Salvando o planeta com chiclete e cortador de unhas.
Por problemas pessoais não consegui ver os dois episódios de
Almost Human - sobre os quais falarei
nesse texto – na semana em que foram exibidos. Só estou citando esse fato
porque, curiosamente, pude observar, à distância, as opiniões de quem resolveu
apostar na série, pelo menos por um tempo. Foram poucos os elogios. A grande maioria
dizia que a série estava fazendo “fillers” e que já estava largando tudo porque
o esquema de caso da semana não é um grande atrativo.
Realmente, concordo com a segunda afirmação. Não sou a maior
fã de procedurals, mas por enquanto, Almost Human está entregando os casinhos
do dia de um jeito bem interessante e que, no fundo, me lembram bastante do
modo como Fringe se desenvolveu no começo. Quero evitar esse tipo de
comparação. Sei que gera expectativa e que isso pode ser fatal. Mas eu não
espero que Almost Human seja Fringe, inclusive, apesar das referências à série
que apareceram nos dois episódios, a dinâmica é bem diferente. Para mim, AH é
mais leve e tem um humor muito mais fanfarrão. E essa veia cômica que corre
solta pela relação de Kennex e Dorian tem sido o que mais me atrai.
Acho que agora é uma
boa hora para dizer que discordo dos descontentes e que as pessoas precisam
aprender o conceito de “filler” antes de usar o termo em vão. O que eu percebo
nesse inicio de série é um monte de casos que parecem desconexos, mas que no
fundo, não são. Posso estar enganada? Mas claro. Só que eu duvido muito que
alguém faça uma série com o nível de apuração técnica de AH e com os roteiros
bem escritos que se apresentaram nesse primeiro mês, para simplesmente ter uma
temporada que não leva a lugar algum.
Simplesmente não faria sentido e seria um monte de dinheiro jogado fora.
O grande lance das produções de ficção cientifica é que elas
começam nebulosas. E leva tempo até desvendarmos a trama, os personagens, as
intenções. E essa é a graça da viagem. Não é a primeira vez que digo que
pessoas que sofrem da necessidade da “ejaculação precoce” não podem e não devem
ver ficção cientifica. Além do mais, no caso especifico de Almost Human, os
episódios têm boas cenas de ação e conseguem ser engraçados.
Fiquei muito feliz ao assistir “Are You Receiving?”. É curioso notar o esforço para humanizar os
protagonistas. Ambos. Dorian levanta uma questão sensacional sobre o medo de
morrer, que ele não deveria ter, mas sente. E isso tudo depois de vermos Kennex
contar a história de quando caiu no lago congelado quando pescava com o pai.
Nossa primeira referência à Fringe e todo o drama entre Peter e Walter no lago
gelado, mas que em AH vem para nos mostrar que Kennex tem sim, uma capacidade
disfarçada de estabelecer relações com o outro por meio de seus traumas. O modo
como ele usa as lembranças para acalmar uma das vítimas no vigésimo quinto
andar é muito bacana e cria empatia real.
Outra cena ótima é a aquela em que Kennex se preocupa em consertar
o parceiro. Se ele não considerasse Dorian como um colega jamais teria mascado
aquele chiclete velho para trazer de volta a tradição de McGyver às telas.
Sinceramente, acho que foi uma referência a essa série clássica, porque me
lembrou demais o modo como McGyver resolvia as coisas com um grampo de cabelo e
uma tampa de caneta BIC. O lance aqui é que as caras de Kennex, enquanto vai
grudando a cabeça de Dorian e cortando todos os fios errados, são memoráveis. E
depois ele ainda tenta esclarecer que “ninguém mexe com minha cafeteira”, mas
esse bullying é amor, já está bem claro.
Gostei bastante da parte tecnológica apresentada, com o
sintetizador que transforma as feições das pessoas e se provou utilíssimo para
os criminosos. Dorian como central telefônica foi um sucesso só, com direito
até a um português bem falado. E também fiquei intrigada com o tal roubo
daquela substância (desculpem, esqueci o nome da dita cuja), que veio de uma
série e pode se mostrar maior do que o caso da semana.
Em “The Bends”, mais referência a Fringe com o misterioso
Bishop comandando um laboratório de drogas ilegais, o que acabou me fazendo
lembrar de Breaking Bad, para finalizar. Maravilhoso o trio calafrio formado
por Kennex, Dorian e Rudy. Absolutamente disfuncional e bizarro. O caso, mais
uma vez, foi bem bacana de acompanhar, colocando no centro das atenções um
amigo de Kennex que estava desfiando o próprio chefe, sem poder sequer
imaginar.
Rudy, no auge de sua esquisitice, mandou muito bem. Ele é
atrapalhado na medida certa e o lance com o chapéu e os óculos daquele disfarce
foi pra nos provar a importância de acreditar no personagem. Minha critica para os coadjuvantes, se é que
posso fazê-la tão cedo, é que acho as mulheres muito mal exploradas na série.
Maldonado e Valerie ficam apenas debatendo o óbvio no QG e não colocam a mão na
massa. No entanto, sei que estamos engatinhando e que isso tende a mudar.
Mais uma vez, a tecnologia é destaque e amei as baratinhas
espiãs, assim como o GPS líquido. Dorian tem saído bastante avariado das
missões e, mesmo ele sendo um robô, tenho pena dele, todo estropiado. Só não
tive pena quando o robô drug dealer perde a cabeça e a coluna naquele guindaste
e essa sequência é mais uma que prova que os efeitos visuais de AH são,
provavelmente, os melhores da TV atual.
Para quem já estava querendo ver uma revanche de Dorian, que
sempre é a vítima das piadinhas de Kennex, dessa vez, vimos que a vingança é um
prato que se come frio. E vivo. E com gosma. O que foi aquele “sushi” super
fresco? Tão fresco que ainda estava inteirinho e na forma de lesminha do
futuro? Mais uma referência a um grande clássico: Timão e Pumba, entoando o
mantra, “viscoso, mas gostoso”.
P.S*Adoro ver os robôs sendo destruídos. Fetiche?