Por mais tolerância e por mais
respeito.
Sou uma mulher branca e heterossexual e, embora eu possa dizer que mulheres
(especialmente as que estão acima do peso como eu) sofrem com os padrões impostos
(por sei lá quem) de comportamento, eu nunca vou pode dizer que entendo o que é
ter um gênero que não combina com o corpo com o qual eu nasci. Não entender, no
entanto, não significa que eu precise achar que as pessoas que passam por isso
e que nasceram tendo de lidar com isso são aberrações ou diferentes de mim. No
final das contas, somos todos humanos e temos sim, a obrigação de aceitar que
entre nós, existem diferenças.
Não é só a tolerância. É
respeito. É o que esse exemplar episódio de Glee tenta nos mostrar dentro desse
micro universo escolar. Fica mais fácil de entender dessa forma, mas a existência
de um grupo de pessoas de visão limitada e que se acha no direito de impor seu
modo de vida e suas opiniões mesquinhas não fica apenas restrita às escola de
Lima ou ao Vocal Adrenaline. A existência desses grupos (porque são muitos) é
observada ao redor do planeta e sinto quase que como uma obrigação pessoal
cuidar para que existam cada vez menos pessoas pensando assim, em todos os
aspectos. A lição vale para preconceitos em geral, embora Glee, dessa vez,
tenha levantado a bandeira dos transgêneros de forma justa e delicada.
Esse é um tema bastante difícil de
tratar, embora já estejamos em 2015. Parece que a amplitude mental não segue o
ritmo de crescimento que nossa tecnologia, para dizer o mínimo. Por isso,
repito o que já havia dito quando Beiste (agora Sheldon Beiste) tocou no
assunto, há algumas semanas, revelando sua coragem em ser quem sempre foi por
dentro, agora também por fora: Precisamos falar mais disso. E Glee tem sido uma
peça fundamental ao levar o debate para seu público, que é jovem e tem nas mãos
o poder de mudar e evoluir.
A apresentação de I Know I’ve
Been, com Unique e o coral Transpersons foi uma das mais belas e poderosas
rendições de Glee. Não era somente a música, mas o momento e a intenção. Um
número emocionante, que mostra que por mais difícil que seja o processo de
transição, Beiste e todos a quem ela representa, não estão sozinhos. Não é
impressionante o que apenas uma música pode fazer? Às vezes, parece que Glee
esquece esse poder que tem e, em momentos como esse, de pura emoção, a série
lembra de sua função maior, que é informar, enquanto também diverte.
Para ser um pouco chata (sinto
essa necessidade), acho apenas que Sue tem sido usada de maneira muito
contraditória. Sei que ela é uma personagem meio doida e que sua função muda ao
favor do vento, mas é estranho. Ela apoia Beiste na transição, mas já falou
absurdos para Kurt e Blaine, por exemplo. Ela também vem com o irônico (e
proposital) momento do Fat Shame... Quer dizer, um pouco de lógica faz bem até
para quem caga para a lógica, se me permitem a observação. Eu gosto de Sue e
dessa loucura que ela representa em Glee, mas às vezes a contradição nela
supera o limite aceitável, como é o caso.
Fora isso, tudo perfeito. Músicas
bacanas para tramas e subtramas bem legais, criando o mix balanceado de humor e
drama de que tanto gostamos. Finalmente Will deixa o insípido Vocal Adrenaline
e volta a ser um pobre feliz com o que escolheu fazer. Obviamente ele vai retomar
suas funções com o New Directions quando Rachel voltar à NY e Kurt for para
onde ele quiser com Blaine. Digo mais: Will voltará ao ND a convite de Sue.
Podem apostar.
Não podemos deixar de dizer que
Emma ressurgiu das cinzas. Foi engraçado. Depois de Will ter praticamente
cuidado do filho sozinho ela aparece como se nunca tivesse sumido. Outra coisa
a notar é que Will dá o recado: conversem com os novatos. PORRA! Finalmente.
Imaginem se Glee fosse só Will falando de seus problemas pessoais e esquecendo
dos pupilos? Rachel e Kurt tem muito que aprender sobre ensinar. E Mercedes
também, porque ela faz de conta que não sabe quem é Roderick por pura INVEJA,
já que o moleque manda super bem e ela tem medo de qualquer um que possa tirar
seu brilho.
Aliás, falando neles, eis que All
About That Bass foi outra música que deu certo na festinha para Rachel se
tornar adulta de uma vez por todas. O clima de relembrar foi bem legal, mas não
deixo de notar que estão apagando Finn da história, só para evitar as amargas
lembranças que unem ficção e vida real. Parece que Rachel só tinha Sam em seu
mural e sabemos que não é bem assim, mas ok, entendemos o motivo. Seria
estranho falar de Finn quando Sam e Rachel estão finalmente se tornando um
casal que, aliás, manda bem cantando Time After Time.
Como não poderíamos fugir disso
pra sempre, enfrentamos o arrependimento de Blaine e um Karofsky mais
compreensivo do que qualquer pessoa normal jamais seria. “Ah, você me traiu com
seu ex? DIBOUA! Vai lá, corre atrás do seu verdadeiro amor que tem uma fila de
macho me querendo aqui”. Hilário de ver e impossível de acontecer. Blaine, é
claro, vai ter que esperar mais um pouco para voltar com Kurt que segue firma
com seu tiozão da Sukita.
Para finalizar, a performance de
You Give Love a Bad Name foi aquela coisa técnica que ganhamos sempre com o
Vocal Adrenaline. Em compensação, Unique vem com tudo e ao lado de Will faz
algo bem bacana com Same Love, provando que música boa não é só talento, mas
emoção e contexto.
Músicas no
episódio:
You Give Love a Bad Name: Bon Jovi - Clint & Vocal
Adrenaline
Same Love: Macklemore & Ryan Lewis feat. Mary Lambert - Will Shuester & Unique
Adams
All
About That Bass: Meghan Trainor - Mercedes Jones, Roderick, Alumni & New
Directions
Somebody
Loves You: Betty Who - Blaine Anderson
& Kurt Hummel
Time
After Time: Cyndi Lauper - Rachel Berry & Sam Evans
I Know
Where I've Been: Elenco de Hairspray - Unique Adams & Transpersons Choir