segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Sons Of Anarchy 7x13 (Series Finale): Papa's Goods


Missão cumprida.

Há sete anos pegamos carona na garupa de um clube de motoqueiros e, depois de uma longa jornada, chegamos ao final dessa incrível saga, que nos levou por caminhos violentos, sombrios e cheios de drama. O curioso é perceber que sempre soubemos que as coisas seriam bem encaminhadas. Pelo menos essa é minha experiência com Sons Of Anarchy.

Rapidamente aprendi a confiar em Kurt Sutter, talvez porque ele sempre tenha dito que havia planejado a história e os desenvolvimentos eram notáveis. Mesmo quando não gostei de alguns rumos, eu sabia que para tudo existia um porquê. E é exatamente isso que constatamos agora. Uma série planejada, coerente e fiel às suas origens e intenções, uma série emocionante como poucas e com uma qualidade inquestionável.

Sons Of Anarchy chega a seu último episódio sendo praticamente ignorada por “premiações conceituadas”, mas afinal, quem tem o costume de acompanhar o universo televisivo sabe que prêmios não definem o quanto uma produção pode ser boa e amada pelo público. Assim como outros grandes shows, SOA fica consagrada por quem aproveitou cada pedacinho dessa trama ao longo dos anos e também por aqueles que aceleraram bastante as maratonas para chegar junto com quem já acompanhava.

Uma das maiores vantagens que ganhei com a série foi a capacidade de mergulhar num universo tão diferente de tudo que conheço. Não que isso seja exclusivo de SOA, mas somente boa televisão (e boa literatura e bom cinema) são capazes de transportar o espectador a uma experiência que vai além do assistir. Com Sons Of Anarchy nó todos fomos parte do clube, nós todos pegamos nossos motos e saímos por aí, com o vento batendo no rosto, sem medo de morrer.

Por tudo isso, não dá para não sentir aquela ponta de tristeza com a Series Finale. Episódio bom, cheio de mensagens e significados que esperamos tanto para alcançar. Um episódio onde vimos os caras mais durões chorarem feito meninos, dizerem “eu te amo” com sinceridade e dizerem – junto com todos nós – adeus a tudo que SAMCRO representa.

Tudo o que precisava ser dito foi dito. Não há assuntos mal resolvidos em Sons Of Anarchy e o roteiro é capaz de costurar os elementos que estavam lá nas primeiras temporadas e fazer cada pedacinho encaixar para que Jax, enfim, cumprisse sua missão. Há tempos os escritos de John Teller eram mais memórias do que uma trama palpável e nesses anos todos, ficamos sempre tentando entender o que esse homem queria fazer de verdade. O que era essa utopia sobre o clube que ele tanto pregava.

O termo “utopia”, aliás, cabe bem. Os ideais de JT eram inalcançáveis e continuam sendo, mesmo após as ações de Jax. Não estamos falando de personagens unidimensionais aqui. O bem e o mal existem em cada membro do clube. Eles são criminosos, sem dúvida, mas existe o lado da família, do companheirismo, da fidelidade. O que Jax faz é limpar a própria bagunça e ir um pouco além. Jax limpa a bagunça de sua família, ao longo de tanto tempo de mentiras.

Jax é o centro das atenções nessa Finale. Sereno como nunca esteve antes. Ciente de que tinha um papel a cumprir e que nada viria sem sacrifício. Sou fã de Charlie Hunnan e aplaudo o trabalho dele na série e no episódio. Desde o momento em que descobre sobre a morte de Tara ele ganha outro ar e trilha seu caminho sem receio.

Quando ele diz que “todos os vilões vão morrer” Jax não está se excluindo e foi ali que eu soube que o final que imaginei era, de fato, inevitável. Nunca fui capaz de ver Jax sobrevivendo a tudo isso e ele mesmo sabe que não poderia ser de outra maneira. É por isso que, embora triste, aquele momento é precioso e necessário. Jax não teve uma morte sem significado e seu sacrifício é também uma libertação, que ele encontra de braços abertos.

Essa certeza de que sua vida tinha um propósito é que o move Jax em cada articulação final. Engraçado pensar que, lá no começo, os Mayans era inimigos ferrenhos e que agora, terminam como aliados e peças chave no plano de manter a ordem na cidade. O assassinatos dos reis do IRA foi algo que assisti com gosto. Torci muito para que fossem dizimados desde a primeira vez que deram as caras na série e Jax não deixa por menos. Ninguém sobrevive depois de matá-los? Pode ser. Mas Jax nunca planejou ficar vivo para ver o que viria depois.

