Episódio natalino em Glee é uma
tradição sem a qual não dá para viver e, para esse ano, a proposta é justamente
a de imitar a estrutura narrativa de filmes com múltiplas tramas paralelas, mas
que se encontram no final. Exemplos não faltam, dentro e fora do tema festivo,
mas Sue Sylvester usa um famoso, Simplesmente Amor (ou Love, Actually) para
explicar, de forma bem didática, quais as intenções para esse roteiro
diferente.
Sei, de antemão, que muita gente
não gostou nadinha do episódio, mas sou incapaz de dizer que foi tudo horrível
(ou que eu, pessoalmente, não tenha me divertido com os plots malucos). Acho,
sim, que as músicas natalinas escolhidas não ajudaram muito, fazendo desse um
episódio bom (ou mediano), com histórias bacanas e condizentes, mas que não
foram elevadas um nível acima, talvez pelo desgaste musical. Verdade seja dita,
em quatro anos de série as canções relacionadas aos feriados de fim de ano se
esgotaram, mas, por outro lado, isso abriu precedentes para a inserção de
outras culturas e religiões, transformando as comemorações em algo “ecumênico”,
e coloco entre aspas porque a coisa não foi tão ampla assim, mas o termo, de
certa forma, ainda cabe.
Abrindo o episódio temos a
história de Artie, que foi nada além de linda. Em primeiro lugar, fico feliz
por vê-lo sendo aproveitado em maior instância, trazendo à baila um problema
real da rotina de pessoas que precisam usar cadeira de rodas. Mais do que a fantasia
de ver Artie andando, com Rory como seu guardião ou guia natalino, era essa a
questão levantada, a da independência e das condições de mobilidade para
cadeirantes.
No começo achei que Artie tinha
levado uma surra, mas a simplicidade da situação foi muito mais impactante. Legal
ver as consequências dessa pequena mudança na linha temporal. Artie percebe que
seu problema resolvido causaria muitos outros, com Finn, Puck, Mike e Ryder
sendo babacas do time de futebol e Kurt não se formando por causa do bulying. Pergunto-me
qual a razão para Finn, Puck e Mike Chang ainda estarem na escola, assim como Rachel,
mas deixo passar por ser uma fantasia de Natal. O pior (e talvez o mais
engraçado) foi saber do destino de Quinn: depois de ficar na cadeira de rodas
pelo bom e velho ‘text and drive’, ela morre de coração partido. Ok. Só rindo
mesmo, porque isso prova o quanto os roteiristas amam Quinn e gostam de fazê-la
sofrer, até em episódios em que não aparece.
Confesso certo constrangimento
pela execução de ‘Feliz Navidad’. A música em si é divertida, mas quando
colocam em cena poncho, maracas e coreografia à la Menudos, senti aquele
incomodo que só a vergonha alheia profunda nos faz sentir. No fim, Artie era a
cola do Glee Club e ele parece feliz em deixar seu maior sonho para viver a
realidade.
No caso de Kurt o constrangimento
veio do óbvio incomodo dele com a presença de Blaine, forçando a amizade para
que os dois voltem a ser um casal. Tudo isso com o consentimento de Burt, que
vem com a mensagem de que ‘temos de ficar perto de quem amamos’. Verdade, mas
até para permissividade existe um limite e, nessa caso, acho que todo o mundo
está pedindo mais do que Kurt consegue entregar. De qualquer forma, o número
musical no rinque de patinação foi suave bem bonito, assim como cada momento
pai e filho.
Estou achando também que Burt é a
nova Quinn e que não cansam de tentar matá-lo de alguma forma. Agora é câncer de
próstata. Até entendi a lição ali, avisando aos homens que é preciso fazer exames
regularmente, mas não sei se o público jovem de Glee vai procurar um urologista
ou pedir para o papai e o vovô fazerem o temido exame. Aliás, acho que a
maioria nem sacou o alerta e ficou só na parte de ‘ai, amo Kurt e Burt’.
A aproximação dos irmãos Puckerman
foi bem legal e veio para justificar o retorno de Puck para Lima. Só que assim,
não dá para esse pessoal já formado ficar desfilando nos corredores da escola.
