sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Alice 1x01x02: Parts One and Two



Minissérie do canal SyFy, Alice é uma adaptação do clássico da literatura 'Alice no País das Maravilhas' de Lewis Carroll. A produção também aproveitou a continuação do livro de sucesso e usou no enredo 'Alice através do espelho'. O resultado é fantástico. E isso dito por uma odiadora confessa da história original de Alice, que sempre me pareceu mais um conto de terror do que qualquer outra coisa. Nunca entendi como justamente no dito "País das Maravilhas" existia uma rainha louca querendo cortar fora a cabeça de todo mundo. Provavelmente, à época eu não entendia a ironia do título. Além do mais, a tentativa da Disney em fazer a animação resultou, para mim, em momentos de sono profundo e tédio mortal. Pois bem. Se você, como eu, não gosta dessa história, esqueça a impressão e dê uma chance à minissérie. Se você não leu, não viu a versão animada e não sabe nada de nada da história, veja também. Não vai ficar perdido nem por um minuto.

Muitos comentários por aí ressaltam que a segunda parte da série é decepcionante, mas eu discordo. Alice é excepcional como um todo e não deve ser avaliada aos pedaços. Inclusive, digo mais: a segunda parte foi a que definitivamente me conquistou. Resolvi fazer a review da série completa, também por essa razão. A duração total é de pouco menos de 3 horas e vale mesmo a pena.

Um dos pontos fortes, além da produção impecável e da fotografia bacana, é o elenco. Confesso que Kathy Bates, interpretando a Rainha de Copas foi minha maior motivação. Sou fã da atriz desde que assisti a 'Tomates Verdes Fritos', ainda na infância e, por isso mesmo, não poderia perder essa. Caterina Scorsone, que interpreta Alice, também não é uma completa desconhecida. Ela já atuou na série 'Missing' como uma paranormal que desvenda crimes através de pistas em seus sonhos. Embora 'Missing" seja uma grande porcaria, a atuação de Caterina em Alice fica bem distante dessa crítica. No elenco temos ainda nomes como Harry Dean Stanton (O Lagarto), Tim Curry (Dodo), Matt Frewer (Cavaleiro Branco), Colm Meaney (Rei de Copas), Andrew Lee Potts (Chapeleiro) e Phillip Winchester (Jack Chase ou Jack de Copas).

Tudo começa quando Alice, uma professora de Karatê, resolve apresentar o novo namorado para a mãe. O encontro vai bem até que Jack recebe uma mensagem: Corra. Ele sabe que está sem tempo e propõem que Alice saia com ele imediatamente para conhecer sua família. Jack também quer dar de presente a ela um anel, que parece ser muito valioso e antigo ( e que ela nem imagina que seja a pedra de Wonderland e a chave que o portal entre dois mundos). Como Alice não é lá muito chegada em compromisso, se assusta com a pressão e manda o namorado embora. Pouco depois, percebe que está com o anel e nem imagina que isso vai levá-la a uma realidade completamente diferente de tudo o que conhece. Ela vê Jack ser capturado e, logo em seguida, o Coelho Branco tenta roubar o anel. É preciso dizer que seria improvável uma garota jovem e atleta não conseguir alcançar o velho Coelho naquela perseguição, mas é assim que Alice acaba viajando através do espelho e chega à Wonderland, ou, se preferirem, País das Maravilhas.

Para resumir a ópera, tudo está ligado: O sumiço do pai de Alice anos antes, o namorado que é, na verdade, o filho da Rainha de Copas, a relação com o Chapeleiro e com o Cavaleiro Branco e a descoberta de que é seu pai o responsável, mesmo sem saber,por tudo o que se passa entre o mundo real e o mundo das Maravilhas.

Alice é resultado de uma mistura de moderno, rebuscado, fantasia, alucinação, sonhos e pesadelos. O que vemos é um lugar bizarro, onde todas as construções são muito altas, empilhadas, mal acabadas. Cresce grama em espaços improváveis e os habitantes são estranhos. Amontoam-se para comprar chás, que, se não fossem nos sabores, luxúria, inocência e a novidade: consciência limpa, eu diria que eram mesmo do mais puro cogumelo doido.

Tem ainda a história das Ostras, que são a origem de todo o poderio da rainha de Copas. Em seu Cassino, as pessoas do mundo que conhecemos servem de matéria-prima para os chás de emoção. Com os pés descalços, presos ao chão, elas são estimuladas das mais diversas maneiras para produzir as essências, muito valiosas em Wonderland. O nome Ostras vem da pérola que os humanos possuem dentro de si e que é extraída para deleite dos habitantes desse outro mundo. Uma coisa estranha nisso é que, aparentemente, eles não são incapazes de sentir. Nada disso. Mas, por alguma razão, são viciados em beber sentimentos puros. É mesmo como uma droga poderosa e autorizada, movimentando toda a economia local e tornando a Rainha de Copas cada vez mais rica.

Ao longo da trama existem várias menções a “Alice da lenda”. A visita da outra Alice, que causou a maior confusão já vista em Wonderland, 150 anos antes, é constantemente lembrada, mas a verdade é que, depois disso, a Rainha recuperou tudo e ainda causou mais destruição. Existem refugiados, resistências, o exército dos engravatados e os assassinos de aluguel que, com corpo de gente e cabeça robótica de coelho, aterrorizam e matam a mando da Rainha. A questão da confiança também sempre vem à baila, retratada através da relação de Alice com o Chapeleiro. A coragem está ali da mesma forma, quando o Cavaleiro Branco precisa decidir entre lutar ou fugir para salvar sua vida e o legado dos seus.

Alice, como foi produzida, é mais do que uma história infantil, conto de fadas ou seja lá a designação que a história tenha ou mereça. Adaptada para um público mais adulto, é preciso, acima de tudo, olhar além dos objetos e máquinas coloridas, das paisagens, monstros e heróis. Engana-se quem vê a minissérie unilateralmente. Alice é, acima de tudo sobre a sociedade em que vivemos. O poder, a luta de classes, a corrupção, as guerras, os jogos de interesses, o tráfico de drogas e porque não dizer, a luta entre o bem e o mal, com uma pitada suave de romance, aventura e um surrealismo latente.

Nesse texto, procurei não entrar em muitos detalhes sobre a história em si. Prefiro que as pessoas que ainda não viram descubram Alice por si mesmas. Confesso que, depois de tudo, estou avaliando a possibilidade de dar uma nova chance à obra literária e conhecer a continuação, que dizem ser brilhante e que inspirou todo o lance das viagens através do espelho. Quem sabe, no final das contas, eu encontre Alice lá, no País das Maravilhas.
Comentários
2 Comentários

2 comentários:

Priscila Dias disse...

Onde encontro essa série para fazer download? Assisti apena o primeiro episódio. Quero muito ver os seguintes! Aguardo resposta. Obrigada

Mafi disse...

Eu adorei esta mini-série. Normalmente nao gosto de mini-séries porque acho que não tem espaço para desenvolver a história mas esta é diferente gostei muito e apesar de ter fantasia, um género que não gosto muito, aqui funcionou bem juntamente com as personagens, apesar de alguns pontos clichés.
:)