O outro
Sherlock.
Desde que
surgiram as primeiras notícias de que a CBS produziria Elementary, série
baseada nas investigações do famoso personagem de Sir Conan Doyle, Sherlock
Holmes, a polêmica começou. Afinal de contas, a ideia de modernizar os casos
clássicos, trazendo-os para os dias atuais não foi exatamente nova e a BBC já
havia lançado sua cuidadosa versão no ano passado, o que, obviamente, deixou
alguns fãs irritados e de má vontade com a produção da CBS, que lançou preview
do episódio Piloto para testar o público potencial, por assim dizer.
Muito embora
eu não veja razão para o ódio preconceituoso daqueles que gostam de Sherlock
Holmes e aproveitaram para detonar Elementary sem sequer conhecê-la, depois de assistir
ao episódio Piloto, uma coisa fica clara: O personagem principal poderia ser
qualquer policial/detetive/investigador ou similar, de qualquer procedural
criminal, de qualquer canal. A série leva o nome de Sherlock Holmes e é
bastante diferente da produção britânica, seja em ritmo, fotografia ou roteiro,
mas não gera a identificação com o personagem icônico que é o Holmes dos
livros, simplesmente.
A produção não
é ruim e o episódio é até interessante. Traz um caso curioso (embora não muito
bem aplicado nas questões dedutivas, tradicionais de Sherlock Holmes) e o
elenco é realmente bom. Ninguém há de dizer que Johnny Lee Miller, Lucy Liu ou
Aidan Quinn são atores ruins. Não são mesmo e todos já provaram isso, mas a
mesmice do mecanismo “casinho da semana” provavelmente não lhes fará justiça.
Em Elementary (e em qualquer boa série policial) o segredo está no texto, muito
embora esse “detalhe” seja perfeitamente ajustável.
Muitos
detalhes da personalidade de Holmes ajudam a caracterizar a versão de Johnny
Lee Miller, que trabalha como consultor da polícia de New York, já tendo atuado
também na Scotland Yard. Com um passado de vicio em drogas, Holmes ganha a
companhia de Joan Watson, interpretada por Lucy Liu, uma ex-cirurgiã que agora
é praticamente uma “babá de gente grande”.
Ao contrário
da opinião da maioria, a ideia de transformar Watson em mulher me soa bem e com
possibilidades de desdobramentos diferentes. É claro que a relação entre Joan e
Holmes é tumultuada e cheia de momentos desconfortáveis, em que ele expõe
certos fatos que ela gostaria de manter fora do radar. Em contrapartida, Joan
não faz o tipo que escuta desaforos e os aceita calada.
Ela devolve
elogios e observações com bastante astúcia e logo se transforma numa parceira
para Holmes, afinal, os dois acabam complementando os pensamentos e ações um do
outro. É assim que eles vão ajudar a descobrir a verdade sobre muitos crimes,
ajudando (ou atrapalhando, muitas vezes) a equipe do Capitão Tobias Gregson, interpretado
por Aidan Quinn.
Com algumas
qualidades importantes e algumas arestas a aparar, o desafio de Elementary é,
mais do que nunca, conseguir superar os obstáculos já surgidos nesse primeiro
episódio para se transformar numa série de investigação instigante. Aliás, essa
é a palavra exata e a grande chave para o coração daqueles que já são fãs de
Sherlock Holmes e de qualquer produção que envolva esse universo. O que atrai
essas pessoas é a inteligência por traz de cada dedução e a capacidade que
Holmes tem em apresentar casos insólitos e inesperados. Nesse ponto, a produção
da CBS, que estreia oficialmente em 27 de setembro, ainda peca.
Elementary conta
com Robert Doherty, Carl Beverly e Sarah Timberman na produção executiva.
Doherty também é responsável pelo roteiro. O episódio Piloto foi dirigido por
Michael Cuesta.