De volta à Casa Branca.
Vez ou outra a política americana
- e mais particularmente a vida particular de seus presidentes - vira série de
TV, seja em forma de comédia, bons dramas, ou tramas de época. A grande maioria
viaja bem pelos bastidores reais ou fictícios e conta, com cuidado, a história
de legados e períodos marcantes. Exemplos não faltam. Temos The West Wing, John Adams e mais
recentemente, Veep ou The Kennedys. Political
Animals, do canal USA, também consegue fazer isso e surpreende com ótimo
roteiro, mas acima de tudo, excelentes personagens.
Vendida como minissérie (em seis
capítulos) esse é o tipo de produção versátil que cumpriu muito bem o papel a
que se propôs, mas que pode, facilmente voltar com mais uma temporada, que
complete a jornada da família Barrish/Hammond. Não há uma só pessoa que tenha
visto a série e que não deseje por isso. A “culpa” é dos personagens. Cativantes
e cheios de defeitos.
Mais do que o foco nas
negociações, tramoias e entraves políticos (que são interessantes e também
prendem a atenção) o grande trunfo de Political Animals é a rápida
identificação do público com os protagonistas da história. Já no final do
primeiro episódio o que fica é a afeição por essas figuras e a vontade de
descobrir o que o destino lhes reserva. Some-se a isso um texto ágil e que
nunca deixa o ritmo dos acontecimentos cansar o espectador, mais um elenco
talentoso e escolhido a dedo. O canal USA conseguiu colocar em prática uma
receita de sucesso, sem nunca exagerar nas doses de drama ou humor, porque a
série consegue viajar bem entre esses dois polos, nos agraciando com momentos
extremamente emocionais e outros em que o riso corre solto e com naturalidade,
afinal, as inúmeras menções à maravilhosa e belíssima “bunda diplomática” da
protagonista soam exatamente assim.
Livremente inspirada em Hilarie
Clinton, a personagem principal é Elaine Barrish (Sigourney Weaver), Secretária
de Estado dos EUA e antiga primeira-dama do país, com grandes aspirações
políticas. Elaine é retratada como uma mulher extremamente consciente de todos
os aspectos de sua vida. Ela sabe que suas escolhas profissionais afetaram o
futuro dos dois filhos e que seu casamento cheio de contratempos é motivo de
boa parte de sua rejeição nas urnas. Logo no começo descobrimos como Elaine
conseguiu o cargo que ocupa, ao se juntar a um de seus adversários na campanha
presidencial, depois de perder o primeiro turno.
Ao longo dos seis episódios,
conhecer e entender as atitudes de Elaine é uma das melhores partes de
Political Animals. Não é apenas o aspecto da política ou da família, mas também
os traços de sua personalidade. A força, a determinação, a inteligência e ao
mesmo tempo a candura e a piedade sempre presentes em tudo o que ela faz. Não
há dúvidas de que Sigourney Weaver se dedicou a esse papel, porque o resultado
é sempre positivo.
Depois de Elaine o personagem que
mais chama a atenção é T.J (Sebastian Stan). O bacana aqui é que T.J,
aparentemente, não tem nada a ver com política, de forma direta, mas sua vida e
seus problemas com drogas e para encontrar um lugar no mundo vêm todos daí.
Além de ele ter sido o primeiro filho de um presidente a se assumir
homossexual, T.J e seu vício em drogas acabam sendo peça chave em muitos
momentos e decisões, embora ele não tenha pela noção disso. A interpretação de
Sebastian Stan é inspirada e não contem uma gota sequer de afetação. Ele é
capaz de nos fazer rir ou chorar em cada cena, sendo o dono de algumas das
melhores sequências da série.
Douglas (James Wolk), o irmão
gêmeo de T.J não fica devendo também. Braço direito da mãe, ele faz o tipo
certinho e também tem grandes aspirações de uma carreira política, mas sua vida
na Casa Branca, sua experiência profissional em campanhas e as cicatrizes
deixadas por oito anos sob os olhares atentos da nação, o fazem agir contra a própria
mãe, mesmo que ele esteja num enorme conflito interno. Aos poucos, a pressão
vai tomando conta de Douglas e ele se vê no olho do furacão. Prestes a perder
sua credibilidade no meio político (já que era fonte de vazamento de preciosas
informações para a imprensa) e enfrentando um casamento sobre o qual ele sequer
tem certeza de que realmente deseja.
Bud Hammond (Ciarán Hinds) é o
ex-marido de Elaine e também ex-presidente dos Estados Unidos. Bud é um
mulherengo assumido, mas um homem astuto e que sempre apoia Elaine em sua
vontade de ser candidata novamente. Embora seja também um grande cínico e fonte
de momentos hilários, imbuídos de grande canalhice, Bud acaba conquistando a
audiência aos poucos, por seus cuidados e atenções com a família, o que não é
tarefa fácil quando temos a presença de Susan Berg (Carla Gugino) nos lembrando
o tempo todo de que ele na vale um tostão furado.
Susan é a jornalista que
construiu sua carreira perseguindo os casos extraconjugais de Bud e destruindo
a imagem de Elaine, que ela considera uma mulher fraca, por ter ficado ao lado
de Bud, mesmo com tantas traições reveladas. Susan, no entanto, acaba provando
desse mesmo veneno ao ser traída pelo namorado e editor do jornal em que
trabalha, o que a faz se aproximar de Elaine, compreendê-la e claro, ganhar
muitas informações exclusivas.
Aliás, vale ressaltar que a
relação fonte/jornalista é muito bem retratada, sendo um dos destaques da
série. É muito curioso notar o modo como o fluxo de informações segue seu rumo,
ao mesmo tempo em que os grandes acontecimentos políticos tomam lugar.
Dentre os personagens temos ainda
Margaret (Ellen Burstyn) a mãe de Elaine, que sempre surge com bons insights e
muita sinceridade; Anne (Britanny Ishibashi) é a noiva de Douglas e alguém que
precisa aprender a malícia de viver numa família cheia de políticos; O
Vice-presidente Collier (Dylan Baker) que é uma pedra no sapato de Elaine e
claro, Paul Garcetti (Adrian Pasdar) o presidente americano, que apesar de tudo
é um homem disposto a ouvir e aceitar os conselhos de Elaine, mesmo que os dois
tenham uma relação que varia entre aliança e traição iminente.
Cada um desses elementos faz de
Political Animals uma minissérie empolgante e a vontade de que o canal USA
transgrida o conceito de “minissérie” é imensa, afinal, uma segunda temporada
exatamente assim, curta e pontual, seria um presente.
A série é criação de Greg Berlanti,
que também é produtor executivo, roteirista e diretor do episódio Piloto. Ele é
responsável também por “Brothers and Sisters” (série familiar com muito foco em
política) e a deliciosa “Jack and Bobby” (série que mostra a adolescência de
dois irmãos, sendo que um deles, no futuro, será o presidente dos EUA).
Berlanti também esteve envolvido em produções como “Dawson’s Creek”, “Everwood”
e “Eli Stone”. Outro nome da produção executiva de Political Animals é Lawrence
Mark, que trabalhou como produtor em filmes como “Eu, robô” e “Jerry Maguire”.