A temporada de previews está aberta na
NBC e por isso, ganhamos um pequeno adiantamento, com a chance de assistirmos
Animal Practice, uma das novas comédias do canal, antes de sua estreia oficial,
em 12 de setembro.
Esse mês de antecedência na exibição
geralmente é uma tentativa de aumentar a audiência e chamar a atenção do
público e da imprensa especializada, mas às vezes (e talvez esse seja o caso de
Animal Practice) o tiro pode sair pela culatra.
Pilotos de comédia geralmente não
primam pela genialidade ou por piadas eficazes. Isso é fato e ninguém espera
ter dor de barriga de tanto rir quando decide assistir a um deles. Mas sempre é
possível notar quais delas têm ou não têm chance de melhorar ou de criar
empatia com o público. É fácil perceber que há personagens e arcos que em algum
ponto vão te conquistar e fidelizar sua audiência. Animal Practice peca em tudo
isso, infelizmente.
Quando vi o material promocional pela
primeira vez temi que os animais – especialmente a macaquinha Crystal, que na
série se chama Dr. Rizzo – roubassem a cena e transformassem os atores em
elementos de figuração, enquanto a bicharada faria nossa festa. Nem isso
conseguiram fazer e o resultado são 20 minutos bastante aborrecidos e sem
qualquer inspiração. Por mais que quisesse não foi possível encontrar diversão
em Animal Practice.
A ideia da série, ao contrário do que
muitos possam pensar, não me soa ruim. Não totalmente. A execução do roteiro e
as tentativas forçadas de criar um “House veterinário” realmente são sofríveis,
porque toda a canalhice impressa no personagem principal – Dr. George Coleman,
interpretado por Justin Kirk – passa dos limites. Dr. Coleman ama os animais e
odeia as pessoas. Um grande clichê, sem dúvida, mas não haveria qualquer problema
nisso se o lugar comum fosse bem trabalhado.
No fim do episódio a reação de revirar
os olhos a cada frase dele já algo natural, porque é claro que o Dr. Coleman odeia
as pessoas, mas isso não o impede de citar, pelos menos umas 20 vezes, o quanto
gosta de cair em cima da mulherada (usando a profissão para tal), já que é
contra a monogamia e trata os seres humanos como um grupo de animais como
qualquer outro. Parece inteligente e interessante quando em teoria, mas na
prática não funcionou e tudo ficou absurdamente forçado, não contribuindo em
nada para o viés humorístico da produção. Só faltou inserirem “A gatinha tem
telefone?” ou algo do tipo.
Na verdade, ‘algo do tipo’ acontece,
quando Dr. Coleman leva seu colega de trabalho (mas não amigo, ele não é
chegado em ter amigos!) - Dr. Doug Jackson, vivido por Tyler Labine -, para
arrumar mulher no parque, usando o velho truque do cachorro para quebrar o
gelo. Antes, há uma profunda análise das personalidades femininas pelo tipo de
cachorro que cada uma possui, todas igualmente sem graça, numa sequência que é
realmente de doer.
Mas é claro que, no fundo, Dr. Coleman
é um romântico e guarda seus traumas amorosos, embora tenha de enfrentá-los
novamente, agora que Dorothy (JoAnna Garcia Swisher) sua antiga namorada está
assumindo a direção do hospital veterinário onde todas as loucuras de Coleman
ganham espaço. O estranho é que ela cita que herdou o hospital porque a avó
acaba de morrer, mas tudo bem. Dorothy está feliz da vida com isso e Coleman, o
antigo administrador da coisa toda sequer havia sido notificado. Sei que é um
detalhe besta, mas mesmo assim.
Os coadjuvantes também não ajudam. Dr.
Yamamoto (Bobby Lee) inspira apenas a vergonha alheia a cada diálogo, Juanita
(Kim Whitley) poderia nem existir e a única que ganha algum destaque positivo é
Angela (Betsy Sodaro) e suas falas sobre tempos na prisão, condicional e
observações sobre a dinâmica sexual entre Coleman e Dorothy.
Dr. Rizzo, é claro, é uma graça e tem
um dos currículos mais impressionantes do elenco. Para quem não sabe, Crystal é
também a ‘Annies Boobs’ de Community e esteve em ‘The Hangover Part II’. Tenho
a impressão de que o talento cômico da macaquinha serviu de inspiração para
Animal Practice e a série foi construída em volta dela, muito embora nem isso
salve a série. Pelo menos não esse Piloto.
Como as críticas têm sido ferozes,
talvez Animal Practice passe por reformulações e nesse caso, até existe uma
chance de a coisa engrenar e cativar. Por enquanto, o gato suicida na cena de
abertura serve como aviso.
Na lista de produtores executivos de
Animal Practice temos Scot Armstrong ("The Hangover Part II," "Old
School") e Ravi Nandan ("Best Friends Forever"), além dos
ganhadores do Emmy, Joe e Anthony Russo ("Community," "Arrested
Development") e Gail Lerner ("Happy Endings"). O roteiro é de
Brian Gatewood e Alessandro Tanaka ("The Sitter"), que também figuram
como produtores.