Mães e seus sonhos inalcançáveis.
Ainda estou sob o efeito
devastador desse final de temporada em Sons Of Anarchy. Para mim, a melhor
série no ar atualmente, humilhando qualquer outra que tenha mais audiência ou
que seja mais comentada nas rodinhas sociais. De fato, essa série não é para
qualquer um e, se você chegou até aqui, você é forte e tem estômago, porque não
é nada fácil assistir o desenrolar das diversas tramas e ver a explosão de
violência.
Essa temporada, especialmente,
desponta nesse sentido.
SOA sempre teve cenas fortes, mas confesso ter chorado
abertamente por saber, na verdade, apenas por imaginar o que poderia acontecer.
A antecipação é sempre terrível e o resultado é uma série envolvente e
angustiante. Esse sexto ano foi brilhante, perfeito. Kurt Sutter estava mais
ousado do que nunca e mostrou que não tem medo de sair do lugar comum, que não
tem medo de arriscar tudo e colocar todas as cartas na mesa. Esse é um
roteirista grandioso justamente por seu “instinto suicida” se é que podemos
colocar assim.
Desde a morte de Opie eu
soube que a coisa não ficaria mais fácil e que o triunfo de Jax teria um preço,
além de um longo e árduo caminho a percorrer.
Foi exatamente isso o que vimos.
O preço era alto e todos os centavos foram cobrados para que chegássemos até
esses dois episódios finais que são estarrecedores. A morte de Clay era apenas
uma das coisas mais leves programadas para a temporada que nos deixa em meio a
ponto cego, sem rumo e sem a menor noção do que a sétima – e provavelmente
última – temporada nos reserva. Podemos especular, mas como sempre, acertar
será uma questão distante e improvável.
O grande destaque do ano é Tara.
Ela cresceu como personagem de maneira espantosa e teve momentos incríveis em
que nos passou seu desespero de mãe, seu medo de ver os filhos emboscados e com
um futuro nebuloso. Tara dedicou seu tempo a lutar contra moinhos de vento,
embora os monstros e terrores dos quais ela queria fugir fossem bastante reais.
Ela teve um luta utópica contra o destino e acabou encontrando em para si
mesma, quando a batalha estava praticamente ganha.
Ela foi corajosa ao dar o golpe
usando Bobby e ao fugir com Abel e Thomas, fazendo de si mesma um alvo para o
clube e a polícia. No final das contas ela não queria comprometer Jax e os
SONS, porque de uma maneira louca havia muito amor ali. A conversa no parque foi
belíssima. Um momento desses em que fica claro que há sentimentos
inexplicáveis. Jax não poderia dizer que deixaria seu clube, mas provou
lealdade ao se sacrificar para que Tara e o clube saíssem ilesos dessa. Mas o
karma, como bem aponta Nero, volta para pegar o que lhe é direito. Estava fácil
demais, convenhamos. E Sons Of Anarchy não trabalha com finais felizes.
O que Gemma faz é de uma
estupidez sem tamanho, mas mesmo aqui temos outra mãe querendo proteger seu
filho. É isso que a define. A leoa protegendo a ninhada de modo nada ortodoxo.
E eu fiquei paralisada assistindo-a assassinar Tara daquele modo. Paralisada de
pavor e de lágrimas, porque esse episódio me fez chorar como poucos. Quando
acabou, foi a vez de Juice dar cabo em Eli, mas a essa altura eu já estava
anestesiada. Fiquei pensando em como tudo se encaixa de maneira cruel nessa
história e que, teoricamente falando, Abel e Thomas perderam a mãe, o pai e a avó.
Claro que estamos falando em termos de lógica e imagino que o acordo com a
promotoria esteja acabado para Jax, o que veremos apenas no próximo ano. No
entanto, é óbvio que ele saberá que foi Gemma a responsável pela morte de Tara
e não dá para saber o que sairá dessa mágoa. Aliás, sei apenas que Jax vai se
sentir culpado. O direcionamento desse sentimento é que nos guiará até o final
da série.
Já na parte política, vemos Nero
escolhendo novos aliados. A fase da lua de mel acabou e ele não se permite mais
estar ao lado de Gemma, pois isso o enfraquecia no acordo com Jax e o
clube. Foi uma boa sacada trazerem de
volta os Mayans à jogada, já que eles sempre foram rivais dos SOA no início e
sempre tiveram uma dose de ganância que levava a diversos erros. Engraçado
enxergar o clube como a balança entre os lados, mas era exatamente assim que
funcionava, até que Jax quis, assim como Tara e Gemma, um futuro melhor para
seu filho.
Não quero dizer que ele é mãe do
clube, mas é praticamente isso. E ele age exatamente como as mulheres de sua
vida quando o assunto é proteger essa criança. Ele se sacrifica, ele age apenas
em prol do clube. E a saída do negócio das armas é apenas isso, pura e
simplesmente. Mas sempre há mais interesses em jogo e outras mães querendo proteger
seus respectivos filhos, e o resultado é uma guerra que nunca acaba e que tem
mais óbitos do que sucessos.
Um momento marcante é a passagem
de poder para as mãos de Bobby, que deve manter Chibs a seu lado para continuar
reerguendo o clube. Quero saber como fica essa ordem das coisas depois dos acontecimentos
que fecham o episódio. Juice, mais uma vez fica com a corda no pescoço e ele
vem flertando com a morte há algum tempo, seja por ímpetos suicidas ou por ser
alvo dos colegas. Parece que a maluca do carrinho de bebê pode acabar tendo um
papel importante nesse sentido, mas ficarei surpresa se Juice continuar
escapando como vem fazendo. Nem mesmo Clay pode escapar.
A única coisa que me incomoda de
verdade é a presença de Wendy. Tenho uma raiva natural da personagem e, muito
embora eu reconheça o papel dela nessa temporada, não gostaria de vê-la
assumindo os meninos. E também não acho que Gemma seja indicada, então vou
pagar para ver o que acontece em seguida. Mais uma vez, vemos Unser chegar ao
final de uma temporada intacto, mesmo doente e definhando pelo câncer. Sempre
acho que o clube vai acabar e ele será a pessoa apagando a luz e fechando a
porta, o último a sair, literalmente. Por enquanto, nós também podemos sair e
apagar as luzes, pelo menos até a próxima temporada chegar. Acho que precisarei
desses meses todos para me recuperar do poder devastador de Sons Of Anarchy.