É fogo que arde sem se ver.
Foi grande a espera pela
derradeira temporada de Skins, que escolheu três de seus muitos personagens
marcantes, para essa despedida. Depois de acompanharmos as desventuras de cada
geração, a série nos dá a chance de olhar novamente para algumas trajetórias.
Além de Effy, que é a grande estrela dos dois primeiros episódios, teremos
também Cassie e Cook. Esse último, talvez, o que gera menor expectativa entre
os fãs, porque no geral, nunca foi um dos favoritos do grande público.
O principal nos dois episódios
que inauguram a sétima temporada é o amadurecimento dos personagens e da trama,
que tenta nos dar um vislumbre do inicio da vida adulta de nossos velhos
conhecidos, mas em nenhum momento perde a essência de Skins. É outra série, mas
ao mesmo tempo as principais características se mantêm. Em termos de estrutura
narrativa, principalmente, já que o roteiro continua escolhendo um foco central
(Effy, no caso de Fire), acrescentando sempre uma ou duas figuras do círculo de
amigos para ajudar a “rechear” a história. É preciso notar, no entanto, que
Fire consegue trazer novos personagens e lhes conferir personalidade e
importância em apenas dois episódios. Dominic (Craig Roberts) e Jake (Kayvan
Novak) são exemplos claros disso.
A escolha do nome não poderia ter
sido mais apropriada e faz alusão à personalidade ardente de Effy, algo que ela
já mostrava em suas aparições pontuais ainda na primeira temporada, quando era
retratada quase sem diálogos, como a estudante dissimulada e que levava uma
vida secreta intensa, longe dos olhos dos pais. A partir da 3ª temporada
pode-se dizer que Effy ganhou voz e destaque. Além de ser uma personagem de ética
controversa e atitudes que quase sempre são apenas para seu próprio beneficio,
Effy mostrou inseguranças e adquiriu traumas. Obviamente, o talento de Kaya
Scodelario (e a beleza da atriz) contribuíram para que Effy se transformasse no
maior ícone de Skins e para que ela fosse uma escolha certeira para agradar aos
fãs da série nessa temporada final.
Pessoalmente, nunca fui grande
admiradora de Effy. Sempre preferi “personagens menores” por assim dizer, mas é
preciso admitir que em Fire é impossível ficar indiferente aos olhares de profundo
significado e ao que os roteiristas reservaram para ela. Foi a primeira vez que
gostei de Effy, de verdade. Provavelmente há mais pessoas que compartilham
desse sentimento, mas ainda acredito que a grande maioria já era “refém” muito
antes disso.
O que vemos nesses episódios é
verdadeiro e tem consequências, algo muito importante e que faz parte da vida
adulta. Ainda assim, é possível a menina que não tem medo de seduzir para
conseguir o que deseja. É fácil enxergar em Effy a pessoa que ela realmente é.
Intensa, manipuladora, mas nem por isso, má. No fundo Effy é uma garota que faz
o que pode para ser amada e isso se estabelece facilmente nas relações com
Dominic e Jake. O primeiro é o cara que ela mantém por perto para alimentar seu
ego e o outro é o cara que ela realmente deseja e por quem sente atração
física. Se formos analisar, Effy gostaria de ter uma mistura de Jake e Dominic.
Esse seria seu “homem ideal”, mais ou menos como na relação que ela manteve com
Cook e Freddy (aliás, achei Jake uma versão adulta e encorpada de Freddy).
Mas agora, Effy não quer apenas
manter os olhares masculinos. Isso é apenas parte do pacote ideal de felicidade
que ela imagina para si. O principal é o sucesso profissional e Effy mostra o
quanto é ambiciosa e vai misturando as coisas até conseguir o que deseja. Ela
usa Dominic para conseguir uma promoção no trabalho e usa o trabalho para
dormir com o chefe. Quando tudo desaba, ela pode ver quem realmente se importa
com ela, embora fosse óbvio desde o principio.
No mundo dos adultos, Effy
aprende que é preciso saber dosar seu poder e que, apesar de a sedução ser um
facilitador, não garante absolutamente nada. É um choque de realidade perceber
que a brincadeira acabou e que ela vai ter de arcar com as consequências. No
caso da compra e venda de ações com informação privilegiada, Effy precisa virar
mulher de uma vez por todas. Ela sabe que será presa, mas aproveita a
oportunidade como recomeço.
Muito disso se dá também por sua
relação com Naomi. O paralelo do sucesso e fracasso com as duas personagens é
extremamente bem trabalhado. Enquanto Effy sobre dois degraus de cada vez e dá
passos maiores do que suas pernas podem suportar, Naomi não pode pegar atalhos,
porque ela mal sabe o que realmente quer fazer da vida. Para ela, a
adolescência se prolonga, mas não por muito tempo. Em meio às bebedeiras,
drogas e irresponsabilidade, vem o câncer e a morte se aproxima cada vez mais.
Enquanto Effy esbanja frieza e demonstra
até falta de paciência, Dominic é só doçura e Naomi espalha verdades dolorosas.
Para quem sempre gostou do casal que ela forma com Emily, esse final deve ter
tido um gosto amargo, mas afinal, Skins nunca foi uma série sobre finais
felizes e essa essência não poderia mudar agora.
O que essa última temporada vem
mostrar é que mesmo quando não podemos ver o tempo não para. Entre erros, acertos,
amores, decepções, despedidas, dores e sucessos a vida continua. No caso de
Effy, a percepção de tudo isso é que vai levá-la ao próximo capítulo de sua
história, mas que ninguém se engane sobre a menina aprendendo a ser gente
grande. Dentro dela, o fogo nunca deixará de queimar.