Monty Python
Meets Beyond The Fringe.
Boquiaberta.
Foi assim que eu fiquei durante a grande viagem de ácido proporcionada por esse
episódio de Fringe. Lógico que não foi a primeira vez que isso me aconteceu
enquanto assistia a um episódio, mas ainda assim, fico sempre com a impressão
de nunca aconteceu antes.
Não
gosto muito de começar os comentários pelo meio, mas abri uma exceção, porque
uma sequência feita para louvar o trabalho do grupo de humor britânico Monty
Python merece atenção. E o melhor é que, mesmo quem não pegou a referência
ficou maravilhado com o que viu ali. Mas não apenas naquele momento. Esse
episódio de Fringe é uma dessas peças televisas que merecem ser guardadas como
relíquia, porque o que foi apresentado foi “apenas” um incrível show de
atuação, efeitos especiais, roteiro e utilização da mitologia. Segurem-se. Faltam
apenas quatro episódios, e se conseguirem manter o nível e a crescente de
emoções que foi construída até aqui, a coisa promete ser uma experiência
inesquecível. Está difícil manter as expectativas baixas depois dessa semana.
O
que impressiona nesse episódio, além de todo o apuro visual que já havíamos
visto em outras ocasiões e que experimentamos toda semana, na verdade, é a simplicidade.
Pegaram um assunto sem qualquer complexidade aparente e que, em teoria, seria
apenas mais uma etapa na missão de juntar as partes do plano final para derrotar
os Observadores e transformaram em quarenta minutos alucinógenos. Isso é
precioso. Um personagem toma ácido e nós viajamos com ele. Quantas séries
proporcionam essa sensação? Não conheço nenhuma outra.
Além
do mais, o roteiro foi de uma amarração precisa, unindo elementos, fatos e
personagens de todas as temporadas. A produção de Fringe é extremamente atenta
a detalhes e, por isso, quem ficou de olho aberto, conseguiu pegar algumas
referências bacanas, além das bastante óbvias e didaticamente explicadas.
Achei
boa a lembrança sobre as timelines e sobre o fato de que apenas Peter e Olivia
(e nós, telespectadores) conhecem a história na íntegra. É fácil esquecer as
consequências geradas pela Máquina do Apocalipse, especialmente porque a
relação entre Peter e Walter meio que voltou a ser a mesma de sempre, de forma
gradual, e esse ficou sendo o ponto principal de diferenciação, depois que
Olivia se lembrou de tudo.
Outra
coisa ótima foi a aparição de Carla Warren, a assistente de Walter em seus áureos
tempo de ‘brincar de Deus’. A morte de Carla é o que leva Walter para o
sanatório (pelo menos essa é a primeira justificativa dada na série) e ela vem
para criar algumas dúvidas.
No
começo fiquei dividida, sem entender qual era a intenção daqueles diálogos,
especialmente contrapondo Carla e Nina Sharp. Já no final, minha impressão é de
Carla e Nina são como as fadinhas verde e vermelha que aparecem durante as
visões de Walter. Nina e a fada verde tendem a dar as mesmas opiniões para
Walter, focando principalmente no caso do caderno de anotações com as invenções
mais loucas do mundo. Carla provoca, incita. Ela guia Walter pelo caminho da
perdição e ele só resiste por causa da promessa feita para Peter.
Mesmo
assim, não consigo vê-la como nociva. Porque cada frase maldosa dela,
relembrando o quanto Walter já fora perigoso e inconsequente serve como um
alerta. Ele está apavorado por voltar a ser aquele homem, tanto que implorou a
ajuda de Peter há alguns episódios e fez o acordo de retirar os pedaços do
cérebro, com Nina. Nessa luta o Walter que conhecemos deve prevalecer, mas ele
enfrenta a si mesmo, dentro e fora das alucinações.
Desculpem por bater nessa tecla novamente, mas
(PQP) como é que ninguém reconhece o trabalho de John Noble? Perfeito, mesclando
lucidez com loucura, criando diferenças de personalidade apenas pelo olhar. Os
últimos segundos, com flashs do Walter Evil provam isso. E ainda precisamos
incluir cada cena em que ele representou infantilidade, paranoia ou depressão.
Só pela lista de emoções que eu citei aqui ele merecia indicações a todos os
prêmios dos dois universos (ou de quantos existirem).
Essa
batalha de Walter contra si mesmo é uma faca de dois gumes (legumes). Ele está
diante do dilema de escolher entre completar o plano (e para isso ele
precisaria do cérebro intacto) e fugir de quem ele era antigamente. As
inserções de cenas antigas daquele flashback com Carla representam isso muito
bem. O quanto ele era perigoso antes, inclusive, por tentar criar seu próprio
universo, algo que William Bell levou adiante e que vimos no final da temporada
anterior.
É
preciso lembrar que, de certa forma, Walter é o vilão de Fringe. Suas ações
arquitetaram tudo o que vimos acontecer, afinal, se ele não salvasse Peter da
morte e o trouxesse do lado B as coisas seriam diferentes. Só não descarto, por
enquanto, a invasão dos Observadores da equação, porque acho que esse é um fato
independente. De certa forma os Observadores ajudaram a salvar a colisão dos
universos e tudo porque tinham interesse em manter o planeta a salvo para que
pudessem invadi-lo. É como se as ações de Walter (em primeira instância) e
depois de Peter e Olivia fossem as variáveis no plano dos Observadores e, por
isso mesmo, essas pessoas é que acabaram no centro da ação.
