Mentir para si mesmo é sempre a
pior mentira.
Quase Sem Querer, da Legião
Urbana, é a música perfeita para ilustrar essa Season Premiere de My Mad Fat
Diary e, por isso mesmo, a exata frase que descreve o comportamento de Rae, não
poderia faltar por aqui. Num episódio que retoma uma das séries mais tocantes
dos últimos tempos – e que julgávamos como finalizada – vemos o mundo perfeito
de Raemundo ruir, enquanto ela enfrenta um dos medos mais terríveis: o de
mudar.
Com uma temporada mais curta, o
desafio de encerrar bem a história cresce proporcionalmente, especialmente
porque ainda existe muito a explorar em todos os personagens e em diversos
aspectos. Mesmo assim, quando a segunda temporada chegou ao fim, estava
completamente satisfeita com o jeito como as coisas ficaram e é por isso que
agora, diante de apenas mais três (tecnicamente dois, pois um já foi!), sinto
certa apreensão. Quero que MMFD deixe em mim, novamente, aquela sensação boa de
ter acompanhado uma série incrível.
A boa notícia é que é possível
perceber o total domínio sobre quem é Rae e sobre os caminhos que ela escolhe seguir
ou abandonar. De um jeito simples, essa série continua sendo especialmente
profunda quando o assunto é o emocional da protagonista. Raemundo é tão real
que chega a assustar, sempre levantando temas universais e que vão além dos
problemas de autoaceitação.
É certo que qualquer ser humano
pode compreender o medo que ela sente em mudar. Sentir-se seguro é uma condição
que todos buscamos, de um jeito ou e outro, portanto, é natural que ela seja
resistente quando o desconhecido bate à porta. Não é fácil sair da zona de
conforto e Rae sente que precisa manter tudo exatamente no mesmo lugar, mesmo
que esse lugar seja Stamford, onde as perspectivas de futuro são mais
reduzidas.
A questão maior não é nem ficar
numa cidade pequena e ter um emprego simples, sem grande estresse. O ponto
principal é não conhecer nada diferente por estar paralisada pelo medo. Para Rae,
sair de Stamford significa perder o pouco de compreensão que ela encontrou.
Significa perder o controle e enfrentar novidades a cada dia. Significa estar
longe de casa, da mãe, da irmã, do padrasto, dos amigos, de Kester e de Finn.
Um é a rede de segurança de Rae. O outro seu primeiro amor. Quantas pessoas
seriam capazes de realmente deixar isso de Aldo sem sentir nem uma pontada de
pavor e hesitação?
São sentimento normais, mas para Rae
a situação tem alguns graus a mais de complicação. Felicidade não é um
sentimento perene para ela e a ideia de perdera alegria, a confiança em si
mesma e nos outros é terrível. No entanto, nem mesmo a tentativa de evitar tudo
isso funciona. A fuga acaba mal sucedida e Rae tem de assumir suas mentiras.
Mas como diz a letra da música, a mentira que ela conta para si mesma é a pior
de todas. Ela tenta se convencer de que pode controlar tudo a sua volta, de que
reunir a turma e festejar vai resolver os problemas, quando, na verdade, ela
precisa enfrentar tudo isso, pensar profundamente no que mais deseja e ter
coragem para assumir tudo isso.
Não pode ser fácil escolher entre
ir para a Universidade e morar com Finn. Desistir desse relacionamento, algo
que ela queria tanto e que a obrigou a travar uma batalha interna para
conseguir, parece a pior parte. Quantas vezes na vida uma garota (seja ela
gorda, magra ou com qualquer característica física à escolha) encontra seu
Finn? Rae sabe que está vivendo algo raro e é natural que ela queira mantê-lo
para sempre. Por outro lado, ela vive também a fantasia de que tudo é estático
e na vida, nada é.
Em alguns meses a gang estará
separada, cada um seguindo seu caminho, estudando em outros lugares, fazendo
novos amigos. Raemundo não consegue notar que ela precisará fazer o mesmo, ou
será tomada pela frustração e pela tristeza. É por isso que Kester muda o
discurso. Não é hora de estacionar, mas de crescer. E aos poucos Era vai notar
tudo isso. Archie dá o exemplo perfeito ao cruzar a barreira de seu medo de se relacionar
sexualmente com outros garotos. Ele enfrenta o desconhecido e parece satisfeito
por isso, dando a ideia de que, afinal, as mudanças podem não ser tão más
quanto gostamos de antecipá-las.
Além disso, o acidente e as
consequências dela na vida de Chloe prometem ser determinantes para a
temporada. Foi fácil notar a mudança de atitude nela, sua vontade de amadurecer
e de deixar de lado a farra para pensar no futuro e em uma profissão. Tudo fica
em suspenso após o modo como o episódio é encerrado e, conhecendo bem o E4,
acho que existe uma possibilidade real de que Chloe não sobreviva. Seria mais
um baque para Rae e uma prova de fogo para sua estabilidade emocional. É
chegada a hora de enfrentar o mundo, Raemundo.
P.S*Palmas para a entrevista com
os recrutadores da universidade
P.S* Linda a cena de Karim
contando a história do pai e sendo um pai de verdade para Rae
P.S* Finn pode trabalhar e alugar
um apê em qualquer lugar. Dica: vá para Bristol.
P.S* Sempre verifique sua
tatuagem antes de realmente tatuá-la.