Uma trama bem cosida.
Coser é uma arte que poucos
roteiristas de TV dominam bem. Fazem um ou outro arremate interessante e
satisfatório aqui ou ali, mas coser de verdade são poucos que conseguem. Com
esse episódio de Grey’s Anatomy, fica provado que a equipe de escritores teve
um trabalho vigoroso e cuidadoso. Escolheram cenas, diálogos e inseriram novos
flashbacks para acrescentar mais pedacinhos na colcha de retalhos. Foi uma
excelente costura do que é antigo com o que é novo, um exemplo de como utilizar
a própria série para dar sentido aos acontecimentos.
Uma coisa, no entanto, precisa
ficar clara. A história de Maggie nunca foi planejada. Não foi inserida desde o
começo para que um dia, na décima primeira temporada, desse o ar da graça. É um
baita engano pensar assim, mas a questão maior é que o fato de a história se
encaixar bem, tendo sido pensada recentemente, é um mérito indiscutível. Existe
a ideia de que se não é planejado desde o inicio não é bom ou é feito de
qualquer jeito. Grey’s Anatomy prova o contrário. Assim como poucas séries já
fizeram antes, soube se apropriar de si mesma e criar um enredo a partir de
algumas falas de duplo sentido. Foi lindo de se ver. Um episódio de qualidade,
como há muito estávamos esperando.
É preciso parabenizar a edição
também. Extremamente cuidadosa e pontual, foi criando no público a ideia de que
tudo aquilo estava ali desde sempre. Foi interessante ver como a doença de
Ellis Grey acabou servindo como a desculpa perfeita para tudo. E como Meredith
era pequena na época da gravidez da mãe, eis que um bloqueio psicológico
explica tudo, conforme o caso da semana, com a garotinha e seu tumor gigante,
veio mostrar.
Acredito que há tempos Ellen
Pompeo não tinha uma chance real de protagonizar a própria série e, apesar das
inúmeras tentativas, foi nesse episódio que ela voltou de verdade. Atuação
ótima, sem exageros e sem arroubos emocionais atípicos. A relação de Meredith e
Ellis em seus momentos mais dolorosos veio com tudo, mas agora ela está madura
e sabe controlar e avaliar a própria vida, criando, inclusive, excelente
paralelo em seu casamento com Derek.
As falas de Ellis, sobre mulheres
dominando a sala cirúrgica, explica bem porque Grey’s tem um elenco feminino
dominante e serve como uma homenagem às filhas, de certa forma. Além disso,
percebemos o quanto essa iniciativa feminina pode impactar os relacionamentos e
o modo como Richard desistiu de tudo é uma prova disso. Não acho que ele esteja
certo ou errado, afinal, Ellis não era fácil e nunca contou a ele sobre a
gravidez, mas nos mostra que ela estava disposta a recomeçar e que sua
independência e destaque profissionais foram um empecilho para isso.
Infelizmente, acontece e ela nunca pôde viver a vida que desejou e foi embora
com a sensação de nunca ter acabado o que começou.
Percebam que, até agora, sequer
citei o que mais permeou o episódio, mas não dá para deixar de lado. Acho que,
realmente, houve acertos no modo como tudo foi tratado com parcimônia, sem
tirar o brilho da história central. A resolução de Karev e sua neura por não ter
sido eleito para o conselho foi pontual. Teve sim, a medida certa de drama e
uma reação bastante humana da parte dele, afinal, Bailey é competente e tem o
perfil para esse posto, mas Karev tem uma trajetória importante quando o
assunto é amadurecimento profissional.
Depois de um episódio tão sólido
quanto esse, seria natural que o seguinte não agradasse tanto. Mas de forma
impressionante, Grey’s Anatomy consegue algo que há muito não se via e entrega
uma sequência igualmente interessante, com outro foco e realizando um sonho já
antigo dos fãs: o fim de Calzona.
“Bend and Break” é mais um
episódio ótimo dessa Season 11 e acerta ao colocar Callie em destaque, ao lado
de Meredith. Aliás, está aí uma coisa bacana a continuar desenvolvendo. A
inusitada amizade entre essas duas pode ser uma dinâmica bem bacana, como
conseguimos notar. As duas vivem momentos semelhantes, com grandes crises
pessoais e, embora cada uma tenha um modo de lidar com isso, se ajudam e até
trabalham muito bem juntas, como forma de escapar do drama familiar.
Confesso certo prazer em ver
Arizona tomando uma bordoada atrás da outra. Sou Callie desde sempre e faz
tempo que vejo Arizona como uma criatura egoísta. Verdade seja dita, há tempos
que as personagens não funcionavam como casal e quando pensamos
individualmente, apenas as histórias de Callie geravam empatia. Não sei como
será daqui em diante, mas acho ótimo que essa libertação (para elas e para nós)
tenha chegado. Mostra que a série e os roteiristas estão prontos para evoluir e
sair da mesmice. Estamos caminhando aos poucos, mas estamos saindo dos ciclos
viciosos que fizeram a qualidade de Grey’s Anatomy claudicar.
Talvez Arizona reconquiste um
lugar afetuoso em nossos corações. Ela vai ser nossa nova “interna” e sofrer
tanto quanto qualquer aprendiz em começo de carreira, pelo que pudemos notar
das exigências feitas pela Drª Geena Davis (esqueço o nome da personagem e só
lembro do da atriz). Callie, por sua vez, vai sorrir novamente, reencontrar-se
e quem sabe, ter alguém que a ame e não a traia.
Mais uma vez, foi bom ver Karev
se recolocando como médico e mostrando que tem competência para caminhar
sozinho na pediatria. Sinto que existe a intenção clara de marcar bem esse três
veteranos: Meredith, Callie e Karev como destaques da temporada. Até aqui, a
tática está funcionando, mas não vamos esquecer que temos um bom elenco, pronto
apara ganhar histórias de qualidade, que nos entretenham. Os ventos estão
soprando a nosso favor com Grey’s Anatomy e espero que até o fim da temporada, tragam
ainda melhores novidades.
P.S*Esse elenco precisa de mais
personagens masculinos. Fica a dica pra equipe de Shondaland.
P.S*Muito bacana ver que não
estão nos inundando com tudo ao mesmo tempo. Não precisamos ver as mesmas tramas
em todos os episódios, então a mudança de foco e de personagens de destaque
está sendo ótima.
P.S*Desculpem o atraso gigantesco
com os textos de dois episódios tão bacanas! Compromissos de trabalho me
impediram de ver antes e escrever sobre eles. Agora, voltamos à programação
normal.