A sorte mora no Grey-Sloan Memorial Hospital.
A despedida de Cristina Yang já pode ser considerada o maior
evento televisivo de 2014. Não pela magnitude (que já se perdeu), mas pela
duração etérea do tema. Poderiam ter utilizado o episódio anterior agora, na
véspera da temporada ser encerrada, mas o acho que objetividade não anda muito
em pauta.
Teria sido uma excelente “Parte 1” para a saída da
personagem, mas ainda tivemos esse episódio de recheio, que não traz, de fato,
nada muito novo para Cristina, que fica fazendo entrevistas e lendo currículos.
E temos o repeteco da situação de Owen que demonstra ter zero amor próprio. Ele
não tenta fazê-la ficar, mas quer ficar com ela até o último minuto, para
depois seguir a vida. Parece ser algo muito sofrido de se propor a si mesmo e
ao outro, especialmente quando não há qualquer perspectiva. Gostaria que Owen
não ficasse tão mal nessa situação, mas fica. O personagem só perde mais e mais
a cada dia e não sei o que farão para recuperá-lo, se é que isso será possível.
O que fica claro com esse episódio é que existe sim, entre
os roteiristas, a consciência de que a série precisa mudar. O diálogo final de
Meredith e Derek é a prova disso. Eles sabem. Grey’s Anatomy precisa de vida,
de alma, de ação, de romance, de bons dramas. De tudo o que está empacado há
tempos, transformando a série num marasmo sem fim.
Se o cancelamento não é uma opção, ficar do jeito que está
também não é. Livrar-nos de Murphy não é solução, mas já começa a ajudar.
Mandem embora também os outros três internos. Tragam novos personagens com
histórias que empolguem e recomecem a série com novo gás, porque sabemos que
Grey’s Anatomy tem o poder de se regenerar. Já vimos muitas vezes, mas agora
estamos num ponto em que “ou vai ou racha”.
Imaginem mais um ano de Callie e Arizona em crise. Vocês
aguentam? Não há mais nada o que explorar com elas e ficamos diante da gravidez
impossível de Callie, que também não quer que Arizona engravide pelo casal
estar frágil. Se elas são frágeis a gravidez de Callie também seria uma ameaça,
então? Não vi muito sentido.
E mais um ano de brigas de casal com Avery e April, quem
atura? Não brigaram nesse episódio e foram fofos com o lance do bebê, mas logo
teremos a saga de Catherine Avery tentando dominar a vida do neto e muitas
discussões sobre como se livrar dessa sogra víbora.
Agora, imaginem mais um ano de Karev e Izzie Wanabbe, digo,
Jo. NADA acontece com esse casal. Saudade do tempo em que Karev pegava as
pacientes sem identidade. Acho que Karev e Jo é o pior casal da história da
série. Talvez empatados com Derek e a enfermeira avulsa, mas até esse casal
teve um propósito, algo que entre Karev e Jo não existe. Ah, e Karev invadindo
o hospital para roubar cirurgias? O que foi isso? Incompreensível, assim como a
súbita inabilidade de Murphy, que passou o episódio comendo feito louca e
arrotando na nossa cara para ser dispensada por Richard com aquela desculpa
péssima.
A história de Bailey, por sua vez, é puro golpe de sorte. Não
entendo como alguém pode achar isso bom ou meramente aceitável. A carreira dela
foi redefinida por sorte. Sorte de que Stephanie é suicida profissional, sorte
de os pais do garoto engolirem a história, sorte de não processarem. E todo o
tempo dava para saber que não haveria consequências o que é, de verdade, a pior
parte.
Espero que consigam criar algo de bom para Amy na próxima
temporada, porque a pobrezinha só fica cozinhando e sendo babá de luxo para os
filhos de Meredith e Derek, enquanto também dá uma ajudinha na sala cirúrgica.
Trama vergonhosa e sem o menor brilho, se é que dá para chamar isso de trama.
Pelo menos, ficamos na expectativa de apenas mais um
episódio. E que no ano que vem, sem Cristina, a coisa melhore. Porque ver
personagens em conversas sem impacto e em histórias que apenas se repetem vai
ser impossível.