Glee, obrigada por tudo!
Como uma criancinha mimada que
não gosta de ter sua vontade contrariada, decidi pular uma semana de Glee, com
a certeza de que se eu visse os três últimos episódios de uma tacada só, seria mais
fácil. Eu estava com uma sensação frustrante no peito. A ideia fixa de que Glee
iria acabar e eu não teria gostado de quase nada da última temporada me corroia
como poucas vezes aconteceu. Antes mesmo de ver eu já estava ranheta e dizendo “ainda
bem que acabou, Glee não presta mais”.
Como eu disse, criancinha mimada,
principalmente pelo fato de que fui muitíssimo mal acostumada por uma
criturinha chamada carinhosamente por mim de Titia Ryan. Pois é. Se Titia
vacila eu fico brava. Eu esperneio. Eu bato o pé. Para mim, Glee tem que ser
sempre boa, porque durante os quatro primeiros anos, era assim que eu enxergava
cada episódio e cada temporada: como um conjunto quase perfeito, com pequenos
defeitos aqui e ali, é claro, mas que no final eram imperceptíveis.
É por isso que agora, esse texto
é mais do que uma simples review para apontar altos e baixos e falar da trama e
dos personagens. Esse texto é minha ode final à Glee, por tudo que ela
representou nessas seis temporadas. Por tudo que ela trouxe para vida das
pessoa e para o mundo do entretenimento. Por todos os momentos ousados e em que
a série levantou bandeiras e debateu problemas atuais. Por toda a coragem. Por
cada canção. Pelo sentimento de pertencimento que ela trouxe para tanta gente,
de todas as idades.
Glee, nesses seis anos de série, foi
um turbilhão de emoções. Ainda lembro de quando vi o Piloto pela primeira vez,
em setembro de 2009, ficando embasbacada com aquela proposta tão diferente. Mesmo
sendo uma consumidora voraz de seriados, eu nunca tinha visto algo igual a Glee
e eu sabia que a produção faria sucesso e viraria febre. Hoje é fácil dizer que
não há nenhuma outra série no ar que faça o que faz e que cumpra o papel que
Glee cumpriu. Honestamente, acho que o ramo “Teen” fica praticamente sem conteúdo
e sem real representatividade, porque Glee tinha a dupla função de entreter e
informar. Que outra série faz isso para o público jovem atualmente? Citaria pontualmente Switched at
Birth e My Mad Fat Diary, mas fico por aí. Todo o resto entra no patamar
de bobeirices que divertem( o que é bacana também!), mas não vão além disso.
Quando uma série chega ao fim
gosto de fazer uma viagem no tempo e pensar na trajetória. Glee fez quatro anos
iniciais exemplares e durante os quais sofreu severas críticas sobre ser uma
produção de nicho - quem nunca ouviu que só os gays assistem Glee ou que quem
assiste Glee só pode ser gay? A primeira era para diminuir a importância de um
programa de TV que dava voz a mais do que somente um grupo. A segunda era para
tentar ofender e tentar diminuir o público da série, porque afinal, para alguém
que fala um absurdo desses, ser homossexual é baita problema – por ter músicas
ruins ou estragar músicas, por ser mal escrita e ter atores ruins. Todas as
críticas são tão facilmente destruídas que chega a ser hilário, mas elas nos mostram
que Glee é meio revolucionária e vem de encontro com um momento de mudança
social.
O mundo está longe de aceitar a
diversidade em todos os sentidos e Glee sambou na cara da sociedade ao juntar
todas as minorias possíveis e mostrar que não existem limites para o que cada
pessoa pode ser. Citem uma única série que tenha colocado em pauta temas
relacionados à gordos, negros, asiáticos,síndrome de Down, deficientes físicos,
gente com problemas de aprendizado, judeus, cristãos, depressão, timidez, violência,
educação, transtorno obsessivo compulsivo, feminismo, gays, lésbicas, transsexuais,
gravidez, adoção... E a lista vai longe e não inclui apenas gays, lésbicas e transsexuais
ao contrário do que alguns insistem em dizer até hoje.
Glee fez esse papel de mediadora
de grandes debates em toda a sua trajetória que ficou claudicante após a
transição para o novo formato na Season 4, da qual eu ainda gosto bastante, embora
a onda de insatisfação com Nova Iorque e os novos membros do New Directions
tenham afetado a produção. Não dá para negar. O mimimi dos fandoms afetou Glee,
sim, porque os produtores não ficam alheios às opiniões e na tentativa de agradar
a todos, enfraqueceram o objetivo das tramas em geral, deixando tudo meio solto
e com resoluções insatisfatórias. Aqui, a verdade é que deveriam ter escolhido
um caminho e seguido com firmeza. Não foi o que aconteceu e, depois, o que já
vinha sofrendo, acabou finalmente abalado com o choque da morte de Cory
Monteith. É inegável o impacto que essa perda trouxe para Glee como um todo e, desde
então, a qualidade caiu a ponto de experimentarmos uma verdadeira montanha
russa nos episódios.
