“A melhor maneira de entender um
homem é falando com seus amigos e inimigos. Meus amigos estão na Assembleia
Legislativa. Meus inimigos... Será difícil de encontrar”.
J.R. – O MITO
Todo mundo que gostou do intenso
ritmo de Dallas e estava na dúvida sobre a manutenção dos 80 mil twists por
segundo pode ficar tranquilo. A série mostra, em seu terceiro episódio, que vem
com roteiro ágil, muitas maldades e armações garantidas ou seu dinheiro de
volta.
Fica evidente que a TNT está
apostando alto na produção e que pretende emplacá-la de vez. Se as coisas
continuarem assim, tão interessantes e cretinas como estão, acho que não tem
erro. Dallas pode ser um dos retornos mais bacanas dos últimos tempos.
O que chama a atenção é o fato de
que a série é muito legal para quem tem alguma noção da original, mas é
igualmente bacana para quem não tem a mínima noção das referências. Mesmo
assim, faço questão de citar as que fui capaz de captar, porque elas aumentam
ainda mais o nível de cremosidade dos diálogos e acontecimentos.
J.R – O homem, a lenda, o mito –
é o rei das referências até agora, citando o pai, a mãe, velhos inimigos e
lembrando até da maior pergunta que permeou a antiga Dallas: “Quem atirou em
J.R?”. Quando J.R fala que “Balas não parecem ter muito efeito sobre mim,
querida”, na cena com Ann, que aponta a espingarda para ele num dos depósitos,
é essa referência. Algo parecido com o “Quem matou Odete Roitman?”, que elevou
monstruosamente a audiência de Dallas na época e fez a trama famosa em mais de
60 países.
Por essas e outras eu já sou fã incondicional
do que eu considero o maior vilão da história da TV. Achavam que John Ross era
ruim? Pois J.R é ainda pior. Esse homem é o rei da cara de pau. Já na primeira
cena, uma das melhores que já vi na abertura de um episódio, ele tem uma “conversinha”
com John Ross, empunhando uma navalha, e deixa claro quem é que manda ali,
citando Jock, o patriarca dos Ewing e seu modo extra carinhoso de tratar os
filhos e incentivar a competição entre eles. Impossível não amar o modo como
ele se alia ao filho, orgulhoso por ter sido enganado pelo garoto, prevendo que
dali sairá uma parceria rentável, afinal, tal pai tal filho.
Lobell que se cuide, porque John
Ross vai encontrar um modo de se livrar dele. Marta e seus amiguinhos mafiosos
estão na mesma situação. J.R não está mexendo com petróleo por ser um amador,
embora suas táticas para lidar com Bobby sejam as mais primárias. O lance é que
J.R, por seu histórico com Bobby, já subestima o caçula, que sempre foi
queridinho da mamãe, Miss Ellie. Nem sei mensurar o tanto que ri na encenação
de velho decrépito que ele faz, dizendo sempre que pode “Bobby deveria vender Southfork”.
Sutileza predomina.
Sem prever (aparentemente) um
belo golpe se formando, Bobby realmente vende o rancho e a coisa vai se embolar
tanto que bem consigo prever. Na jogada temos J.R, John Ross, os mafiosos
venezuelanos e até Cliff Barnes, o ex-cunhado de Bobby e um dos amantes de Sue
Ellen. Por isso que J.R afirma que quando o homem morrer “serei aquele SAMBANDO
na sua cova”. Sue Ellen, na primeira versão fica grávida e ninguém sabe se o
bebê é de J.R ou de Cliff Barnes.
Cliff também não é flor que se
cheire e por isso, Christopher fez bem em não querer que ele financie seu
negócio de Peido Congelado. Ainda mais agora que ele descobriu que é só colocar
uma colher de Sustagem no oceano que os tsunamis serão evitados. Investidores
bons e honestos não vão faltar.
Com tanta felicidade na vida de
Chris, algo tinha de destruir a maré de boa sorte. A descoberta de que Bobby
tem um tipo raro de câncer caiu como uma bomba, mas o que surpreende mesmo é o
nível da medicina em Dallas. Basta que Bobby diga que retirou metade das tripas
por laparoscopia que suas andanças pela fazenda, como se nunca tivesse sido
operado e não precisasse de uma bolsa colostômica, ficam normais e ninguém questiona.
Foi a retirada de tumor mais surreal do mundo, com certeza. E ainda temos os
remédios contra o câncer, que causam problemas cardíacos... Uma maravilha.
Chris mais uma vez aproveita pra
dar um belo ataque de pelanca, justificativa fácil para se pegar com Elena, que
almoça com a esposa de seu grande amor e depois se agarra no moço como se a
pobre Rebecca não existisse. Mas é claro que Rebecca é a quenga maravilhosa que
eu previa. Eu sabia que ela tinha armado o envio do e-mail, afinal, ela e o
irmão (que ainda vai ter caso tórrido com Ann, podem anotar) têm interesses que
ainda vão nos surpreender.
O chocante nisso é perceber que é
fácil planejar um golpe do baú. Você manda um e-mail para um bofe avulso, simula
um encontrão com ele num trem, na China e pronto. Só esperar pelo pedido de
casamento. Rebecca, no entanto, tem seu lado bom. Ela está apaixonadinha pelo
marido e mesmo sendo traída abertamente, decide não usar o pen-drive maligno e
proteger a patente do Peido Congelado. Mal posso esperar pelo momento em que
John Ross vai usá-la e até dar uns pegas nela, como brinde.