quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Fringe 5x09: Black Blotter



Monty Python Meets Beyond The Fringe.



Boquiaberta. Foi assim que eu fiquei durante a grande viagem de ácido proporcionada por esse episódio de Fringe. Lógico que não foi a primeira vez que isso me aconteceu enquanto assistia a um episódio, mas ainda assim, fico sempre com a impressão de nunca aconteceu antes.
Não gosto muito de começar os comentários pelo meio, mas abri uma exceção, porque uma sequência feita para louvar o trabalho do grupo de humor britânico Monty Python merece atenção. E o melhor é que, mesmo quem não pegou a referência ficou maravilhado com o que viu ali. Mas não apenas naquele momento. Esse episódio de Fringe é uma dessas peças televisas que merecem ser guardadas como relíquia, porque o que foi apresentado foi “apenas” um incrível show de atuação, efeitos especiais, roteiro e utilização da mitologia. Segurem-se. Faltam apenas quatro episódios, e se conseguirem manter o nível e a crescente de emoções que foi construída até aqui, a coisa promete ser uma experiência inesquecível. Está difícil manter as expectativas baixas depois dessa semana.

O que impressiona nesse episódio, além de todo o apuro visual que já havíamos visto em outras ocasiões e que experimentamos toda semana, na verdade, é a simplicidade. Pegaram um assunto sem qualquer complexidade aparente e que, em teoria, seria apenas mais uma etapa na missão de juntar as partes do plano final para derrotar os Observadores e transformaram em quarenta minutos alucinógenos. Isso é precioso. Um personagem toma ácido e nós viajamos com ele. Quantas séries proporcionam essa sensação? Não conheço nenhuma outra.
Além do mais, o roteiro foi de uma amarração precisa, unindo elementos, fatos e personagens de todas as temporadas. A produção de Fringe é extremamente atenta a detalhes e, por isso, quem ficou de olho aberto, conseguiu pegar algumas referências bacanas, além das bastante óbvias e didaticamente explicadas.

Achei boa a lembrança sobre as timelines e sobre o fato de que apenas Peter e Olivia (e nós, telespectadores) conhecem a história na íntegra. É fácil esquecer as consequências geradas pela Máquina do Apocalipse, especialmente porque a relação entre Peter e Walter meio que voltou a ser a mesma de sempre, de forma gradual, e esse ficou sendo o ponto principal de diferenciação, depois que Olivia se lembrou de tudo.
Outra coisa ótima foi a aparição de Carla Warren, a assistente de Walter em seus áureos tempo de ‘brincar de Deus’. A morte de Carla é o que leva Walter para o sanatório (pelo menos essa é a primeira justificativa dada na série) e ela vem para criar algumas dúvidas.

No começo fiquei dividida, sem entender qual era a intenção daqueles diálogos, especialmente contrapondo Carla e Nina Sharp. Já no final, minha impressão é de Carla e Nina são como as fadinhas verde e vermelha que aparecem durante as visões de Walter. Nina e a fada verde tendem a dar as mesmas opiniões para Walter, focando principalmente no caso do caderno de anotações com as invenções mais loucas do mundo. Carla provoca, incita. Ela guia Walter pelo caminho da perdição e ele só resiste por causa da promessa feita para Peter.

Mesmo assim, não consigo vê-la como nociva. Porque cada frase maldosa dela, relembrando o quanto Walter já fora perigoso e inconsequente serve como um alerta. Ele está apavorado por voltar a ser aquele homem, tanto que implorou a ajuda de Peter há alguns episódios e fez o acordo de retirar os pedaços do cérebro, com Nina. Nessa luta o Walter que conhecemos deve prevalecer, mas ele enfrenta a si mesmo, dentro e fora das alucinações.

 Desculpem por bater nessa tecla novamente, mas (PQP) como é que ninguém reconhece o trabalho de John Noble? Perfeito, mesclando lucidez com loucura, criando diferenças de personalidade apenas pelo olhar. Os últimos segundos, com flashs do Walter Evil provam isso. E ainda precisamos incluir cada cena em que ele representou infantilidade, paranoia ou depressão. Só pela lista de emoções que eu citei aqui ele merecia indicações a todos os prêmios dos dois universos (ou de quantos existirem).

