Será que acabamos de testemunhar o
fim de Community como a conhecemos?
Community tem um estilo
inconfundível. É o tipo de comédia que prima por detalhes e apresenta roteiro
sagaz, conseguindo fazer piada com as referências culturais mais inusitadas. Ao
ganhar o título de “série inteligente” acumulou mais haters do que fãs, verdade
incontestável que se reflete na audiência e no constante risco de cancelamento.
Quem é fã de Community, no
entanto, é aficionado de verdade. Acompanha de perto cada movimento, luta para
mostrar aos executivos da NBC que a série precisa de mais tempo no ar e tenta
convencer o mundo inteiro, sem cansar de que todos deveriam dar uma chance à
comédia. Foi assim que eu comecei, pelo menos. Pela insistência de quem já
sabia que era eu quem estava perdendo ao não ver Community.
Tudo isso foi dito por que
estamos em mais um daqueles momentos críticos, que se tornam ainda mais
gritantes diante dos dois episódios finais da 3ª temporada. Dan Harmon, criador
e showrunner da série é carta fora do baralho, o que leva a crer que talvez,
estejamos mesmo na timeline mais obscura.
Não há dúvida de que o clima de
insegurança é geral. Nenhum de nós sabe se a série será tão boa quanto tem sido
e a ideia de transformá-la num programa mais popular ou “mais fácil de entender”
não parece promissora. O diferencial de Community é justamente esse “nível
acima”, embora eu não ache que essa é uma comédia elitista ou complicada de
entender.
O que chama a atenção nessa reta
final de temporada é que estamos diante de uma divisão. A Era Dan Harmon foi
encerrada. E foi encerrada muito bem, amarrando a história de cada personagem,
porque ele conhecia os riscos de cancelamento. Dá até para encarar tudo como
uma grande despedida e, sei que não é exatamente um alento, mas se ano que vem
Community não for mais a série que amamos, basta olhar para a trajetória
traçada por Harmon até a Season Finale da 3ª temporada e fingir que acabou ali.
Nós queremos #sixseasonsandamovie, mas queremos com qualidade e principalmente:
a personalidade de Community. “Introduction
To Finality” parece apropriado para o que está acontecendo.
Antes de falar da Finale
propriamente dita, temos que passar pela maravilhosa Dinastia Chang e o fim do
maior sequestro da história das faculdades comunitárias. O tom revolucionário
da coisa toda foi muito divertido, até porque, Troy foi o homem honrado, que
arriscou a própria vida por um bem maior, ao se juntar ao curso
profissionalizante em reparo de ar-condicionado, só para ter dicas estratégicas
e chances de vencer o Poderoso Chang e seu exercito de infantes trolls.
Como não poderia deixar de ser, a
referência maior é ‘Ocean’s Eleven’ e o plano é de enganar, enganando e sendo
enganado. Ou algo assim. Minha cena preferida é aquela em que Troy e Abed
precisam desarmar a bomba de fogos de artifício, sob a tensão e o medo de
cortar o fio correto.
Outra cena ótima é a de Britta resgatando
o Dean Pelton. A decepção desse homem é totalmente compreensível. Passou meses
comendo sanduíche de geleia e pasta de amendoim com seu boneco Jeffrey,
sonhando em ser salvo por seu príncipe encantado e aí, quando chega a hora, tem
de encarar Britta vestida de boneca gótica?
Depois de tanta aventura, mínimo
era que os #Greendaleseven fossem perdoados e abraçados pela faculdade novamente.
Infelizmente, Troy teve de se juntar ao lado “assistência técnica” da força, enquanto
descobríamos que Greendale é uma grande rave nos fins de semana.
O mais bizarro de Troy indo para
seu sacrifício com o pessoal do AC, é descobrir que as aulas, por lá, são tão
cabíveis quanto as do curso normal de Greendale e que havia também conflitos
internos e uma versão de Chang que consegue medir ainda menos consequências.
Lembrei muito de Mad Max com aquela Gaiola do Sol que revela que sim, Troy
nasceu para consertar ar condicionado e ser o messias da assistência técnica.
O retorno de Evil Abed foi
realmente assustador. Passei o tempo todo querendo ver como ele amputaria o
braço de Jeff com aquela ferramenta mega potente, que mais parecia um mixer. A
sorte toda foi que a amizade e a bondade tomaram conta de Greendale antes que
fosse tarde demais.
O julgamento do caso da
Sanduicheria foi absolutamente surreal e muito disso se deve ao Dean Pelton,
citando os programas bizarros de julgamento e barraco televisivo, que só os
Estados Unidos sabem criar (mas fica a dica pro SBT). Sou mais o estilo de
Judge Amy, devo dizer, mas gostei mesmo foi do traje “Justiça Cega”. Aquilo é errado
e hilário por milhares de motivos.
Toda a sequência final foi feita
para deixar felizes os fãs da série. Britta conseguindo um retorno positivo sobre
sua carreira em psicologia, Troy virando mito, Abed vencendo seu alter ego,
Shirley e Pierce abrindo se negócio e Jeff percebendo que Greendale foi sua
salvação, afinal, ele poderia continuar sendo um advogado egocêntrico e babaca,
sem amigos de verdade. Mais do que isso: descobrimos que Starburns vive! Mais
do que isso, ainda: descobrimos que as batatinhas Let’s valem a pena na hora
compra!
Não deu para evitar aquele
sentimento de que estamos mesmo deixando uma parte da história de Community
para trás e essa nostalgia é estranha porque afinal, a série foi renovada para
meia temporada. Esses 13 episódios serão o grande teste. Se a “Nova Community”
emplacar a série tem chances de continuar, senão, está bem claro que são os
episódios que encerram a trajetória de uma vez por todas. Seis temporadas e um
filme? Para nós, fãs de Community, não custa sonhar.
P.S*Até a próxima temporada! Torço
muito para seja boa de verdade!