Entrando para a história da TV.
O público de Switched at Birth
acaba de participar de um marco na história da TV. Você, eu e todo mundo que
assistiu ao episódio dessa semana. Como? Fomos nós as pessoas com o privilégio
de ver algo inédito, porque SaB apresentou o primeiro episódio de série
totalmente em língua de sinais. É uma iniciativa admirável e ousada e que pode
ser chocante, num primeiro momento. Mesmo para quem já acompanha a série e se
acostumou com “diálogos mudos” é muito diferente quando colocamos esse recurso
em 40 minutos quase que inteiros.
Tirando a cena inicial e a final,
todo o episódio é delineado pela ASL (American Sign Language), com entradas
pontuais da trilha sonora. De início, achei que deveriam ter retirado também as
músicas, que afinal, ajudam a dar o clima de cada cena e situação, mas achei o
contraponto interessante. Como Switched at Birth não é uma série que usa trilha
muito intensa, foi possível admirar as diferenças entre os momentos em que
havia total silêncio e contávamos apenas com as legendas.
Aproveitando o arco do fechamento
de Carlton, a série apresenta sua proposta de colocar o público no lugar de
quem tem deficiência auditiva. Talvez eu seja muito boba, mas já estava com
lágrimas nos olhos quando Daphne desliga seu aparelho e tudo começa calmo e
quieto. Não sei bem porque isso aconteceu. Talvez por saber que hoje em dia é
muito difícil ver algo tão diferente e que seja, de fato, uma inovação no mundo
televisivo. Foi quase como se ver esse episódio fosse um privilégio. E não
deixa de ser, porque SaB não é uma produção de público amplo e, apesar de o
episódio estar ai para todo mundo conferir, duvido que fãs de séries em geral,
que nunca acompanharam essa trama, tomem a iniciativa de assistir “Uprising” só
pelo que ele representa.
Muito além da vontade de gerar
consciência a respeito das diferenças e dos direitos daqueles que, por qualquer
motivo, não tem a capacidade de ouvir, esse também é um bom episódio pelo conteúdo
e pela ação. Switched at Birth estava precisando de uma injeção de ânimo e,
embora não seja possível fazer um episódio-evento toda semana, acho que é
possível manter as coisas mais interessantes daqui em diante. E vai haver tempo
para aparar quaisquer arestas, já que a partir da próxima semana, a série entra
em hiatus e só deve retornar durante a Summer Season.
É importante lembrar que o
roteiro soube aproveitar bem a situação em Carlton, traçando um comparativo
histórico com o que aconteceu de verdade na Universidade Galladeut (inclusive,
a instituição aproveitou o episódio para comprar os espaços publicitários dos
intervalos). Foi interessante ver o debate educacional (e territorial), os
preconceitos todos colocados em destaque e as diversas reações, de pais,
professores, alunos, surdos ou ouvintes. A questão dos pontos de vista foi
muito bem colocada e expôs variadas nuances do problema, por meio de diálogos
diretos e simples entre os personagens. Até mesmo a falta de uma opinião estava
expressando algo importante, basta pegar o exemplo de Daphne, que preferia se
manter distante da discussão entre Travis e Bay. Ele querendo que a escola
fosse apenas para alunos surdos e Bay pregando que a inclusão de ouvintes era
algo a ser considerado.
Marlee Matlin, que interpreta Melody,
tem um papel fundamental nisso tudo, servindo como uma espécie de exemplo para
os alunos. Ela mesma é, provavelmente, a atriz com deficiência auditiva mais
conhecida e, embora não tenha o papel mais importante na série, nesse episódio
foi utilizada como uma espécie de ícone.
Foi legal ver que não esqueceram
as amenidades, as pequenas conquistas e as discussões sobre o protesto em si,
que é claro, tinha grandes tendências de virar uma festa. Também não esqueceram
do alcoolismo de Regina (naquela mensagem providencial de Daphne) e dos
momentos românticos. Pois é. Noah passou a cantada mais furada do mundo em
Daphne, que não se fez de rogada e aproveitou para “treinar a cena do beijo”
com seu Romeu. E nessa, Bay é traída novamente, sob os olhos atentos de Emmett
que está numa posição bizarra. Como chamar a atenção da melhor amiga se ele
mesmo já cometeu o mesmo erro? Vamos ver onde isso vai parar, mas espero que
seja no retorno mais que esperado de E-Bay.
Depois de tudo isso, resta apenas
bater uma salva de palmas (ou aplaudir em sinais!) para o que SaB fez essa
semana. Um episódio bonito, marcante e integrado à temporada, mas acima de
tudo, um episódio que promove uma experiência interativa como poucas vezes os
telespectadores puderam vivenciar.