Finn é o único que tem desculpa para tal e, honestamente, vou começar a ficar
chata com isso, porque nada mais justifica.
O número musical homenageando o
Hanukkah foi um elemento diferente e que atende a uma parcela imensa da população
norte americana. Não dá nem para criticar, porque está bem na cara que quiseram
ser mais inclusivos nesse ano. Como Puck e Jake são judeus (bom, Jake é meio
judeu) a coisa fluiu naturalmente e as vozes deles combinaram muito bem. Gostei
do final em que as famílias se unem pelo fator comum do abandono, criando uma
relação nova entre todos eles.
Mais na pegada cômica, ganhamos o
Apocalipse Maia, comandado por Sam e Britanny. Digam o que quiserem, mas eu
continuo adorando os dois juntos. Engraçados e com a cabeça na lua. Foi uma
história bem relaxante e divertida, que acabou em casamento juramentado pela
Coach Beiste e com a promessa de um novo Fim do Mundo, em setembro de 2014, já
que Indiana Jones descobriu o novo calendário Maia. Quem não riu disso só pelo recalque do fim de
Britanna precisa providenciar a depilação do coração peludo para já. Também
gostei de ‘Jingle Bell Rocks’, com coreografia mimosa e tudo. Também gostaria
de ter ganhado um presentão de Britanny, fosse carro, rolex ou viagem.
Completando a lista, Sue se enche
de espírito natalino ao providenciar para Marley e sua mãe, um Natal repleto de
presentes, além de uma árvore ótima e uma boa quantia em dinheiro, que vai
contribuir para as consultas médicas por causa de o distúrbio alimentar da
menina. “O que dar para uma mulher que já comeu tudo?”, no entanto, me pareceu
um trocadilho bem desnecessário, mesmo que, no fim, o saldo da história tenha
sido positivo.
As caras de pobrezinhas que
Marley e mamãe conseguem fazer são épicas e por isso, fica fácil acreditar que
elas passam necessidade. Apesar de achar ‘The First Noel’ bem piegas, inclusive
pelo modo que a coisa é colocada, com aquela patacoada de a música ser o melhor
presente de natal ever (não é, e quem assiste Hart of Dixie sabe que são meias
de lã que aquecem peras os melhores mimos natalinos ever), a voz de Marley é
muito bonito, não dá para negar.
O desfecho, que interliga todas as
histórias ao som do clássico de Sinatra ‘Have Yourself a Merry Christmas’ é
muito mais do que um agradecimento para Sue, que vendeu sua árvore de Natal
chique para ajudar aos necessitados. Aquela canção era destinada aos fãs de Glee,
sem sombra de dúvidas e foi um bom jeito de terminar o episódio e o ano de
2012.
P.S*Um elogio particular pra
Becky, que estava possuída pelo ritmo Ragatanga nesse episódio, ao se tornar a
vadia do colégio e ao pedir um namorado ou trenó, para esse Natal.
P.S* Melhor clube novo de Glee: o
do Apocalipse, que teve apenas uma reunião porque quando a segunda chegou, o mundo
que fica nas costas de um crocodilo já estava em seu fim, que acontece a cada
500 anos.
P.S*Triste por esse Natal não ter
trazido o retorno de Chewbacca. Todo mundo sabe que não é Natal sem o
Chewbacca.
P.S*Merry Little Gleexmas para todos
vocês!
PS* Glee volta no dia 24 de
Janeiro.
Músicas no episódio:
"Jingle
Bell Rock" - Bobby Helms: Sam (Chord Overstreet)
"The
First Noel" - Traditional: Marley (Melissa Benoist)
"Feliz Navidad" - José Feliciano: Artie (Kevin
McHale)
"Hanukkah
Oh Hanukkah" - Traditional: Puck (Mark Salling) e Jake (Jacob Artist)
"White Christmas" - Irving Berlin: Kurt
(Chris Colfer) e Blaine (Darren Criss)
"Have
Yourself a Merry Christmas" - Frank Sinatra: Brittany (Heather Morris),
Puck (Mark Salling), Kurt (Chris Colfer), Jake (Jacob Artist), Blaine (Darren
Criss), Sam (Chord Overstreet) e New Directions