assim como poucas séries já fizeram antes, soube se apropriar de si mesma e criar um enredo a partir de algumas falas de duplo sentido. Foi lindo de se ver. Um episódio de qualidade, como há muito estávamos esperando.

É preciso parabenizar a edição também. Extremamente cuidadosa e pontual, foi criando no público a ideia de que tudo aquilo estava ali desde sempre. Foi interessante ver como a doença de Ellis Grey acabou servindo como a desculpa perfeita para tudo. E como Meredith era pequena na época da gravidez da mãe, eis que um bloqueio psicológico explica tudo, conforme o caso da semana, com a garotinha e seu tumor gigante, veio mostrar.

Acredito que há tempos Ellen Pompeo não tinha uma chance real de protagonizar a própria série e, apesar das inúmeras tentativas, foi nesse episódio que ela voltou de verdade. Atuação ótima, sem exageros e sem arroubos emocionais atípicos. A relação de Meredith e Ellis em seus momentos mais dolorosos veio com tudo, mas agora ela está madura e sabe controlar e avaliar a própria vida, criando, inclusive, excelente paralelo em seu casamento com Derek.

As falas de Ellis, sobre mulheres dominando a sala cirúrgica, explica bem porque Grey’s tem um elenco feminino dominante e serve como uma homenagem às filhas, de certa forma. Além disso, percebemos o quanto essa iniciativa feminina pode impactar os relacionamentos e o modo como Richard desistiu de tudo é uma prova disso. Não acho que ele esteja certo ou errado, afinal, Ellis não era fácil e nunca contou a ele sobre a gravidez, mas nos mostra que ela estava disposta a recomeçar e que sua independência e destaque profissionais foram um empecilho para isso. Infelizmente, acontece e ela nunca pôde viver a vida que desejou e foi embora com a sensação de nunca ter acabado o que começou.

Percebam que, até agora, sequer citei o que mais permeou o episódio, mas não dá para deixar de lado. Acho que, realmente, houve acertos no modo como tudo foi tratado com parcimônia, sem tirar o brilho da história central. A resolução de Karev e sua neura por não ter sido eleito para o conselho foi pontual. Teve sim, a medida certa de drama e uma reação bastante humana da parte dele, afinal, Bailey é competente e tem o perfil para esse posto, mas Karev tem uma trajetória importante quando o assunto é amadurecimento profissional.

Depois de um episódio tão sólido quanto esse, seria natural que o seguinte não agradasse tanto. Mas de forma impressionante, Grey’s Anatomy consegue algo que há muito não se via e entrega uma sequência igualmente interessante, com outro foco e realizando um sonho já antigo dos fãs: o fim de Calzona.

“Bend and Break” é mais um episódio ótimo dessa Season 11 e acerta ao colocar Callie em destaque, ao lado de Meredith. Aliás, está aí uma coisa bacana a continuar desenvolvendo. A inusitada amizade entre essas duas pode ser uma dinâmica bem bacana, como conseguimos notar. As duas vivem momentos semelhantes, com grandes crises pessoais e, embora cada uma tenha um modo de lidar com isso, se ajudam e até trabalham muito bem juntas, como forma de escapar do drama familiar.

Confesso certo prazer em ver Arizona tomando uma bordoada atrás da outra. Sou Callie desde sempre e faz tempo que vejo Arizona como uma criatura egoísta. Verdade seja dita, há tempos que as personagens não funcionavam como casal e quando pensamos individualmente, apenas as histórias de Callie geravam empatia. Não sei como será daqui em diante, mas acho ótimo que essa libertação (para elas e para nós) tenha chegado. Mostra que a série e os roteiristas estão prontos para evoluir e sair da mesmice. Estamos caminhando aos poucos, mas estamos saindo dos ciclos viciosos que fizeram a qualidade de Grey’s Anatomy claudicar.

Talvez Arizona reconquiste um lugar afetuoso em nossos corações. Ela vai ser nossa nova “interna” e sofrer tanto quanto qualquer aprendiz em começo de carreira, pelo que pudemos notar das exigências feitas pela Drª Geena Davis (esqueço o nome da personagem e só lembro do da atriz). Callie, por sua vez, vai sorrir novamente, reencontrar-se e quem sabe, ter alguém que a ame e não a traia.

Mais uma vez, foi bom ver Karev se recolocando como médico e mostrando que tem competência para caminhar sozinho na pediatria. Sinto que existe a intenção clara de marcar bem esse três veteranos: Meredith, Callie e Karev como destaques da temporada. Até aqui, a tática está funcionando, mas não vamos esquecer que temos um bom elenco, pronto apara ganhar histórias de qualidade, que nos entretenham. Os ventos estão soprando a nosso favor com Grey’s Anatomy e espero que até o fim da temporada, tragam ainda melhores novidades.

P.S*Esse elenco precisa de mais personagens masculinos. Fica a dica pra equipe de Shondaland.

P.S*Muito bacana ver que não estão nos inundando com tudo ao mesmo tempo. Não precisamos ver as mesmas tramas em todos os episódios, então a mudança de foco e de personagens de destaque está sendo ótima.


P.S*Desculpem o atraso gigantesco com os textos de dois episódios tão bacanas! Compromissos de trabalho me impediram de ver antes e escrever sobre eles. Agora, voltamos à programação normal.
Comentários
2 Comentários

2 comentários:

João Paulo disse...

Adorei a review Camis, concordo com tudo que você disse, achei o 11x04 um dos melhores episódios da história de Grey's e isso é um ganho para um série que já está a onze temporadas no ar, realmente Meredith finalmente voltou a ser a protagonistas que nós conhecemos, espero que continuem o foco nela nesta temporada, tanto reconstruindo o relacionamento dela com marido, construindo um primeira relação com a nova irmã e explorando novas amizades.


O episódio seguinte como eu já havia dito foi meio que mais do mesmo prá mim, eu não sei sempre fiquei do lado da Arizona por diversos momentos, acho que a Callie sufoca ela demais, mas devo concordar contigo que Arizona é egoísta em alguns aspectos. O episódio enganou bastante, pensei em que seria a primeira a dizer que o relacionamento tinha acabado, mas o que importa mesmo é que acabou, não aguentava mais essa lenga lenga.

Pati Melo disse...

Greys voltando as suas origens e sambando muito nas nossas cara, honestamente eu nunca pensei que depois de 11 temporadas Greys ainda seria capaz de agradar tanto. Extremamente feliz com essa volta por cima da série só espero que os bons ventos continuem e que Shonda não destrua mais uma vez minhas ilusões com a série.