Nesse sexto e último ano, Glee tinha
a função de fechar com honra toda essa proposta incrível que nos ofereceu. Foi
uma temporada mediana, para sermos bem justos, mas que escala de volta à excelência
em seus três episódios de despedida. Como eu disse, esperei para vê-los em
conjunto e tive uma imersão deliciosa no universo da série. Com We Built This
Glee Club senti novamente a alegria de acompanhar as competições. Com 2009, o
mergulho no passado trouxe de volta a sensação de descobrir algo incrível, com
a vantagem de enxergar por novos ângulos tantos personagens queridos. Com
Dreams Come True, a jornada se completa cheia de nostalgia e gostinho de quero
mais.
Confesso que fiquei em lágrimas
profusas o tempo todo. Choro de saudade, de agrdecimento, de pertencimento.
Glee é isso. Era como se eu fizesse parte dela e ela fosse parte de mim. Um
sentimento que sei que milhares de pessoas compartilham e entendem.
Ao ouvir “Listen to Your Heart”
com Rachel e Jesse, fiquei mais do que feliz. Apesar de ter sido pintado como
um grande babaca muitas vezes, eu achava que não existia casal mais legal que
esse, por isso, não foi sem efusividade que recebi esse musical e também o final
perfeito para para a grande estrela da série. É estranho misturar a realidade
com a ficção, mas Glee fez isso mais de mil vezes. Se Johnatan Groff é o melhor
amigo de Lea Michele, não existe ninguém além do personagem dele para ser parte
do final feliz dela. Dizer que adorei ainda é pouco. Especialmente porque Rachel
decide estudar (graças à Sam e madame Tibideaux), retoma sua carreira, ganha um
Tony e o dedica a todos que foram essenciais em sua vida e ainda por cima, é
essa linda que empresta a barriga para que Kurt e Blaine façam um baby
Porcelain!
Nossa última competição de corais
teve ainda muito humor com os jurados super qualificados de sempre e com as
apresentações de Broken Wings, We Built This City e Mickey. A mensagem de união
e companheirismo vem à tona com o New Directions que apresenta Take Me To
Church na incrível voz de Roderick, o inusitado Chandelier, com direito até a
piada com a clipe da Sai e aindaa leveza de Come Sail Away, que dá ao grupo a
confiança de que precisam para vencer.
Chegando a 2009, voltamos no
tempo e fica aquela contade rever o Piloto e comparar os roteiros com essa
visão dupla privilegiada. Ideia sensacional de roteiro, que faz o que os finais
devem fazer: mostrar porque fomos acompanhamos a série até agora. O foco no
grupo original do New Directions foi acertadíssimo e me deu a chance de rever
Tina. Eu adoro a Tina desde sempre e reclamei tanto por ela se perder ao longo
de Glee que vi esse destaque para ela como um presente. Mais ainda porque Artie
também estava lá e ele é outro queridinho meu. Sinceramente, a voz de Kevin
McHale foi a mais versátil da série toda e ele nunca nos fez duvidar de que a
cadeira de rodas era parte real da vida dele. E ele também dança, apesar de
termos visto bem pouco disso.
A relação entre Mercedes, Kurt e Rachel foi
tocante. Vimos aquela competição de egos de sempre, mas dessa vez não foi
irritante. É fácil entender porque as meninas se desafiavam daquela forma.
Mercedez carrega o peso de muitos preconceitos nas costas e Rachel não fica
atrás, submetida a tantos momentos de humilhação. Kurt, por sua vez, não tinha
encaixe no mundo. Em casa, ele ainda não via no pai um amigo e na escola ele
preferia ser invisível. A lembrança de Finn não poderia ficar de fora e ver Don’t
Stop Believin’ original foi especial.
Aliás, tivemos a oportunidade de
ver as performances completas de Mister Cellophane, Pony e I Kissed a Girl,
entremeadas por lindas execuções do clássico Popular e I’m His Child.
Impossível não soltar uma ou milhares de lágrimas teimosas com todas elas, que
nos levam até Dreams Come True, onde Glee nos mostra seu real significado:
alegria (joy).
Foi isso que senti com o último episódio.
Uma alegria pura por ver que todo mundo se realizou de alguma forma. Mercedes
vai abrir o show da Beyoncé, Tina e Artie ficam juntos e se encontram em outras
formas de arte, Blaine e Kurt estão em paz, formando uma família e servindo de
exemplo, Sam se transforma num excelente professor de música. Sue Sylvester é
agora vice-presidente dos Estados Unidos, Becky chefe de segurança dela e Will
se torna o diretor da escola que lutou tanto para mudar. É tudo muito simples,
mas ninguém precisava de mais nada além disso.