O acerto de contas com Barosky foi rápido e sem meias palavras. A emboscada para August também, com um Jax muito parecido com o ceifador. Aliás, o ceifador que sempre apareceu em momentos estratégicos e era mais do que um símbolo cravado na mesa do clube e nas tatuagens tão marcantes. O ceifador ou a morte sempre rondaram esses personagens na forma mais inesperada: a de uma mendiga. Não existe disfarce melhor para a morte do que uma criatura que é invisível aos olhos da maioria maciça dos homens.

Para lembrar de duas recentes aparições do ceifador, basta olhar o penúltimo episódio, quando a mendiga passa por Gemma no estacionamento de caminhões. Ela também aparece com um garfo em mãos, na época da morte de Tara e os significados não param por aí.

O pão e o vinho, numa leitura do viés religioso, significam, respectivamente “dar o corpo em favor de algo ou alguém” e o “sangue derramado em favor de algo ou alguém”. Aqui, portanto, o pão e o vinho são uma metáfora do sacrifício de Jax, que doa tudo de si para salvar o que mais ama: sua família, representada pelo clube e pelos filhos. Filhos que, depois de tudo isso, ainda podem ter o mesmo destino, vale a lembrança. Abel era a “esperança” de Gemma para manter os Teller na liderança do clube e o anel nas mãos do pequeno não passa incólume.

Uma das sequencias mais tristes é de Jax abrindo o jogo com Nero e confiando a ele o futuro de Abel e Thomas, junto de Wendy. Foi uma despedida para nos fazer chorar, principalmente porque essa foi a primeira vez em que Jax agiu para salvar os meninos. “Eles devem saber que eu era um criminoso”. Wendy tem a função de fazer o que Gemma jamais faria: parar com a glamorização da vida bandida e afastá-los de vez do futuro que Tara temia que acontecesse.

Com o clube a emoção não foi menor. Chibs assume a presidência a contragosto enquanto Jax prepara o terreno para que os Sons sejam mais abertos, com a admissão de negros, o que ele firma com a chegada de T.O. Esse era um tabu, que inclusive, amedronta Juice por um longo tempo. Jaz deixa um clube melhor, de certa forma. Um clube que começa a ganhar vida depois de tantas e tantas perdas trágicas.

 Não podemos esquecer de Opie, Bobby, Piney e do homem que amamos odiar por tanto tempo: Clay. Sem eles, a série não teria sido a mesma. . Sons Of Anarchy não seria a mesma sem as mulheres. Sem Gemma e seu reinado com mãos de ferro. Sem Tara e seu instinto materno. Sem cada morte, sem cada tiro, explosão, sem cada momento de agonia e tensão, sem cada momento de tortura e paixão. Sem a crueza das relações, sem a estupidez dos homens da lei e a ousadia dos que assumiram a vida de crimes, vestindo um colete de couro, vivendo um dia de cada vez, enquanto pilotam uma moto estrada a fora.

P.S*Confesso ter achado os efeitos ou “defeitos especiais” desnecessários. Preferia que tivessem optado por algo mais simples, mas isso não é motivo para criticar um episódio tão bem escrito.

P.S*Sentirei saudade dessa trilha sonora incrível.


P.S* Mais um adeus por aqui e meu agradecimento por todos esses anos em que acompanhamos Sons Of Anarchy lado a lado.
Comentários
3 Comentários

3 comentários:

Pati Melo disse...

Uma das melhores séries que eu já acompanhei sem dúvidas. #RIPSoA

Fabiana Soares Costa disse...

Ainda estou digerindo esse final e acho que vou me lembrar por muitos anos. Sempre esperei para ver a crítica por aqui, que para mim é a melhor de SOA.
Também estou triste com o final de série, que para mim não tem nenhum substituto no momento, mas também fico feliz que tudo tenha terminado tão bem resolvido.
Acho que a série conseguiu mostrar lindas cenas para os amantes das motos: belas perseguições, cenas de ação, vento batendo na cara, a tão desejada liberdade. Mas por outro lado, mostra que essa vida bandida não poderia ter outro final senão a tragédia.
Vou sentir falta das suas resenhas perfeitas também.
Agora preciso encontrar outra paixão, alguma sugestão?


PS: esse sistema que vocês implantaram nos comentários é péssimo, quase desisti, muito complicado e pede muitos passos para deixar um simples comentário, ainda não consegui no momento que estou escrevendo.

Juliana Ribas disse...

Adorei a resenha! Agora nos resta a saudade!