Culpa de quê?
Você sente aquele fundinho de
culpa por gostar de alguma coisa que os outros julgam brega, imaturo ou
inapropriado? Então esse episódio de Glee foi feito em sua homenagem e para te
ajudar na libertação dessas amarras. Está liberado dizer o que você ama, mas te
envergonha, pelo menos por hoje, se a coragem para “sair do armário” não for
muito duradoura. Você pode até assumir que adora Glee, se quiser, porque
afinal, gente que considera a série como ‘guilty pleasure’ existe aos
borbotões.
Com tantas músicas que só podem
ser descritas como “crocantes”, o episódio veio com a função pura e única de
divertir, cumprindo muito bem esse papel. O único desenvolvimento real de trama
foi em NY, onde Rachel encara Brody e termina o relacionamento. Agindo como uma
verdadeira quenga, oferece um troquinho para poder jantar com o próprio
namorado. Achei ousado, abusado e desaforado. Tudo bem que ela foi enganada,
mas essa história de jogar dinheiro na cara de Brody só porque ele vende aquele
playground para poder pagar as mensalidades de NYADA foi bem coisa de gente
mesquinha.
A sequência foi boa e ficou
interessante com a execução de “Creep”, numa versão meio gritada, mas que eu
ainda gosto. Até fiquei cogitando porque essa música estava num episódio sobre ‘guilty
pleasures’ (não fazia sentido, para mim), mas depois da briga, tudo se
esclareceu, porque ela é o contraponto dramático do episódio, por assim dizer,
e não uma canção de causar vergonha alheia.
Ainda em NY, conhecemos a
estranha obsessão de Kurt por seu travesseiro de braços, que tem todo jeito de
ser confortável mesmo, já que as meninas logo aderem ao uso, tendo seus “namosseiros”
customizados. Achei apenas certo que o de Santana viesse vestido de menina, já
que o clima do episódio era de pura cretinice.
E falando em cretinice, ela
correu livre, leve e solta pelos corredores da escola, que foi invadida por
canções deliciosas e os figurinos mais curiosos de Glee. Tudo ali girou em
torno da tarefa de revelar os ‘guilty pleasures’ e nada mais, o que quase
transforma esse episódio num completo filler.
Sam e Blaine comandam a bagunça
com maestria e acho impressionante como os dois conseguem ser hilários juntos.
Essa amizade inesperada foi uma mudança extremamente positiva nessa 4ª
temporada, muito embora existam fãs que são contra ‘Blam’, principalmente por
conta de ‘Klaine’. Apesar de eu achar fofo o casal formado por Blaine e Kurt, não
gosto de desvalorizar a independência criada para Blaine nessa temporada. Antes
ele era “o namorado do Kurt” e um elemento estranho em todos os outros casos.
Agora, o personagem tem vida própria, amigos, dramas. Muito melhor do que
antes, mais flexível e mais desenvolvido psicologicamente. Quem pensa apenas em
termos de ‘shipper’ para gostar de Glee, pensa muito, muito pequeno. Gente
assim não está interessada na série verdadeiramente e quer ver tudo afundar num
oceano de mesmice.
Com Sam e Blaine ganhamos essa
aura quase infantil permeando a série. Tudo com os dois é assim, em tom de
brincadeira de criança (algo que antes só existia com as tiradas maravilhosas
de Britanny) porque aquele vicio de transformar macarrão em arte só pode ser
brincadeira. Se aqueles retratos eram mesmo de macarrão, bato palmas. Estavam
perfeitos, de um jeito bem bizarro. Mas Sam, que se transformou num dos maiores
alívios cômicos de Glee com suas lendárias imitações, não para por aí. Ele
ainda revela ser um “Fanillow”, que nada mais é do que um grande fã de Barry Manilow.
Acho que tiveram o poder de escolher a música mais vergonhosa do cantor, porque
“Copacabana” é surreal. Ainda mais com Sam reutilizando os figurinos daquele
episódio com Ricky Martin. Uso de mangas
bufantes da Carmem Miranda nunca é demais, aparentemente. O engraçado aqui é
que a música em si não é legal, mas Sam leva muito bem e assume essa postura de
‘latin lover’, o que faz a sequência toda ser muito divertida.
E já que esse episódio era para
louvar essa linda amizade que luta contra a corrente, nada melhor do que mais
números musicais com ou sobre ‘Blam’. Voltamos a encarar o climão anos 1980 com
“Wake Me Up Before You Go-Go”, que teve direito a figurino em neon e efeitos em
luz negra. Muito cafona, mas perfeito para o momento. Aliás, comentário
estético e idiota: Blaine sem gel estava tão melhor. Deveriam adotar para
sempre esse visual, mas acho que vamos continuar vendo Darren Criss com o
cabelo grudado como um capacete.
