Uma questão de ponto de vista.
A história de como as coisas
acontecem é sempre parcial e Community se aproveita desse fato para o roteiro
dessa semana. A proposta é boa e interessante, mas principalmente, funciona. A
série se aproveita de seus próprios elementos e traz de volta o trio de alemães
para inserir aquela “pegada política” ao mesmo tempo em que mostra que é capaz
de entregar humor de qualidade nessa nova fase.
Nada mais justo do que retomar a
antiga rixa com os alemães, depois que Jeff e Shirley acabaram com eles naquele
campeonato de pebolim (totó, futebol de mesa, enfim, escolha seu favorito),
para tratar de um assunto que os americanos adoram: a Alemanha nazista. Quem
costuma assistir a filmes com essa temática sabe como o quadro é pintado. Os alemães
são tratados como vilões e os americanos são sempre os heróis.
Existe até a piada mítica de que
basta fazer um filme com nazistas matando judeus e americanos chegando para
salvar o dia que o Oscar de melhor filme já é uma garantia. E obviamente não
estou dizendo que os nazistas foram, algum dia, criaturas do bem, mas a ideia
do episódio ganha força ao colocar em xeque o modo como a História é
registrada. É mesmo uma questão de ponto de vista, como eu disse mais acima e
sendo assim, a verdade sempre será parcial. É a maldita (e tão criticada) subjetividade.
A opinião, por assim dizer. E Community prova que a subjetividade é a única
certeza que existe e que o ângulo de uma história é determinado pelo lado da
trincheira em que cada um de nós é colocado.
O uso da sala de estudos como
alegoria é excelente, assim como a construção da batalha entre os Greendale 7 e
os alemães. Jeff é mesmo Hitler, dono da oratória brilhante e que convence as
pessoas de que seus planos geniais são tudo de que precisam. E aqui, pelo
menos, os alemães não eram o grande problema, mas aqueles que tiveram coragem
de peitar o regime totalitário que impedia que qualquer outro estudante de
Greendale usasse a sala de estudos, sempre ocupada pelos grandes momentos
existenciais de Pierce, Britta, Annie, Shirley, Abed, Troy e Jeff.
Uma das minhas partes favoritas é
o golpe da Oktoberfest. Quem diria que bolo, salsichas e cerveja pudessem banir
alunos de áreas comuns (a maioria com água)? Aproveitaram até para criar uma
relação entre Abed e Karl, mostrando a camaradagem entre soldados. Confesso que
adorei o inglês falado com aquele sotaque germânico forçadíssimo, o que dava um
tom de palhoça às discussões territoriais. Vale também citar a presença de
Malcolm McDowell, do clássico Laranja Mecânica, como o professor de História
que aramou tudo (oi?) só para ensinar uma importante lição a sete alunos.
Paralelamente, Dean Pelton tem
que colocar o turbante de frutas da Carmen Miranda na geladeira, porque é hora
de lidar com o pequeno Kevin e sua Changnesia (Amdeanisia, no popular). Ele
também passa o tempo todo questionando as intenções de Chang e a veracidade de
sua falta de memória e aqui, não sei se Dean Pelton acreditou ou fingiu que
acreditou, ao vestir-se de enfermeira do funk (referência óbvia, não é mesmo?)
e resgatar Chang da cadeia. Eu, particularmente, não acreditaria naquilo. Chang,
sim, foi o cara que tentou destruir Greendale e assumir o poder. Ou não. Se
observarmos a questão como se fôssemos Chang, ele seria um cara que sofreu e
apenas respondeu à altura. É mesmo uma questão de ponto de vista.
P.S* Cena linda: das cadeiras
caindo, derrubando cada um dos membros da SS estudantil.