Fim do mundo ou o começo de uma nova era?
Depois de sofrer muito com o que eu considero a temporada mais desleixada de Dexter a pergunta que abre esse texto não me sai da cabeça. Será que a metáfora do fim do mundo serve também para o fim dos tempos áureos da série ou será que o cliffhanger deixado nessa Season Finale terá o poder de trazer Dexter novamente para o Hall de melhores séries em exibição?
Não sei o que pensar, mas num ano em que assistir TV virou quase um desafio devido à quantidade de episódios chinfrins, estou inclinada a pensar que essa ladeira só tem uma direção e estamos indo para baixo.
Muitos fãs da série dizem que essa temporada foi boa. Gostam de comparar com a 3ª e a 5ª temporadas, respectivamente com os casos de Miguel Prado e Lumen. Discordo que tenham sido piores, apesar de eu também achar que foram lentas ou pouco criativas.
O que tem peso final para mim são furos e absurdo do roteiro e essa 6ª temporada foi um show de tramas ‘nada a ver’ e “coincidências” estranhas, firmando Dexter como o cara mais sortudo do mundo, porque até para um cidadão que nasceu com a bunda virada para a lua, a coisa foi além de todos os limites.
Revendo a cena em que ele escapa da armadilha de Travis, mostrada no episodio anterior, reparei que Dexter escapa das cordas roendo as ditas cujas, num golpe digno apenas de quem tem dentes de aço. É demais quererem nos convencer que ele saiu vivo daquela explosão por ter habilidades orais além da imaginação.
Eu sei que a sorte sempre foi um fator dentro da série. Quantas e quantas vezes Dexter se safou das piores situações porque o destino assim desejou? Muitas ou todas. Na verdade isso nunca me incomodou antes, mas acho que era porque, de certa forma, eu não me sentia ofendida.
Dessa vez, a cada peripécia dessa espécie eu tomava como ofensa pessoal. Eu sentia os roteiristas da série fazendo pouco caso de seu público e dizendo em suas reuniões “faz qualquer merda ae que esses trouxas vão continuar assistindo”. Será mesmo? Será que todos os fãs de Dexter voltam para encarar os dois anos já garantidos para a série? Não estou tão certa.
Quem acompanha as reviews da série por aqui sabe o quanto eu gosto de Dexter. Para mim, poucas coisas são tão geniais quanto as duas primeiras temporadas da série. Já assisti essas duas pelo menos por três vezes, cada. Não importa que eu saiba o que acontece, a sensação é sempre a mesma. Aquela era, então, a melhor série em exibição e se alguém me perguntasse o que assistir, Dexter era sempre a resposta.
Eu também gostei das temporadas seguintes. Todas. Podiam ter seus altos e baixos às vezes, seguir a fórmula, mas e daí? Eu me divertia assistindo e ainda via muitos lances inteligentes se desenvolvendo no meio de tudo isso.
Esse ano comecei animada. Gostei dos primeiros episódios, mas alguma coisa me incomodava. Primeiro os DEFEITOS especiais, depois, a história em si, que se tornou óbvia além do permitido. Minha admiração pela temporada chegou ao fundo do poço na semana passada. Para mim o episódio foi mal conduzido em todos os sentidos e esperei, portanto o pior dessa Finale.
Por incrível que pareça, não achei o episódio final ruim. Foi apenas um episódio bobo e com alguns defeitos, mas que de forma geral, fecha o pensamento da temporada e esse confronto de Dexter com a ideia de fé e religião.
O lance da sorte fica justificado como sendo “vontade de Deus”. Eu não compro essa, acho uma baita desculpa esfarrapada, mas tudo bem. Dentro do tema desse ano, é cabível. De qualquer forma eu não posso deixar de dizer que é abusar dessa ajuda divina colocarem Dexter matando o condutor do barco de imigrantes ilegais, na frente de todo mundo. Ninguém ali denunciaria? Lógico que não. Mas é uma exposição extraordinária de um personagem que sempre foi absolutamente meticuloso.
Dexter mudou? Mudou. Só que o código de Harry continua em prática. O zelo de Dexter com pistas de repente se transformou em algo seletivo. Ele escolhe quando seu descaso com a discrição é descartável. Qualquer um de nós sabe que deixar rastros é algo extremamente perigoso para Dexter e me surpreende que isso não incomode outras pessoas.
Fora isso, achei surreal o momento em que ele chega até a cena do crime em que está a pintura dele como a Besta do Apocalipse e, muito confortavelmente e convenientemente, NINGUÉM (eu disse NINGUÉM) da Miami Metro havia entrada no local, porque estavam esperando a chegada de Dexter.
Digam o que quiserem na tentativa de justificar. Nunca os policiais esperaram por Dexter em cenas de crime. Ele chegava e todo mundo já estava urubuzando os defuntos. Além mais, ele destrói o rosto do demônio com um martelo sem fazer o mínimo ruído. Isso é Deus desligando os efeitos sonoros do mundo ou dando surdez temporária aos funcionários da polícia, só para ajudar Dexter?
Tirando isso, o resto do episódio seguiu bem. Clichê, mas bem. Dexter matando Travis era uma certeza. Não temi pela vida de Harrison (fofo, vestido de leãozinho) nem um pouco e as declarações de amor de Deb já esgotaram meu nojo na semana passada. Adoro a ilusão dela de que Dexter disse “eu te amo” fora do sentido fraternal.
No mais, Batista tentando transferir Quinn e LaGuerta bancando a amiguinha de Deb são coisas idiotas. Salvo apenas a imitação de Masuka para Yoda e a possibilidade de que Louis sabe quem Dexter é e suas atividades extracurriculares. Esse assunto, porém, fica para o próximo ano, assim como a descoberta da mão enviada por Louis, cujo pacote Travis abriu.
Meu incômodo final, estraga até o cliffhanger. Deb descobrindo que Dexter é assassino ou, pelo menos, descobrindo que ele matou Travis, presenciando a cena, seria excelente e engraçado (porque a piadinha com Oh, God, fechando a temporada, foi boa para caramba) se Dexter não estivesse ali, matando Travis, justamente aonde Deb o mandouele ir, depois do concurso de fantasias da Arca de Noé.
No começo do episódio ela pede que ele reveja a cena do crime para encerrar essa etapa da investigação e ele, sem temer ser descoberto e sendo o serial killer mais burro e imprudente do mundo, resolve fazer o serviço ali mesmo, na igreja, porque Miami está em falta de bons locais disponíveis para assassinatos.
Não me conformo. É muita idiotice numa única cena final. E o pior é que Michael C. Hall estava numa atuação maravilhosa naquele momento. Essa descoberta chega bem atrasada à série (um ano, não é mesmo?) e era um momento muito esperado. Infelizmente, não acho que os 30 segundos finais sejam fortes o suficiente para redimir uma temporada de erros e barbeiragens.
Penso em Dexter hoje e fico frustrada. Como foi que minha série favorita virou isso? Como? Tenho até raiva só de lembrar os piores momentos desse 6º ano. Infelizmente, Dexter não soube lidar com o passar dos anos e não se adaptou às novas necessidades. Para sobreviver com dignidade é preciso seguir o difícil caminho de se reinventar a cada temporada, sem deixar de lado a essência que angariou tantos fãs inicialmente. A série ousada do começo é apenas uma repetição lamentável de si mesma, seis anos depois.
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