A pureza da resposta das crianças.
Em sete temporadas de Skins nunca houve um personagem como
Cassie. Em sete temporadas de Skins também não houve um personagem que tenha
nos deixado tão frustrados como Cassie. A culpa, é claro, não é da própria
Cassie, mas de roteiristas que deixaram sua história em suspenso, assim como
nossos corações. Com seus momentos quase alucinógenos e cheios de doçura
inocente, Cassie conquistou a todos nós ainda na Season 1. À parte de Effie,
ela é, definitivamente, a criatura mais marcante do universo de Skins.
Estranha, fora do comum e ao mesmo tempo simples, honesta. Foi e ainda é minha
preferida dentre todas as gerações e, não nego, tinha grandes expectativas com
as duas partes de “Pure”, esse epílogo em que pudemos, finalmente, ver Cassie
em franco destaque, com a tela toda praticamente só para ela.
De início, tive minhas dúvidas sobre a qualidade desse
texto. Parecia aquém do apresentado em “Fire”, mas o que precisamos notar aqui
é que o roteiro é o personagem. Se com Effy tivemos mais “momentos de ação” e
polêmica, por assim dizer, era apenas natural que, com Cassie, ganhássemos em
poesia e reflexão. Depois de assistir à história completa, senti uma espécie
estranha de satisfação, provavelmente porque eu nunca tinha tido o suficiente
de Cassie para formar uma imagem real dela. E ainda que ela não seja a menina
de anos atrás em suas atitudes, a atriz, Hannah Murray, guardou tudo de Cassie
no olhar. Em cada lance, em cada close, Cassie estava ali.
Sendo assim, quando o episódio nos mostra o quanto ela
encanta as pessoas (e os homens) com sua simplicidade, tudo se encaixa. A
relação dela com Jakob é dramática e nos faz lembrar um pouco de Sid, pela
timidez e pela falta de jeito. Por um tempo, cheguei a achar absurdo não termos
Sid nesses episódios, mas afinal, pude entender que a ideia era que ela fosse o
foco e não um casal. Ficamos com a dúvida (sempre cruel) sobre o encontro dos
dois nos Estados Unidos. Ela menciona “um cara com quem viajou”, mas é só isso.
Fosse Sid ou não, ele não faz parte do presente e do futuro de Cassie, que
superou sua relação com as drogas e a anorexia para se transformar em alguém
mais sólida e responsável, embora longe de ser bem sucedida ou feliz, no amplo
sentido da palavra.
Gostei do fato de termos essas explicações que nos remetem
ao passado. Os problemas de relacionamento com a mãe que agora se transferiram
para o pai depressivo e que fazem Cassie assumir o desafio de ser a mãe do
irmão mais novo. Uma das coisas mais preciosas dos episódios está na interação
entre ela e o pequeno Rueben, no quanto ela se esforça para que ele não sofra o
que ela mesma já sofreu, com pais ausentes e desajustados.
O lance com a fotografia foi um modo interessante de
capturar a alma da personagem. Sua beleza sem artifícios, sem máscaras. Claro
que isso veio junto de um mar de expectativas irreais da parte de Jakob, com
sua idealização da musa, além do limite da realidade. Inicialmente, achei muito
fraca a proposta do “perseguidor”, mas a impressão melhora aos poucos, com o
total desenvolvimento da trama.
Com Yaniv, Cassie queria apenas preencher uma lacuna de
necessidade física de companhia, de pele, mas nem mesmo isso faz com que o laço
entre eles se corrompa. Os diálogos entre os dois trouxeram maturidade aos
episódios, assim como os poucos momentos entre Cassie a vizinha que sonhava em
ser atriz. Em ambos os casos não houve espaço para ilusões e enganações, no
amor e na profissão.
A escolha da palavra “Pure” foi, portanto, extremamente
feliz. O conceito se aplicou à personagem, às histórias em torno dela e aos
relacionamentos propostos. Continuo olhando para ela e vendo uma criança que
mal começou a experimentar a vida e que não entende a malícia e a decadência do
mundo. Tudo com Cassie foi puro. Puro, simples e inesquecível.