Sobre a difícil arte de
emocionar.
Se as duas últimas semanas de
Grey’s Anatomy tinham algum papel a cumprir para nos convencer de que sim, a série
se renovou e encontrou caminhos interessantes a seguir, esse papel foi cumprido
com excelência. Os dois episódios mais recentes são um exemplo do porquê, após
tantos anos, continuamos acompanhando a trama, que já teve momentos péssimos e
erros gigantescos sendo cometidos, mas em contrapartida nos presenteia com
outro tanto de acertos ainda maiores e mais significativos.
O empoderamento feminino está
alimentando a série. Não é que os homens não tenham importância na história,
mas esse é momento delas. Bom, é o nosso momento, se você aí também é mulher.
Esse destaque todo e o cuidado em deixar claro que as mulheres ganharam o
mundo, sem deixar de lado o que faz delas mulheres é o que encanta. Pode
parecer bobagem, mas estamos num momento cultural que converge com a proposta
de Grey’s Anatomy. No fim das contas, a história de cada personagem é apenas
uma alegoria do que as mulheres vivem hoje em dia. Nada é fácil para as
personagens da série, como também não é fácil para as mulheres não fictícias.
Nem preciso separar os episódios
para falar do tema, pois existe uma continuidade fluente. É claro que é preciso
começar pelo drama vivido por Kepner, algo tratado com delicadeza sem igual,
com cenas que fizeram encher os olhos de água. Aqui, a resolução foi cheia de
sensibilidade. O diálogo em que a mãe de Avery os ajuda a traçar um plano real
para lidar com essa gravidez complicada é o maior exemplo. Ela fala de coisas
práticas, mas ela fala como mãe também. Ajuda na tomada de decisão e não deixa
de lado o respeito total pelas crenças da nora. Avery, por sua vez, apoia, entende,
participa e compreende, talvez pela primeira vez, quem é Kepner e no que ela
acredita. Honestamente, não poderia ter sido mais doloroso e estranhamente
bonito assistir a tudo isso. Todos os atores estavam absolutamente envolvidos e
se entregaram à situação. O resultado foi de partir o coração.
Ao mesmo tempo, as dores de
Amelia vêm à tona. A perda do filho, o uso de drogas, o alcoolismo são um
passado ainda recente e que deixou cicatrizes profundas que ela não pode
esquecer, mas quer superar. A dobradinha com Owen, até o momento, parece uma
ideia promissora, afinal, ele também tem sua cota de problemas.
Meredith, por sua vez, vive um
momento crucial de redescobrimento. Pode parecer egoísmo para alguns, mas é
esse tempo para si mesma que vai ajudá-la a saber o que vem a seguir. É uma jornada importante para a personagem
que já ficou à sombra de muita gente: da mãe, do marido e até da melhor amiga.
Agora é Meredith por si só e ela descobre como isso pode ser bom e libertador.
Nessa mesma fase encontramos
Callie e Arizona, que começam a se enxergar individualmente e a seguir em
frente. Com isso, a série ganhou e ficou mais leve, mais bem humorada. Também
não podemos esquecer de Herman, que ganhou alguma suavidade e te se mostrado
potencialmente engraçada em diversos momentos, flertando com Hunt, roubando
sofás ou apenas implicando com Arizona.
Para completar, Bailey demonstra
atitude certeira ao falar da transição do irmão de Bem. Esse tema tem aparecido
com mais frequência na TV e sempre que isso acontece acho que é extremamente
positivo e importante para educar as pessoas. Se homossexuais sofrem
preconceito, transgêneros sofrem ainda mais, inclusive pela falta de informação
e pela nuvem de fumaça que sempre se criou em volta do assunto, afinal, não é “confortável”
pensar em um homem ou mulher que nasceu no corpo errado. Mais importante ainda,
Grey’s Anatomy lança um alerta a respeito do uso indiscriminado de hormônios,
mostrando que a transição precisa sim de acompanhamento médico e psicológico.
P.S*Richard ainda tem medo do
poder de Catherine?
P.S*Karev deveria casar logo e
mostrar que dessa vez a coisa VAI!