A
lembrança de Sam Weiss também é curiosa. Quando Olivia vê quem era aquele
esqueleto pelos documentos, fica aquela dúvida sobre o quanto ele sabia, nessa
timeline, para estar ajudando o pessoal da Fringe Division, mesmo que à
distância. Não espero que voltem no assunto ou que envolvam as Primeiras Pessoas
na história, mas fiquei curiosa. Curioso também é notar que os documentos de
Sam Weiss trazem a mesma data de nascimento de Kevin Corrigan, ator que o
representou.
Isso
traz à tona, mais uma vez, a identidade de Donald. Aposto que todo mundo quer
saber quem é o dito cujo e se ele ainda está vivo. Sabemos apenas que ele,
cinco semanas depois do Expurgo, aparece para pegar uma porção de quartzo
vermelho com Water. Seis meses depois da invasão, ele deixa o pequeno Michael aos
cuidados de Richard e Caroline. Depois disso há o rumor de sua morte, mas o
paradeiro se perde. Não acredito que vão passar por cima dessa história de
Donald sem mostrar sua identidade, então, a espera não será longa, já que
restam apenas quatro episódios.
Vale
dizer que a breve sequência em que conhecemos os guardiões de Michael é de
cortar o coração. Não sei como, mas eles conseguiram passar essa ideia de ‘família’
com muita facilidade e fiquei emocionada na despedida, mas não desatenta ao
fato de que Michael não envelhece. Comecei a cogitar que os Observadores, em
geral, não envelhecem e que os chips são implantados em seus cérebros quando
eles já são adultos (ou relativamente crescidos), interrompendo envelhecimento
e causando todos aqueles efeitos que vimos em Peter.
A
ternura existente entre Olivia e o menino (que ela conheceu em Inner Child)
também não passou batida e mesmo com tantos elementos colocados juntos, sou
incapaz de prever o final. No entanto, tenho uma ideia (tosca) de que a
destruição dos Observadores (que não experimentam o tempo como os humanos
comuns, Olivia repete a frase quando fala sobre as lembranças de Michael) irá
restaurar a timeline antiga, nos levando de volta ao dia em que aconteceria o
Expurgo.
Sei que é uma grande viagem, mas e daí? O
Black Blotter ficou liberado depois de hoje e comprei minha “fornada” de um
drug dealer de luxo, idêntico ao de Walter. Aliás, não seria legal se os
traficantes usassem smoking para vender seus produtos? Servir drogas em bandeja
de prata seria uma moda difícil de combater.
Como
o grande destaque do episódio é mesmo o mundo de esquisitices que surge na
cabeça de Walter, eis que podemos notar um monte de referências. A primeira
delas é a fada verde, que muitos acreditam ser uma representação de Sininho.
Como a primeira aparição da danadinha é ao lado de Peter ((Pan?) o garoto que
não deveria ter se tornado adulto) a coisa fica ainda mais evidente. Quem achar
que ‘fada verde’ é sinônimo de absinto será considerado bêbado ou coisa que o
valha.
Temos
também menção a O Mágico de Oz e à Cidade das Esmeraldas. É lá que Walter, Peter,
Olivia e Astro encontram Michael. Já falei também da sequência que usa
características de Monty Python Flying Circus e muito do que está naquela
animação é só homenagem ao programa mesmo e não representa nenhuma referência
maior no universo de Fringe. É claro que
o sapo (que inclusive aparece em outras cenas do episódio, só prestar atenção)
e a vaca Gene são coisa nossa, assim como o homem na pequena colina ou a menção
a ‘Little Hill’ não lembra vocês de nada?
Dá
para ver também um cavalo marinho como menção aos Glyph Codes, mas ainda não
entendi qual é a do cachorrinho. A simbologia do momento em que Walter desvenda
a senha muito legal. Ele derrota a si mesmo e conquista a chave que revela o
guarda-chuva preto.
Temos ainda alguns lances que mostram sinos, os símbolos de
William Bell e a cena congelada do momento em que Nina tenta impedir Walter de
fazer a passagem para o lado B e acaba perdendo parte do braço. Muitos
episódios são citados ao mesmo tempo e não daria par explicar cada um deles,
mas só por curiosidade, a lista inclui: Entrada (3x08), Olivia (3x01), Peter (2x16),
The Equation (1x08), Inner Child (1x15), 6955HZ (3x06), The Recordist (5x03),
The Last Sam Weiss (3x21) e Trough The Looking Glass and What Walter Found
There (5x06).
O
Glyph Code da semana é absolutamente direto: Guilt. Representa a culpa que
Walter sente por tudo o que os atinge, desde que ele decidiu que o único Deus
naquele laboratório seria ele.
P.S*
A frase de abertura dessa review é referência a um dos filmes de Monty Python. Monty Python Meets Beyond The Fringe é um
documentário de 1976 que mostra a cenas de bastidores e a apresentação do grupo
com o comediante Peter Cook. Beyond The Fringe é também o nome de uma série de HQ's sobre Fringe, cujos três primeiros capítulos foram escritos por Joshua Jackson. Não tem nada a ver com o episódio, mas achei que o
nome é curioso e valia a brincadeira.
P.S*
Adorei a cena em que Walter assiste à conversa de Peter, Olivia e Astrid com
Anil pela televisão. Um dos melhores flashs da alucinação.