sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Joan Of Arcadia: Complete Series


E se Deus fosse um de nós?

Se você já assistiu Joan Of Arcadia, série exibida pela CBS entre os anos de 2003 e 2005, sabe bem o significado da frase que abre esse texto. Fiz questão de aproveitar esse pedacinho do refrão de “One Of Us” (by Joan Osborne) simplesmente porque ele é perfeito para descrever a produção, que foi sucesso de crítica na época, sendo um dos poucos programas indicados ao Emmy de ‘Melhor Série Dramática’ por sua primeira temporada.

Só isso já deve “vender” bem Joan Of Arcadia para aqueles que ainda não tiveram o prazer de conhecê-la e saibam de antemão: uma maratona com as duas temporadas e 45 episódios da série vale completamente seu tempo.

Infelizmente, como quase tudo o que é bom na TV americana, Joan Of Arcadia não durou muito. A audiência durante o primeiro ano bateu os 10 milhões, mas segundo consta, a queda para oito milhões durante a segunda temporada foi motivo suficiente para que a história ficasse por isso mesmo, o que é frustrante.

Não vou mentir. Dá gosto acompanhar cada episódio, mas quando você chega a Series Finale e enxerga as possibilidades não exploradas na possível 3ª temporada, a vontade de matar os executivos da CBS é inevitável.

Ao final da 2ª temporada é possível ver a convergência total de todas as intenções dos criadores e roteiristas, o “plano maior” deles, por assim dizer. É ali que se percebe que cada trama, cada história, cada pensamento, filosofia e discussão levantadas, cada problema entre os personagens havia sido trabalhado para aquela nova etapa.

Talvez seja apenas minha “ira de fã” falando mais alto, mas o que eu imagino que teria sido o 3º ano de Joan Of Arcadia é algo tão fenomenal que a decepção pelo fim precoce aumenta ainda mais.

Para quem não faz ideia do que se trata a série, a proposta é simples. Uma garota de 16 anos, Joan Girardi (Amber Tamblyn) começa a ter conversas com Deus, que não aparece como uma figura mítica envolta em luz e rodeada por anjos, mas apenas como um ser humano normal, que poderia ser seu vizinho ou o vendedor de enciclopédias mala sem-alça.

No começo tudo pode parecer aleatório nesses encontros entre eles, mas a verdade é que cada passo que Joan dá guiada por esse novo amigo, tem relevância e causa impacto, não apenas na vida das pessoas que a cercam, mas em todos os lugares.

O interessante é que essa premissa serve para a própria série. Nós talvez não enxerguemos logo de cara onde isso vai dar, mas em algum ponto, tudo fará sentido. Esse é um dos primeiros conselhos que Joan recebe de Deus, que aparece nas mais variadas formas.

Foram 57 atores escalados para o papel, todos impressionantemente coerentes com a “personalidade” dada ao Todo Poderoso. Depois de um tempo era fácil identificar Deus na multidão pelos simples gestos e olhares, pelo jeito de falar e também porque encaramos algumas formas mais comuns, como a menininha do parque, o bonitão, o gótico, a servente da escola ou o homem com os cachorros, curiosamente interpretado pelo pai de Amber Tamblyn.

A história é obviamente baseada nos relatos sobre Joana D’Arc (Joan Of Arc), a jovem heroína francesa que foi queimada como bruxa após vencer o exército inglês durante a Guerra dos Cem Anos. A série se aproveita da mitologia em volta dessa figura que, dizem, tinham conversas justamente com Deus.

A ideia toda de Barbara Hall, criadora da série, era trazer um pouco disso para o universo familiar e escolar da fictícia Cidade de Arcadia, local em que a família Girardi está começando vida nova depois de uma grande tragédia que fez Kevin (Jason Ritter) seu filho mais velho se tornar paraplégico.