Obviamente, o rio de lágrimas não
seca e até transborda durante todo o episódio. Não sei vocês, mas solucei do primeiro
ao último minuto. Era isso que eu queria. Sentir a falta que Glee vai fazer,
traduzida em canções como Teach Your Children, que homenageia Rachel, Kurt, Blaine,
Mercedes, Sam, Tina e Artie, enquanto o futuro do New Directions está ali e
mostra que o sonho não acabou.
Mercedes em Someday We’ll Be
Together apunhala nossos corações de forma belíssima. Não é fácil aceitar que a
vida tem etapas e que até mesmo as boas precisam acabar. Nesse sentido, This
Time, na voz de Rachel, completa a mensagem, na música original cheia de
pequenas lembranças em sua letra. Não é à toa que Lea Michele chora
descontroladamente durante o número.
The Winner Takes All é o embate final de Sue e
Will. Quem diria que eles eram melhores amigos e até jogavam basquete
juntos? Acho que essa saída dos dois é ótima, porque Sue não tem e nunca terá
explicação lógica. Ela odeia ou ama num estalar de dedos. Pode ajudar alguém ou
destruir tudo quando menos se espera.
Daydream Believer trouxe doçura incomparável
ao episódio ao celebrar, mais uma vez, a diversidade e a importância de ensinar
às futuras gerações que as diferenças podem unir, em vez de separar. É uma mensagem
que nós, fãs de Glee, ficamos com a obrigação de passar a filhos, sobrinhos,
netos (calma, quando chegarmos lá!) daqui em diante.
A última canção, I Lived, tinha a
difícil função de ser perfeita. E foi. Num momento de homenagem a Finn e,
claro, também Cory Monteith, vimos o auditório ganhar seu nome e ser preenchido
por praticamente todos os personagens mais queridos desses seis anos de Glee.
Até Lauren Zizes estava lá, ao lado de Quinn, Puck, Santana, Britanny, Burt, Carole,
Beiste, Sugar Motta e todas as formações do New Directions. Uma cena para ver e
rever, à exaustão, sempre que a saudade bater. E não se enganem: porque ela vai
bater!
P.S*Obrigada pela companhia
constante nos comentários! Somos todos parte dessa coisa linda e especial que é
Glee (e THE GLEE PROJECT!), afinal de contas!
Músicas nos episódios:
We Built This Glee Club
"Listen to Your Heart": Roxette -
Rachel Berry and Jesse St. James
"Broken Wings": Mr. Mister - The
Falconers
"We Built This City": Starship -
Clint and Vocal Adrenaline
"Mickey": Toni Basil - Clint and
Vocal Adrenaline
"Take Me to Church": Hozier -
Roderick with Kitty Wilde, Jane Hayward and New Directions
"Chandelier": Sai - Madison McCarthy
with Kitty Wilde, Jane Hayward and New Directions
"Come Sail Away": Styx - Mason
McCarthy with Madison McCarthy, Spencer Porter, Kitty Wilde and New
Directions
2009
"Popular": Wicked - Rachel Berry and
Kurt Hummel
"Mister Cellophane": Chicago - Kurt
Hummel
"I'm His Child": Zella Jackson Price
- Mercedes Jones with church choir
"I Kissed a Girl": Katy Perry - Tina Cohen-Chang
"Pony": Ginuwine - Artie Abrams
"Don't Stop Believin'": Journey - New
Directions
Dreams Come True
"Teach Your Children": Crosby,
Stills, Nash & Young - Will Schuester
"Someday We'll Be Together": Diana
Ross & the Supremes - Mercedes Jones with gospel choir
"The Winner Takes It All": ABBA - Sue
Sylvester and Will Schuester
"Daydream Believer": The Monkees - Kurt
Hummel and Blaine Anderson with schoolchildren
"This Time": Original composition - Rachel
Berry
"I Lived": OneRepublic - Will
Schuester, Sam Evans, Artie Abrams, Rachel Berry, Mercedes Jones, Blaine
Anderson and Kurt Hummel with Wade "Unique" Adams, Alistair, Sheldon
Beiste, Mike Chang, Tina Cohen-Chang, Terri Del Monico, Quinn Fabray, Principal
Figgins, Joe Hart, Jane Hayward, Carole Hudson-Hummel, Burt Hummel, Becky
Jackson, Dave Karofsky, Santana Lopez, Ryder Lynn, Madison McCarthy, Mason
McCarthy, Sugar Motta, Brittany Pierce, Emma Pillsbury-Schuester, Spencer
Porter, Jake Puckerman, Noah Puckerman, Roderick, Matt Rutherford, Jesse St.
James, Sue Sylvester, Kitty Wilde and Lauren Zizes