Cook-o.
Sete temporadas e três gerações
depois, ficamos diante da despedida de Skins. A série que mudou padrões e
introduziu novidades narrativas para um gênero onde os clichês predominam há anos,
certamente deixa sua marca na história da TV. Considerando seus altos e baixos,
Skins se consagra como uma das poucas produções que cumpriu seu papel e
conseguiu manter a maioria dos fãs interessados até o final. Para os que viram,
os que pretendem ver e para os que jamais chegarão perto de um episódio de
Skins, é preciso dizer que essa é, sem sombra de dúvidas, uma série adolescente
que transcendeu muitos limites e que, ao contrário do que outras por aí sempre
prometeram, se transformou num verdadeiro conto de horror para muitos pais.
Além de sempre trazer uma trilha
sonora marcante, Skins mostrou de perto personalidades mágicas e cruéis, usando
de extremos, muitas vezes, para colocar os holofotes sobre questões atuais. As
drogas, as bebedeiras, a sexualidade, a relação entre pais, amigos,
professores... Dá para afirmar que Skins, em todas as suas temporadas, foi
capaz de capturar a essência de muitos jovens. Houve, é claro, alguns deslizes,
mas no geral, a série se despede de nós com um quadro positivo. É fácil não
gostar de um ou outro personagem, mas é difícil encontrar quem tenha provado do
veneno de Skins sem apreciá-lo, ao menos parcialmente.
Ainda hoje temos os saudosistas
que acham que a primeira temporada foi tudo o que Skins teve de potencial e
que, depois disso, a série morreu. Pessoalmente, discordo. Agora, sob a
perspectiva do fim, vejo que os roteiristas nos apresentaram coisas ótimas ao
longo da jornada. É verdade que eu ainda não gosto nada de algumas tramas que
se estenderam nas Season 3 e 4, mas mesmo ali há figuras adoráveis que eu
jamais deixaria de considerar só porque o arco central era pobre, sem brilho e
completamente absurdo.
As duas primeiras temporadas,
verdade seja dita, também deixaram um desafio imenso para a 2ª geração. A
novidade que Tony, Sid, Cassie, Anwar, Chris, Jal, Maxxie, Michelle e Effy
trouxeram na época foi contundente. Só se falava em Skins e a mudança no elenco
(à parte de Effy) foi sentida na época e é lembrada como uma espécie de trauma
até os dias de hoje.
Para as Season 5 e 6, a mudança
já veio com menor impacto e era esperada com certa ansiedade. Há quem abomine a
3ª geração, mas particularmente, gosto bastante da proposta dessas temporadas
que são mais “pé no chão”, por assim dizer. Infelizmente, pela proximidade com a Season 7,
não tivemos nenhum personagem desse grupo entre os escolhidos para as duplas de
episódios que encerram a série.
A última temporada de Skins, por
sua vez, é uma espécie de janela para o amadurecimento de Effy, Cassie e
Cook. Em todos os roteiros foi notável a
injeção da personalidade de cada um e isso contribuiu muito para o sucesso dos
episódios. Talvez, se eu pudesse meter meu bedelho, teria mudado a ordem de
exibição. Abriria com Cook, matéria Cassie no meio e só então colocaria Effy na
jogada. Mas, de qualquer forma, a ordem pouco importa. Esse comentário é apenas
uma “chatice de fã”. Verdade seja dita, sempre achei Cook tão unidimensional
que preferia que ele não existisse e, nesse caso, preferia “ter me livrado dele”
primeiro, por assim dizer.
Quem tem acompanhado as reviews
dos episódios por aqui já sabe que gostei dos episódios de Effy e Cassie, não
só pelas personagens em si, mas pela proposta.
Com Cook, tive uma péssima primeira impressão e, logo de cara, pude
notar que o amadurecimento não havia chegado para ele. Depois de tudo, da morte
de Freddie e de sua fuga após matar o psicopata da Season 4, Cook continua
fugindo de suas responsabilidades e embora tente se manter longe de problemas,
tenta muito pouco. Quem não quer encrenca não trabalha para traficantes de
drogas e não tenta pegar a mulher do cara. Cook, apesar de tudo, não pode e não
deve ser visto como vítima das circunstâncias. Ele planta exatamente o que
colhe.
Quando analiso a história no
todo, apesar de tudo, ainda vejo algumas qualidades. O segundo episódio
consegue imprimir o tom de desespero que era pretendido, especialmente depois
da morte de Jason, ainda na primeira parte. Quando o nível de crueldade de
Louie entra em cena é que a coisa muda. Ele, apesar de ter participação
pequena, faz a diferença na história e serve como ele de ligação para que Cook
trace seu caminho sem volta, em sua eterna rota de fuga.
A presença de Emma é uma injeção
de doçura, mesmo que ela não seja exatamente uma menininha que vive sob todas
as regras. Enquanto Charlie faz o papel de âncora e afunda o navio, Emma tenta
içar Cook para a superfície. Seu final (e o dos pais) foi algo digno de filme
de terror. A visão dela pendurada na árvore é forte e difícil de esquecer.
Charlie veio para provocar e
trazer um pouco daquele atrevimento ao estilo de Effy que é algo tão atrativo
para alguém como Cook. Um cara que gosta de perigo e que vive para se colocar
nas piores situações. Um encaixe perfeito, como a fome a vontade de comer, para
usar uma analogia mais próxima.
No final das contas, Cook não
pôde resistir a ser quem ele é de verdade. Desaparecer, em termos físicos, pode
ser fácil, mas personalidades tóxicas e autodestrutivas raramente podem ser
suprimidas. Rise, para mim, traz esse
sentido. De que o verdadeiro eu de Cook voltou à tona, se elevou novamente,
depois de ser tratado como um gigante adormecido que não poderia ser
perturbado. Mesmo assim, fica a
impressão de que essa segunda experiência, tão próxima da morte, deixa nele uma
marca vitalícia de tristeza.
Cook era um “porra louca” feliz,
antigamente. Um maluco inconsequente que só queria viver a vida no limite
máximo. Quando ele chegou lá, percebeu que não havia a menor graça no extremo e
isso se traduz em cada diálogo em que ele descreve o que ficou depois de tudo.
Para “realmente ver” – como ele frisa algumas vezes – o que é vida e a morte,
Cook teve que ficar no limiar entre elas e deixar suas emoções marcadas sobre a
pele. Não deixa de ser um pouco do que Skins nos proporcionou ao longo desses
anos.
P.S*Mais uma boa série que se
encerra e, como sempre, agradeço pela companhia e pelos comentários. Até a próxima!