Essa batalha de Walter contra si mesmo é uma faca de dois gumes (legumes). Ele está diante do dilema de escolher entre completar o plano (e para isso ele precisaria do cérebro intacto) e fugir de quem ele era antigamente. As inserções de cenas antigas daquele flashback com Carla representam isso muito bem. O quanto ele era perigoso antes, inclusive, por tentar criar seu próprio universo, algo que William Bell levou adiante e que vimos no final da temporada anterior.
É preciso lembrar que, de certa forma, Walter é o vilão de Fringe. Suas ações arquitetaram tudo o que vimos acontecer, afinal, se ele não salvasse Peter da morte e o trouxesse do lado B as coisas seriam diferentes. Só não descarto, por enquanto, a invasão dos Observadores da equação, porque acho que esse é um fato independente. De certa forma os Observadores ajudaram a salvar a colisão dos universos e tudo porque tinham interesse em manter o planeta a salvo para que pudessem invadi-lo. É como se as ações de Walter (em primeira instância) e depois de Peter e Olivia fossem as variáveis no plano dos Observadores e, por isso mesmo, essas pessoas é que acabaram no centro da ação.


A lembrança de Sam Weiss também é curiosa. Quando Olivia vê quem era aquele esqueleto pelos documentos, fica aquela dúvida sobre o quanto ele sabia, nessa timeline, para estar ajudando o pessoal da Fringe Division, mesmo que à distância. Não espero que voltem no assunto ou que envolvam as Primeiras Pessoas na história, mas fiquei curiosa. Curioso também é notar que os documentos de Sam Weiss trazem a mesma data de nascimento de Kevin Corrigan, ator que o representou.
Isso traz à tona, mais uma vez, a identidade de Donald. Aposto que todo mundo quer saber quem é o dito cujo e se ele ainda está vivo. Sabemos apenas que ele, cinco semanas depois do Expurgo, aparece para pegar uma porção de quartzo vermelho com Water. Seis meses depois da invasão, ele deixa o pequeno Michael aos cuidados de Richard e Caroline. Depois disso há o rumor de sua morte, mas o paradeiro se perde. Não acredito que vão passar por cima dessa história de Donald sem mostrar sua identidade, então, a espera não será longa, já que restam apenas quatro episódios.
Vale dizer que a breve sequência em que conhecemos os guardiões de Michael é de cortar o coração. Não sei como, mas eles conseguiram passar essa ideia de ‘família’ com muita facilidade e fiquei emocionada na despedida, mas não desatenta ao fato de que Michael não envelhece. Comecei a cogitar que os Observadores, em geral, não envelhecem e que os chips são implantados em seus cérebros quando eles já são adultos (ou relativamente crescidos), interrompendo envelhecimento e causando todos aqueles efeitos que vimos em Peter.
A ternura existente entre Olivia e o menino (que ela conheceu em Inner Child) também não passou batida e mesmo com tantos elementos colocados juntos, sou incapaz de prever o final. No entanto, tenho uma ideia (tosca) de que a destruição dos Observadores (que não experimentam o tempo como os humanos comuns, Olivia repete a frase quando fala sobre as lembranças de Michael) irá restaurar a timeline antiga, nos levando de volta ao dia em que aconteceria o Expurgo.


Sei que é uma grande viagem, mas e daí? O Black Blotter ficou liberado depois de hoje e comprei minha “fornada” de um drug dealer de luxo, idêntico ao de Walter. Aliás, não seria legal se os traficantes usassem smoking para vender seus produtos? Servir drogas em bandeja de prata seria uma moda difícil de combater.
Como o grande destaque do episódio é mesmo o mundo de esquisitices que surge na cabeça de Walter, eis que podemos notar um monte de referências. A primeira delas é a fada verde, que muitos acreditam ser uma representação de Sininho. Como a primeira aparição da danadinha é ao lado de Peter ((Pan?) o garoto que não deveria ter se tornado adulto) a coisa fica ainda mais evidente. Quem achar que ‘fada verde’ é sinônimo de absinto será considerado bêbado ou coisa que o valha.