Tivemos também “Against All Odds”,
do tiozão Phil Collins, que realmente se encaixa no conceito de água com açúcar
para dar aquela ambientação de romance para idosos. Associo muito com os
instrumentais de Kenny G. Blaine canta muito bem sempre e o ator soube colocar
em prática a sensação de estranheza necessária para a cena. Todo mundo
arregalou os olhos e ficou fingindo que estava tudo ok, quando foi bem fácil
sacar que a música de dor de cotovelo era uma declaração de amor para Samzinho.
Só que isso dura pouco e logo estamos num dos diálogos mais sensacionais da
série, com Sam dizendo que é gostoso para caramba (e todo natural) e que
ficaria ofendido se Blaine não tivesse essa paixonite por ele. A coisa se
completa com um abraço maroto e a clássica piada: “Isso é um drops ou você está
feliz em me ver?”. Como não amar e vibrar com tamanha ousadia de texto?
Outro grande abuso foi a bronca
em Chris Brown e o aviso público para Rihanna sobre sua decisão de voltar a
nutrir esse relacionamento, que é arriscada (olha a Lei Maria da Penha!), para
dizer o mínimo (e para não chamá-la de burra). Fiquei de olhos arregalados
nessa hora, mas achei a discussão válida, já que Glee não toca nesse assunto
pela 1ª vez e Coach Beiste (saudade) já foi o estandarte na campanha pelo fim
da violência contra mulheres. Como Glee é sempre controversa, os roteiristas (e
aqui, por roteiristas eu quero dizer titia Ryan Murphy, que isso é coisa dele)
Jake entoa a canção de Bobby Brown, o homem que seria responsável (ou que
ajudou bastante nisso) por fazer Withney Houston definhar. Pois é, pois é, pois
é.
Apesar da crítica social e dos
advogados entrando em ação para processar a FOX, a performance de Jake foi
ótima. Não me importei muito com a música em si, mas adorei a dança e as caras
de mamão feitas por Marley, durante toda a cena.
Para espantar tudo isso, só
relembrando a épica apresentação de “Wannabe”. Quatro anos de espera por Spice
Girls. Tinha que valer a pena. As
meninas estavam engraçadas e se adorando fazer aquilo, estava estampado na cara
delas e, por isso, não tinha como não ser a melhor música do episódio. É com
extremo orgulho que afirmo ainda ter meu CD das Spice Girls e ter visto um dos
piores filmes do mundo por conta delas. Esse amor pelas apimentadas estava espalhado
pela sala do Glee Club, mas Ryder e Artie são mais fãs que os demais,
obviamente.
O “Fondue For Two” com Kitty, a
cheerleader velha, revela que tenho muito em comum com ela e Britanny, porque
adoro e vi todos os filmes da saga “Apimentadas”, que mostra intrigas e brigas
pelo poder em competições de líderes de torcida. Também gostei de ver Britanny
dizendo que Kitty tem que parar de ser tão cruel com as pessoas e com Marley,
mas a resposta de Kitty é a melhor: “Eu sou assim e todo mundo ainda me conta
todos os segredos”. Verdade. Não faz
sentido nenhum.
Para encerrar bem o episódio, um
número também esperado há muito tempo. Não sei como passamos esse tempo todo
sem “Mamma Mia”, honestamente, mas valeu a pena esperar. Foi um final perfeito
para o episódio, com a letra da música se encaixando muito bem com a história
de Rachel, principalmente. Claro que sem a coreografia do pessoal de Lima,
arrasando nos bambolês e no look branco com dourado, não seria a mesma
extravagância.
Músicas no episódio:
"Wake Me Up Before You
Go-Go" - Wham! : Sam (Chord Overstreet), Blaine (Darren Criss) e New
Directions Guilty Pleasures
"Copacabana" - Barry Manilow: Sam
(Chord Overstreet)
"Against All Odds (Take A Look At Me
Now)" - Phil Collins: Blaine (Darren Criss)
"Wannabe" - Spice Girls: New Directions Girls
"My Prerogative" - Bobby Brown /
Britney Spears: Jake (Jacob Artist)
"Creep" – Radiohead: Rachel (Lea
Michele) e Brody (Dean Geyer)
"Mamma Mia" – ABBA: New Directions,
Rachel (Lea Michele), Kurt (Chris Colfer) e Santana (Naya Rivera)
P.S*Força para enfrentar outro
hiatus. Glee retorna em 11 de Abril.
P.S*Reparem no baterista da banda
do New Directions. Expressões faciais hilárias, o tempo todo.
P.S*Fiquei em êxtase com a citação a Small Wonder a imitação que Tina fez para a robozinha.