Enquanto Joan vê sua vida de adolescente virar uma loucura de experiências variadas (todas gentilmente sugeridas por Deus) vamos conhecendo melhor cada personagem dessa trama e o resultado é um apego surpreendente à maioria deles. Se eu tivesse que apontar o que menos gosto diria que são os pais de Joan, Will (Joe Mantegna) e Helen (Mary Steenburgen). Os dois têm até bons momentos, mas em algum ponto o foco nos casos policiais e no trabalho de Will e os probleminhas domésticos do casal acabam cansando um pouco.

Fora isso, não sei apontar um favorito. Gosto bastante das nerdices de Luke (Mike Welch) o irmão mais novo de Joan; Grace (Becky Wahlstrom) com sua anarquia raivosa, assim a doçura de Adam (Christopher Marquette) que é simplesmente contagiante.

Sem dúvida o elenco todo tem bastante qualidade, mas o principal é que não estamos lidando com aqueles rostinhos bonitos que estão ali somente por isso. O esforço da produção para fazer essas pessoas “reais de verdade” é notável e faz a diferença.

Outro ponto importante está nas discussões levantadas pela produção. Não é preciso ser religioso ou acreditar em Deus para assistir, gostar e se divertir. A questão da fé é tratada com bastante delicadeza e bom humor, sempre impondo diversas visões sobre o assunto, questionando pontos chave, como a difícil união entre ciência e crença.

Por todos esses elementos Joan Of Arcadia deve ser tratada como uma jóia rara da TV. Infelizmente não foi possível vermos concretizadas todas as intenções da série, mas de forma alguma isso deve ser visto como demérito. O que foi produzido e levado ao ar é exemplo de entretenimento inteligente.

Comentários
8 Comentários

8 comentários:

Jessica Zanelato disse...

E lá vai mais uma série pra minha lista... Se for tão boa quanto Six Feet Under estou feita.

Camila Barbieri disse...

Não tem nada a ver com SFU, Joan of Arcadia tem um clima bem mais leve e bem humorado, mas é excelente! Certamente uma das séries mais interessantes que já vi.

Douglasmartinss disse...

Calma Jessica.. Joan of Arcadia não está no nível de Six Feet Under!! É ótima sim, mas totalmente diferente! =) Se bem q a atriz q faz a melhor amiga da Joan participou de Six feet fazendo praticamente o mesmo papel.. uma anarquista porra louca e chegada em artes!! hehehe

E pensava q só eu tinha visto e gostado! Era uma época que blogs sobre séries não existiam assim então era difícil saber se mais alguém tbm via e gostava! 

Fico feliz... e realmente uma pena que foi cancelada

Robson Cardinali disse...

Muita gente comparava com Wonderfalls, o plot é parecido mesmo, mas duvido que seja tão genial quanto a série do Bryan Fuller. Com certeza pretendo ver um dia.

Camis você devia ver Wonderfalls, de verdade, duvido que se arrependeria.

Lucasm_melo disse...

Vou assistir, já achei até o site pra baixar (seriesfree.biz), mas aqui Camis, você não vai mais postar reviews de The Lying Game não, a série só tá evoluindo... Por favor!

Camila Barbieri disse...

estou vendo o Jogo da Mentira ainda, mas só vou comentar a temporada qdo acabar. To me dando uma folga antes da loucura da Fall Season.

Lucasm_melo disse...

A tá, entendi!

Janaina disse...

Nossa Camis é isso mesmo, Joan of Arcadia é uma coisa rara de se ver, principalmente hoje, uma serie teen que todos que assistem se identificam um pouco, era emocionante e como você falou discutia temas como fé independente da religião, adorava a serie mas posso dizer que gostei mais da primeira temporada que da segunda (acho que é por causa da minha birra do Wentworth Miller e suas expressões faciais universais, que servem pra todo tipo de emoção e personagem).

Eu gostava tanto de JoA quanto Wonderfalls, apesar da mesma premissa o desenvolvimento era completamente diferente, enquanto a Joan era uma adolescente normal e vivia os problemas da idade a Jaye era extremamente canalha. As duas series valem a pena.