Orphan Black, versão masculina.
Já sob perigo de cancelamento,
Almost Human está se tornando mais um exemplo de que série bem produzidas de
ficção cientifica não tem lugar na grade televisiva, por não segurarem
audiências monstruosas como algumas comédias de 20 minutos fazem com
facilidade. Nesse caso, creio que seja
uma questão de prestar atenção à série, já que as sacadas de roteiro de AH tem
desencadeado boas risadas, mais até do que a maioria esmagadora das séries
cômicas conseguem arrancar de mim.
Por outro lado, sou capaz de
entender um pouco dessa luta com o público. Apesar dos cinco episódios serem
sólidos, bem escritos e bacanas de assistir, caímos no velho problema do
procedural. Almost Human está se dedicando a criar uma personalidade e, embora
eu aprecie o estilo “take your time”, a
indústria não trabalha dessa maneira e os telespectadores querem as histórias
mostradas de forma mais ágil e mais fácil de digerir.
Mesmo eu, que estou gostando
bastante de Almost Human, admito que os episódios vêm e vão e não pegamos ainda
o “X” da questão. A proposta é excelente e creio que a história tenha o tom
certo, mas as pessoas querem mais compreensão e menos enrolação, para falar no
português claro. É por causa desse tipo de abordagem que a ficção cientifica de
qualidade está morrendo, pois ainda não se encontrou uma fórmula que junte as
necessidades de desenvolvimento das séries desse filão com as vontades do
público e dos executivos de TV.
Enquanto essa questão prática
fica à deriva, o episódio dessa semana propõe ideias filosóficas, que misturam
tecnologia e misticismo, ao trazer para o foco a médium vidente (às vezes
petit) que, após passar por um processo de ativação cerebral tem a capacidade
de se comunicar com os mortos. Como fica bastante claro que a moça não é
charlatã e que existe um “além-vida” onde os espíritos das pessoas estão, a questão
é muito boa. Especialmente quando pensamos que o aumento da sensibilidade
sensorial da moça, por meio de tecnologia (ainda que não aprovada) abriu as
portas para esse novo mundo que acaba com dúvidas essenciais da humanidade.
A maior qualidade nisso tudo foi
não envolver nenhum viés religioso, embora muitos personagens, como Kennex,
duvidassem da possibilidade de comunicação com os que já não possuem um corpo
físico. Em nenhum momento a série debate se isso é certo ou errado, apenas lida
com a questão da fé (no sentido de ter fé no que estava acontecendo com a
médium vidente) e mistura com a ciência, o que sempre parece confuso ou
inapropriado, mas nesse caso, não foi.
Depois, AH fala sobre clonagem e
deixa claro que nem no futuro isso será aceito, mesmo com chances totais de
sucesso. Uma pena que esses clones todos acabaram eliminados e nem podem fazer
figuração/par romântico com as personagens de Tatiana Maslany em Orphan Black.
O caso de Ethan foi muito interessante,
especialmente pelo desafio que trouxe para Maldonado, que ouve desaforos e até
verdades dolorosas, mas não perde o foco e aguarda o momento certo de agir e
mostrar que meia dúzia de “Ethans” não são mais espertos do que uma Maldonado. O
ego, como vimos, pode ser um fator terrível e atrapalhar completamente os
planos de qualquer um.
Detetive Stahl meio que continua
em sua pose de donzela em perigo e confesso certa irritação com a estupidez dela
na averiguação daquela casa. Até nossa vidente maluquinha foi mais esperta e
pulou a janela após ouvir os estampidos de bala seguidos de corpo se estatelando
no chão. E ela erra desde o principio, pois o lance das duplas de trabalho na
força policial é, justamente, para que nunca haja um profissional sozinho
nesses casos, mas Stahl decide que é legal dividir a equipe e manda as regras às
favas. Talvez tenha sido um estratagema sedutor para chamar a atenção de
Kennex.
Aliás, quem chama muito a atenção
de Kennex é Dorian e o bromance rola solto. Primeiro, Kennex se irrita com os
atrasos de Dorian e vai checá-lo no vestiário. Depois de ficar estarrecido com
o formato “Ken” dos robôs, ele obviamente só pensa nisso: “Dorian não tem pinto”.
E Kennex só sossega depois de ver o “pacote” de seu amigo e companheiro de ação
e de poder confirmar que Dorian é superdotado também nessa “área do
conhecimento”. A conversa que se segue sobre a média de utilização desse
equipamento também parece muito útil e necessária para que as questões
propostas para o episódio façam todo sentido.