Câncer é, sem dúvida, a doença mais explorada na TV americana. Com todo o risco de cair nos usuais clichês, The Big C faz melhor e mostra que o assunto ainda pode ser tratado de forma interessante.
Eu odeio câncer. E digo isso com satisfação. Não é apenas a doença, mas o fato de que, na TV americana, há uma regra da qual não se pode fugir: Toda a série teve, tem ou terá um personagem com câncer.
Podem reparar e começar a repassar na memória para tentar encontrar as que nunca exploraram o assunto. Serão poucas e raras, porque câncer, com o perdão do trocadilho mórbido, se espalha com velocidade incrível pela mente dos roteiristas, que abusam desse recurso sempre que podem, ou melhor, quando não podem pensar em coisa que seja diferente.
Mas eis que o Showtime surge com The Big C, nova produção estrelada pela talentosa Laura Linney, atriz pra lá de competente, que eu adoro. Em grande parte por ela, resolvi assistir ao piloto da série e não me arrependi.
O elenco é ótimo e o roteiro consegue ser criativo, mesmo quando trata desse imenso clichê. Essa, aliás, é uma qualidade difícil de alcançar. É tanto câncer por aí que não há situação, dramática ou de comédia que ainda não tenhamos visto na telinha. Porém, é como eu costumo dizer: clichê bem empregado sempre funciona e esse é o caso.
A história central e óbvia mostra o modo com Cathy Jamison (Laura Linney) lida com a descoberta de um melanoma em estágio quatro. Ela já passou dos quarenta anos e está meio perdida, infeliz, impotente com a vida que sempre levou e que ela sabe, está prestes a acabar. É interessante notar como ela começa a dominar a situação. Cathy começa no mais completo desespero e aí mora a criatividade de roteiro. Não temos longas cenas de choro e lamentação. Cathy simplesmente decide mudar e isso inclui construir uma piscina no jardim, brigar com a vizinha esquisita, enfrentar os alunos babacas, se impor diante do marido infantilóide e ser mais firme com o filho adolescente. O câncer desperta Cathy para a vida que ela quer ter, em resumo.
Um dos pontos interessantes do Piloto está nas inúmeras tentativas que ela faz em contar para alguém que está doente. É impossível. Cada vez é pior que a anterior, até que ela decide que talvez, o cachorro possa ouvir sua revelação.
No elenco, temos ainda Oliver Platt, que interpreta Paul, o marido odiador de cebolas; John Benjamin Heckey, como Sean, o irmão que come restos e quer mudar o mundo protestando em estacionamento de supermercados; Gabriel Basso, como Adam, o filho mais pentelho do mundo e Phylis Sommervile, como Marlene, a vizinha rabugenta.
Temos ainda a participação de Gabourey Sibide, que muitos devem conhecer do filme “Precious”, ganhador de dois Oscars. Ela encarna Andrea, uma das alunas de Cathy, que entra numa aposta com a professora, que pagará 100 dólares para cada quilo que ela perder.
E há ainda o médico de Cathy, Dr.Todd (Reid Scott), que está lidando com sua primeira paciente e parece que estará mais envolvido com ela do que seria normal.
Já deu para perceber que o universo desses personagens é bastante rico e será bem explorado. O fato de a produção apostar em episódio de meia hora é outra vantagem, que deixa a série mais dinâmica e caprichada. Eu nunca pensei que diria isso, mas vejam The Big C. Talvez uma série sobre câncer finalmente nos surpreenda.