Benjamin Linus é meu personagem favorito de Lost. Aliás, pelo que vejo, deve ser o preferido da maioria dos fãs da série. Por isso mesmo, eu não esperava nada menos desse episódio focado nele, que expôs com brilhantismo as controvérsias da personalidade de Bem e trouxe à baila muitas referências ao passado.
Dessa vez até eu lembrei do Arzt, o cara que morreu segurando banana de dinamite,logo no comecinho da série. Além disso, começamos a entender um pouco mais qual o papel de Ilana e lembramos até mesmo da célebre morte de Rodrigo Santoro, quer dizer, Paulo, o único brasileiro a dar as caras na Ilha e que morreu com a pança cheia de diamantes, ao lado da namorada Nikki. À parte desse fracasso total de carisma, tudo isso serviu para ilustrar a ganância de Miles e o modo como ele pode usar esse dom bizarro de saber sobre os últimos momentos de vida de alguém. Essa maravilha da sensitividade, a mãe Dinah de costeletas grisalhas, joga Benjamin Linus no olho do furacão sem dó, despertando a ira de Ilana, que o coloca para fazer a coisa mais útil que pode imaginar, ao cavar a própria cova.
A situação de Ben na Ilha é complicada e ele sente o peso de suas decisões. Chega a ser estranho ver um homem que já se mostrou tão frio e capaz das piores atrocidades e joguinhos mentais, se tornar uma vítima medrosa, alguém se ação, sem poder e sem ter a quem recorrer. Nessas horas surge Lockezilla, balançando as árvores e fazendo seu barulho inconfundível, pronto para jogar e colocar Ben numa posição em que não terá outra escolha, a não ser juntar-se a ele e se tornar o guardião da Ilha, quando os planos de deixar o lugar para sempre se concretizarem. A reviravolta se dá em meio á fuga pela mata, quando Ben enfrenta Ilana e é sincero sobre seus sentimentos. O desespero acaba sensibilizando-a e Ben tem a chance de decidir de qual lado estará nessa guerra.
Aliás, preciso dizer, esse foi o primeiro flash sideway que realmente teve importância na trama. Bem, em sua vidinha de professor de história, mostra traços do homem que conhecemos, aquele capaz de artimanhas mil para conseguir o que quer. Porém, em sua convivência com Alex Russeau, que é sua aluna aplicada e me pareceu irreconhecível de banho tomado, ele não sacrifica a garota para ter um benefício egoísta. A relação com Locke, que também aí, o incita e coloca ideias em sua cabeça, é um retrato do que vemos na Ilha, nesse exato momento. Além disso, fica a irônica cena em que Ben tem um alegre jantar em família com o pai, que fala sobre a Iniciativa Dharma e as possibilidades de vida se tivessem escolhido viver na Ilha em definitivo.
Enquanto isso, descobrimos mais detalhes. Como por exemplo o fato de que Frank Lapidus deveria ter sido o piloto do vôo 815 da Oceanic, mas foi substituído após dormir demais. Como o destino não nega, ele foi parar exatamente onde deveria estar. Além do mais, minha teoria sobre a tortura de gordos continua válida. Hurley sequer tem o direito de falar em café da manhã que já ganha uma longa e árdua caminhada ao lado de Jack, que só pensa em emagrecer o colega.
O encontro com Richard Alpert, o homem do rímel natural, os leva até o navio pirata, cheio de dinamites. O desespero de Richard e sua decepção estão aparentes. Ele quer morrer e não consegue. Jack, resolve brincar de suicídio, mas sabe que nada que ele faça poderá acabar com a vida dele ou de Richard. Se a explosão tivesse funcionado, muita gente ficaria contente em se livrar de Jack e estou certa de que entre os estilhaços encontraríamos cílios postiços, rímel e lápis, aos montes. Como nada disso acontece, o jeito é voltar para a praia e cantar “Kumbaia” em volta da fogueira. A corrida de Sun, em câmera lenta, para os braços fortes e suados de um Hurley pós exercício, foi uma cena muito sensual de se ver. Confesso que, de tudo, não gostei da chegada do submarino, que podia muito bem ter ganhado a trilha de “Jaws”. Foi tão aleatório que não entendi o porquê de Charles Widmore ser o grande cliffhanger do episódio. Mas, tudo bem. Nem mesmo uma furada dessas tira o brilho desse excelente capítulo na história de Lost.