Temos também menção a O Mágico de Oz e à Cidade das Esmeraldas. É lá que Walter, Peter, Olivia e Astro encontram Michael. Já falei também da sequência que usa características de Monty Python Flying Circus e muito do que está naquela animação é só homenagem ao programa mesmo e não representa nenhuma referência maior no universo de Fringe.  É claro que o sapo (que inclusive aparece em outras cenas do episódio, só prestar atenção) e a vaca Gene são coisa nossa, assim como o homem na pequena colina ou a menção a ‘Little Hill’ não lembra vocês de nada?


Dá para ver também um cavalo marinho como menção aos Glyph Codes, mas ainda não entendi qual é a do cachorrinho. A simbologia do momento em que Walter desvenda a senha muito legal. Ele derrota a si mesmo e conquista a chave que revela o guarda-chuva preto.
 
Temos ainda alguns lances que mostram sinos, os símbolos de William Bell e a cena congelada do momento em que Nina tenta impedir Walter de fazer a passagem para o lado B e acaba perdendo parte do braço.  Muitos episódios são citados ao mesmo tempo e não daria par explicar cada um deles, mas só por curiosidade, a lista inclui: Entrada (3x08), Olivia (3x01), Peter (2x16), The Equation (1x08), Inner Child (1x15), 6955HZ (3x06), The Recordist (5x03), The Last Sam Weiss (3x21) e Trough The Looking Glass and What Walter Found There (5x06).

O Glyph Code da semana é absolutamente direto: Guilt. Representa a culpa que Walter sente por tudo o que os atinge, desde que ele decidiu que o único Deus naquele laboratório seria ele.

P.S* A frase de abertura dessa review é referência a um dos filmes de Monty Python.  Monty Python Meets Beyond The Fringe é um documentário de 1976 que mostra a cenas de bastidores e a apresentação do grupo com o comediante Peter Cook.  Beyond The Fringe é também o nome de uma série de HQ's sobre Fringe, cujos três primeiros capítulos foram escritos por Joshua Jackson. Não tem nada a ver com o episódio, mas achei que o nome é curioso e valia a brincadeira.

P.S* Adorei a cena em que Walter assiste à conversa de Peter, Olivia e Astrid com Anil pela televisão. Um dos melhores flashs da alucinação.
Comentários
9 Comentários

9 comentários:

Diego disse...

É importante lembrar que apenas drogado Walter chama Astrid pelo seu nome real, tudo pela contradição, eu ria sempre que ele a chamava.. Ótimo review.. =D

Gustavo de Castro Ventura disse...

Triste, muito triste. O fim já está aí, o que fazer depois que passarmos por ele?

Carlos Figueiredo disse...

Camis, acho que o cachorro da viagem de ácido do Walter é o Totó (do mágico de Oz mesmo), com todas essas referências ao filme/livro nesse episódio.

Diogo Soares Pinguelli disse...

palmas lentas pro episódio e pra sua review camis....
com dor no coração de saber q só faltam 4 episódios... muah

Rêe =D disse...

Episódio legal mas vamos começar a juntar as peças do plano, sim? Essa caçada as fitas me cansou já...

juliana disse...

eu não costumo assistir a fringe formulando teorias (#trauma #lost) e tampouco entro na onda quando o pessoal tem AZIDEIA (gosto de apenas me deixar levar), mas confesso que eu tive a fortíssima sensação de estar olhando pro mini septemper nas cenas com o michael. obviamente, já tem gente pirando nessa possibilidade. é que eu achei o piá de fato PARECIDO com o september, mas sei que meu argumento de nada vale já que eles trocaram a criança (ok que a outra deve ter crescido né, mas igual pode indicar que eles não se preocupam com verossimilhança facial, vide etta e mini etta bem diferentes).


enfim, o episódio foi fantástico e a homenagem a monty python me deixou tão fascinada que não há emoticons nesse mundo capazes de reproduzir minha expressão naquele momento mas foi um mix de =D com =O com 0o. tava linda.

Anonimo disse...

Walter acertou o nome da Astrid! !!

Marcelo Ribeiro disse...

Gente sobre a identidade do Donald, na parte final do ep. ficou claro para mim que ele é o September. + Vou rever a parte final hoje pela terceira vez para confirmar isso.

Fernando disse...

Sensacional, épico, vai deixar saudades =/