Lá vamos nós. De novo.
Aos doze anos, Grey’s Anatomy
retorna para os braços de seu público fiel. E a Season Premiere não poderia ser
diferente ou melhor. Não dá nem para enrolar muito com a introdução, pois
estamos falando de um episódio fantástico, que nos mostra força, que nos traz
emoção e que não tem medo de, literalmente, dar um soco na cara do preconceito.
Shonda Rhimes é uma feminista,
acima de tudo. Acho que não existe nenhuma dúvida. E essa mulher que nós já
amaldiçoamos e já odiamos é também a responsável por trazer um conteúdo de
grande valor à TV. Não sei, de fato, qual o poder que uma série, novela, filme
ou livro têm par mudar a cabeça das pessoas, mas é impossível ver Grey’s
Anatomy e não pensar a respeito de questões fundamentais.
Shonda vem fazendo um trabalho
casado em todas as suas produções, mas falo apenas por Grey’s, pelo simples
fato de não acompanhar as demais. Esse trabalho é da mais pura conscientização
e ela dá voz a mulheres, negros, homossexuais. Esse episódio junta esse coro
que diz uma grande BASTA. Chega de pensar pequeno, de causar infelicidade ao
outro pelo sua noção do que é certo, de julgar e de ter medo de se impor diante
de agressões.
Fiquei bastante feliz em perceber
que meu tempo ao lado dessa série é extremamente bem empregado. Sofro às vezes
(vocês também), mas não deixo de admirar a beleza que existe aqui. A luta para
que, de alguma forma, tenhamos uma sociedade mais consciente.
Sei que muita gente ficou apreensiva
com esse retorno e outro tanto abandonou o barco após a morte de Derek. Minha
sensação era, ao contrário, de tranquilidade. Depois da saída de Cristina a série
melhorou, personagens ganharam mais vida. Porque agora não pode ser assim? Não
posso nem devo julgar a temporada por esse episódio, mas se o ritmo for esse,
se a reinvenção de Grey’s começar assim, acho que estamos muito bem.
Para começar, a dinâmica de
fraternidade entre Meredith, Maggie e Amelia é bem interessante. São mulheres
recomeçando. Juntas. Tendo apoio umas das outras. E brigas. E paredes
quebradas. Vi nessas três uma espécie de despertar. Amelia, sabemos bem, é
praticamente o troféu “desgraça”, empatada com Meredith. Aposto muito que ela e
Owen tragam um pouco de romance para a série, que tem casais muito sem graça
faz um tempo.
Meredith tem uma jornada de
descoberta e de adaptação profissional e pessoal, enquanto Maggie ganha voz e
deixa de ser apenas a ouvinte das lamúrias. Ela teve duas cenas ótimas em que
fala sobre bullying e pressão social e, em seguida, nocauteia a homofobia. Foi lindo
e significativo. Não que eu aprove qualquer tipo de violência, mas vale a
metáfora.
Claro que Callie também não se
curvou e agiu para que sua paciente, Jessica, não fosse entregue ao “acampamento”
onde certamente lidaria com bobagens como cura gay e uma completa lavagem
cerebral, vinda de forte agressão psicológica. Aliás, eis a questão. Jessica e
Aliyah achavam que para ficarem juntas, precisavam morrer. Pensavam que jamais
seriam aceitas, mesmo que uma delas nunca tivesse revelado ao pai que estava
apaixonada por outra garota.
O que Callie diz pode tocar
muitas meninas e meninos na mesma situação. Existe saída. Existe jeito. Mesmo que
às vezes não pareça. Essa história toda teve ainda o momento em que os pais dão
a mensagem principal: não importa nada,
além do amor que sentem pelas filhas. E quem discorda pode viver sozinho e
isolado num poço de preconceito.
Outra história excelente é a de
Bailey. Comecei o episódio dizendo: como assim vão escolher outra mulher para
chefiar o hospital? E Bailey foi desistindo e vendo seu sonho morrer, até que Ben
a lembra de quem ela é e que ela trabalha por esse cargo há anos, sendo fiel e
competente.
Aqui, vale lembrar a frase de
Viola Davis, primeira mulher negra ao ganhar o Emmy de melhor atriz em drama: "The only thing that
separates women of color from everyone else is opportunity. You
cannot win an Emmy for roles that are simply not there.”. Pois é.
Miranda Bailey não
poderia perder sua oportunidade. São poucas. São raras. E ela fez por merecer.
É uma mensagem forte para quem, assim como a personagem, pode desistir por acreditar
que ser mulher e negra já a tiraria da jogada. A verdade é que, na maioria das
vezes no mundo real, é assim que acontece. Mas é passada a hora de colocarmos
cor e gênero de lado, em detrimento de competência. E é preciso dar chances,
como Grey’s e Shonda vêm mostrando, ou a situação não vai mudar.
O episódio teve ainda
suas histórias menores, com o retorno de April e a estranheza no casamento com
Avery ou a obsessão de Arizona em buscar um roommate. Qualquer um. Um que
exista. O lance da “lenda” foi hilário. Eu sou mais simples e acho que ninguém
quer morar com ela por motivos de: chatice. Mas cada um usa a desculpa que
preferir.
E lá vamos nós. De
novo. Mais um ano de Grey’s Anatomy e parece que vai ser muito bom!