Ofendendo a nação vietnamita. E os gays. E os velhos. E os
negros...
O episódio de Modern Family dessa semana resolveu homenagear
presente, passado e futuro, falando de origens, de cultura e de velhas rixas
que o tempo não apaga. Foi assim que tivemos um festival de surtos em todos os
núcleos e divisões de personagens, o que garantiu a dose de risadas e 20
minutos bastante divertidos.
Tenho gostado muito do trabalho da pequena Lily e imagino se
a atriz é tão nojentinha na vida real ou se ela incorpora bem essa
personalidade ácida e surpreendente. Ela é o tipo de criança que assusta
qualquer adulto porque diz o que pensa e tem boas justificativas para tudo,
embora nesse caso, não seja porque Lily é um prodígio ou madura demais (quase como
um adulto mirim). Com Lily o lance é a personalidade forte, então, quando ela
repete “Sou gay”, fica aquela dúvida: Será que ela é mesmo? Ou será só um conceito
infantil cheio de fofura?
Lily, afinal, é gay porque quer seguir o modelo de seus pais
e sente-se completamente integrada nessa “família moderna” por assim dizer. A
ideia dela de nacionalidade é um equívoco adocicado e até pela idade,
complicado de explicar num sentido amplo. Lily compreendeu o conceito e o
aplicou de um jeitinho próprio, o que gera comentários dúbios e imbuídos de
preconceitos por parte de Mitchell, principalmente.
A brincadeira com todas as perguntas e afirmações mais
odiadas por homossexuais de todo o mundo foi pontual, mas sobrou para velhos,
negros, vietnamitas... A verdade é que com mais dois minutos de tela, essa
sequência teria ofendido pelo menos mais uns cinquenta grupos diferentes, mas
acho que a mensagem principal é a de que, às vezes, é preciso encarar esse tipo
de formulação de frases infeliz como total “falta de expressão melhor”. Pelo menos
no caso desses diálogos de Modern Family, tudo não passou de má colocação,
embora saibamos que há quem fale essas coisas a sério.
No meio disso tudo, Gloria chora pela cultura colombiana e
teme por seus filhos não saberem espanhol fluente ou manterem as tradições.
Fulgencio foi esquecido em algum canto do cenário, enquanto Gloria tentava
ajudar com Lily e Jay levava Manny para conhecer a escola dos meninos ricos. O
show de recalque de Jay foi muito bom e as cenas dele com Manny têm rendido
muito bem e valorizado a relação pai/filho que antes não era tão próxima.
Mas é claro que, num episódio com título que remete aos
Dunphy, essa família seria o destaque. Cada um deles. Sem deixar nenhum de
fora. Incríveis as reações de Phil e Claire ao vislumbrar as possibilidades de futuro
para Alex, Hayley e Luke e, mais ainda, ao ver o efeito que suas atitudes como
pais causariam na vida adulta dos três.
Os irmãos, é claro, mostram que o fruto não cai longe da árvore
e, assim como os pais, variam de comportamento em extremos. Vão da preocupação
com a mãe à revolta total pelo modo como Phil e Claire descontam suas
maluquices em cima deles.
A escolha dos atores para viver a perspectiva dos Dunphy foi
ótima, é preciso dizer. Fiquei imaginando Luke na condicional, Hayley vivendo
de pensão alimentícia e Alex sendo comida por gatos. Lógico que não desejo esse
futuro a nenhum deles, mas foi engraçado do mesmo jeito. Aliás, eu sei que nem
preciso torcer muito pelos três pequenos Dunphys, porque eles serão todos
ricos. A invenção da panqueca que vira sozinha na chapa é uma invenção
maravilhosa e valiosa, que deve garantir o futuro de pelo menos mais três ou
quatro gerações.