Mamma.
A Season Premiere de Sons Of
Anarchy não veio com espírito de brincadeiras. Em uma hora, Kurt Sutter mostrou
habilidades incríveis de desenvolvimento de roteiro e apresentou múltiplos arcos
que farão parte de mais uma temporada que promete aquela dose maciça de
violência crua que é tão característica da série.
É impressionante perceber o
quanto a trama se abriu já nesse retorno, porque o “tradicional” é que os
acontecimentos venham numa marcha mais lenta. Em SOA não há tempo para isso e
temos que ficar de olhos bem abertos para não perder nenhum detalhe. Fiquei até
com a sensação de que a série nunca teve uma pausa, mas acho que isso é
consequência da intensidade da temporada anterior. Como a série vem numa
crescente de emoções, espero sobreviver até a Season 7, quando tudo deve se
encerrar, se o planejamento original for realmente seguido.
Um dos destaques de sempre é
Gemma, que parece muito feliz e satisfeita sendo a Mamma. Mãe de Jax, dos
netos, dos barbados do clube. Esse é o jeito dela presidir e gerenciar a coisa
toda, sempre mantendo Jax numa espécie de coleira invisível, embora ele saiba
muito bem que é a mãe a responsável por muitos de seus problemas no casamento e
no clube.
Jax, aliás, volta a velhos hábitos
e logo arruma uma nova mulher (leia-se um novo problema) para interferir em sua
vida que já é bem complicada. Um pouco de distância de Tara, uma pequena
rejeição e pronto. A merda está feita. Também não dá para tirar a estupidez de
Tara dessa equação, afinal, por mais que ela deseje protegê-lo, escolheu o jeito
errado de seguir com o plano, o que é consistente com a quantidade de burradas
da personagem nos últimos tempos.
Na cadeia, além de Tara tendo que
se impor para não sofrer ataques das demais companheiras de cela, vemos Otto
numa situação terrível. Cena forte e muito bem dirigida, aliás, como todas as
que acontecerem atrás das grades e incluíram Lee Toric. Ele tem um plano e uma
obsessão, mas também tem vícios e problemas muito mais profundos do que
soubemos até aqui. Esse episódio o firmou bem como um dos novos inimigos da
SAMCRO, mas também mostra que ele tem pontos fracos a serem explorados. Clay,
que não fica de fora na lista de visitas de Lee, é claro, não decepciona quando
o assunto é fazer acordos para salvar a própria pele, o que coloca mais um
monte de areia nos planos de Jax e daqueles que desejam vingar a morte de Pope.
Confesso que já estou à espera de
que algo dê errado nessa relação comercial entre Jax e Nero. E muito dessa
sensação vem de outra, que indica que Nero e Gemma não devem durar muito. Ela
começa a se envolver com o filho dele, mas aquela cena em que presenteia o
menino com uma arma de água (não que armas de água indiquem que você está
incentivando a violência, mas enfim) mostra alguma fragilidade e o desgosto de
Nero.
Todos esses pequenos fatores,
somados ao enfraquecimento do clube em Charming, podem marcar a derrocada de
Jax na liderança. Tig ainda sofre com a morte da filha (cena em que ele explode
com o Persa pornógrafo é ótima) e continua com a cabeça a prêmio. Bobby está
profundamente decepcionado e começa a fugir dos companheiros. Chibs não
consegue concordar com todas as posturas adotadas por Jax e desconfio que ele
esteja certo quando o assunto é Juice. Depois da aliança dele com Clay,
desconfiar é palavra de ordem. Apenas Happy continua firme como uma rocha, mas
talvez seja porque, dentre todos, ele é o personagem menos explorado até aqui.
Apesar da claridade das ideias de
Wendy, quando fala com Gemma sobre a guarda de Abel, acredito que esse assunto
não foi inserido à toa e que ela colocará as manguinhas de fora, talvez até
retomando sua relação com Jax, em algum momento, roubando o lugar de Tara e
colocando Gemma de escanteio. Espero um grande golpe daí. Parece justo que, se
a sétima temporada for mesmo a final, Gemma e Tara tenham de se unir novamente
e recuperar o poder perdido, porque no final das contas, a série é sobre isso.
Clay deve ter alguma espécie de retorno triunfal, igualmente.
O que não pode passar sem
comentários, no entanto, além dos inúmeros desdobramentos e acordos comerciais
que não inspiram nenhuma confiança, é a presença do garotinho loiro, que acaba
promovendo um massacre em sua escola. No começo, achei que ele era parte de um
flashback, representando Jax na infância e acho que essa era a intenção, pelo
modo como os cortes de edição foram colocados mesclando cenas dos dois atores.
Minha impressão final é a de que
o garoto é filho de Jax. Ficarei surpresa se ele tiver entrado na história com
alguma outra conotação, mas em Sons Of Anarchy tudo é possível. O fato de
aquela criança ser tão torturada psicologicamente é um alerta. Inclusive,
reparando nas imagens naquele caderno (outro elemento que o liga a Jax, afinal,
os dois passa o episódio todo anotando e rabiscando de forma muito parecida) e
nas palavras escritas, existe ali uma grande carga de revolta contra o pai que,
nas ilustrações, aparece decapitado. Obviamente, dentre tudo, essa aura de
mistério em torno do menino é o que mais chama a atenção nesse começo de
temporada, nos dando a certeza de que vem muito mais por aí e de que Kurt
Sutter, esse safado, vai acertar a mão outra vez.