Um vilão que todos devem
temer.
Depois de gerar frisson com sua
primeira temporada, eis que Once Upon a Time encerra seu segundo ano empolgando
muito menos. Ainda existe uma sólida base de fãs, mas o amor não é mais
incondicional e expectativas são menores e contidas. Foi uma temporada muito
instável e extremamente repetitiva, pelo menos a partir de seu quinto episódio.
Houve momentos bons e criativos,
é claro, mas em menor quantidade. E aqui não estamos falando só de quantidade,
mas também de qualidade. Once Upon a Time teve uma queda bastante significativa
na qualidade de roteiro e tem investido, cada vez mais, em saídas de confortáveis
e que nem sempre condizem com a mitologia que a série introduziu durante sua
temporada inicial.
Com um miolo cheio de episódios
ruins e que acrescentaram quase nada de novidade, rodeando em torno de assuntos
já tratados, OUAT conseguiu se firmar nessa reta final, ao introduzir a figura
de Peter Pan e sua história. Era algo que os fãs desejavam e que vem com sabor
diferente do tradicional. Além de fazer uma ótima ligação com Baelfire (e agora
Henry), Peter não é mais um aventureiro divertido, mas uma figura sinistra.
Acho que a sombra mostrada no penúltimo episódio foi realmente uma excelente jogada,
assim como a introdução de quem seria esse vilão que até Rumples teme
enfrentar.
Esse novo inimigo quer alguma
coisa com Henry e obviamente, só entenderemos mais sobre isso na 3ª temporada.
É um cliffhanger interessante, mas no qual eu só confiarei de ver executado.
Via tanto potencial nas propostas da Season 2 ( e me decepcionei com quase
tudo) que agora é preciso alguma cautela antes de acharmos que algum assunto
será bem aproveitado na série.
Ficamos, então, com três frentes
distintas: uma em Neverland, com Hook, Regina, Rumples e a família Charming
buscando por Henry, outra com Storybrooke sitiada (ou melhor, escondida) e a
última em ‘Far Far Away’, com Neal sendo encontrado por Aurora, Mulan e Philip.
De fato, só a primeira me parece bacana, mas quem sabe? Talvez Mulan e Aurora
não sejam tão insuportáveis com Neal e Philip por perto. Storybrooke, que já
estará desfalcada de Ruby, pelo menos, não deve render muito com Belle e outros
personagens menores e sem tanta importância no quadro geral.
Mas se o finalzinho do episódio
deixa coisas para a gente pensar, o resto do episódio (à parte dos flashbacks
de Hook e Bael), é de um marasmo e de uma falta de emoção chocantes. O
desenvolvimento da destruição sumária de Storybrooke é patético em níveis extremos
e ninguém comprou a história de que Regina morreria ao atrasar a progressão da
coisa toda.
A solução sai do nada,
simplesmente, porque a ideia de Henry não chega a funcionar pela falta do
feijão mágico roubado por Hook, então vemos Emma fazer dupla de magia com
Regina, porque aparentemente era a coisa mais óbvia. E se era, porque não foi
assim desde o inicio? Não faz sentido, porque Regina avisa logo que não dá
conta daquilo sozinha, mas Emma sai para fazer suas coisas e reunir a cidade (a
troco de nada também), enquanto a outra segura o rojão. Além disso, a
destruição do dispositivo foi tão fácil, que me fez questionar ainda mais o
poder atribuído a ele.
Mas a incongruência não fica por
aí, porque de acordo com Greg e Tamara a missão de verdade era sequestrar
Henry. Tudo bem, eles podem ter recebido instruções de última hora, mas é
apenas estranho que duas pessoas que odeiam tanto magia se utilizem dela o
tempo todo para se safar e até viajar entre dimensões. E o pior: sem notar que
estão sendo usados.
Outra coisa insuportável é a
“cura” para Belle. Quer dizer que do nada surge a solução, pelas mãos da fada
azul (e com fio de cabelo de Pinóquio) e que Rumples não queria acordar sua
amada para morrer? Não entendi essa, porque seja como Belle ou com Lacey, ela
seria destruída.
O mesmo vale para o anão Atchim
que não se lembra de sua família e não queria lembrar se fosse pra morrer cinco
minutos depois. Essa cura milagrosa é mais um exemplo de solução confortável,
criada pouco antes de o episódio começar, porque só isso justifica ser tão mal
elaborada. Na mesma toada, Rumples não vai levar o troféu de pai do ano, porque
sua reação para a possível morte de Neal é péssima, fria e forçada. Um homem
que passou centenas de anos tentando se redimir com o filho jamais reagiria assim.
Pelo lado bom, temos a relação
estabelecida entre Hook e Bael. Como Rumples já pontuou outras vezes, não
existem coincidências, logo, essa ligação emocional de Hook com o filho de
Milah, a mulher de sua vida, vem para criar essa colaboração. Ainda mais quando
pensamos que os garotos perdidos já tinham uma ilustração e Henry, antes mesmo
dele nascer e que sabemos disso no momento em Bael (futuro papi de Henry) é
entregue ao grupo.
A ideia em volta disso parece boa
e dá até a impressão de que os roteiristas sabem para onde vai a história daqui
em diante, mas até aí, essa sensação também esteve presente na excelente Season
Finale da 1ª temporada.
O que realmente precisa acontecer
para que Once Upon a Time volte a ser a série mágica de antes (sim, com direito
a trocadilho), é uma revisão, por parte dos produtores, descartando tudo que é
repeteco, além de um corte brutal na enrolação.
O grande lance da série era a novidade, o modo
como cada história e cada personagem sempre teve um twist bacana, mas vimos
muito mais do mesmo nessa temporada, com a insistência em reafirmar as relações
entre os principais personagens à exaustão. Prova maior de que é disso que a série precisa
está no fato de foi só com a entrada de Peter Pan que as pessoas começaram a
sentir uma ponta de empolgação novamente.
Lembro-me da loucura em torno de
Once Upon a Time. Do modo como as pessoas (inclusive eu) falavam dela com
carinho e admiração e, podem notar, o encanto se perdeu. Tanto que o “blá blá
blá” em torno da série e dos episódios hoje é infinitamente menor do que era
antes do inicio dessa temporada. Há arestas para aparar, mas ainda é tempo.
Muitas produções duradouras e boas já tiveram seus períodos negros e conseguiram
se firmar e recuperar a qualidade perdida. Acontece. É normal. Essa é a grande
responsabilidade da 3ª temporada de Once Upon a Time.