domingo, 26 de abril de 2015

Grey's Anatomy 11x21: How To Save a Life



Hoje é um lindo para gerar polêmicas.
 Derek Sheperd se foi. Morreu numa quinta-feira, depois de salva a vida de quatro pessoas, vítimas de um acidente de carro. Teve morte cerebral e foi vítima das circunstâncias. Deixa esposa e dois filhos, após uma trajetória de altos e baixos em Grey's Anatomy. Deixa também uma boa quantidade de fãs saudosos e enfurecidos com seu destino, além de um tanto de gente bradando que vai abandonar a série.


Eu não sou uma dessas pessoas. Aliás, esse episódio teve, em mim, o efeito contrário. Não existe sentimento de revolta, não existe rancor contra Shondanás, só existe a sensação de ter visto um episódio emocionante e inesquecível.Tive um experiência extremamente positiva com "How To Save a Life", embora eu não feche os olhos para diversas questões de roteiro e da situação da série como um todo, pontos que explorarei ao longo desse texto.

É importante ressaltar que existem dois lado da história. O nosso e o de Shondanás (representando, é claro, a equipe da série e a própria ABC). Nós, os fãs, desenvolvemos uma relação pessoal com os personagens e com a trama, somos, portanto, passionais e temos o direito de "xingar muito no Twitter" quando algo nos desagrada. Foi assim quando vimos aquele avião cair, levando Lexie e Sloan, foi assim com George O'Malley, com Denny Duquette. Ainda lembro da ira aflorando no meu peito ao escrever a review de "Flight". Aquela foi a tragédia mais gratuita que eu já vi uma série e continua sendo até hoje. Nada ali encaixava e eu odiei cada segundo.

Três anos depois, ainda detesto esse episódio e não vejo sentido nele do ponto de vista do fã, mas compreendo-o do ponto de vista de Shondanás, que precisa lidar com questões de audiência e criar sempre novas maneiras de incitar o público. Claro que existe nessa mulher um pouco de maldade e basta um ator dizer algo que a desagrada que a morte vira certeza, mas ela é estratégica. Transforma esses entraves de produção em episódios impactantes. Ela conhece o espectador de suas séries e joga com isso. O resultado são explosões de comentários, irados ou não, nas redes sociais (o termômetro da nossa era). Picos de audiência e a certeza de que ela vai continuar sendo uma das showrunners mais conhecidas e de que os executivos da ABC a adoram por seu trabalho.

Shondanás, que eu não chamo assim por acaso, é uma excelente profissional, no final das contas. Ela não tem o menor medo de ser cruel com o público que a prestigia e tem a certeza de que, mesmo sendo uma das mais ferozes assassinas da TV, tem audiência garantida. É a mais pura verdade.

Como estou com vocês do outro lado da linha, no entanto, também entendo o sentimento de frustração ao ver personagens queridos eliminados da trama. É horrível quando temos expectativas que não se cumprem e, se alguém aí sonhava com um final feliz para Meredith, Derek e os filhos, isso já foi pelo ralo. E aqui, temos que  apontar para o fato de que, Grey's Anatomy, é sim, uma produção que passou da hora de ser encerrada. A 11ª temporada está boa? Sem dúvida. Temos atestado isso semana após semana, mas já tivemos anos sofríveis e que testaram nossa paciência. As temporadas nove e dez não deixam esquecer.

A eliminação de personagens principais é um exemplo disso. Cristina não foi morta por sorte, convenhamos, mas pediu para sair porque Grey's, está no ostracismo. Tem episódios bacanas de acompanhar, mas aquela emoção do começo, a energia das tramas, diminuiu consideravelmente. Os atores não querem ficar presos em papéis sem desafios. É por isso que, rusgas com Shonda à parte, vimos a saída de diversos personagens, de Izzie Stevens a Derek Sheperd.

No caso de Derek, a saída pode até ser comparada com a de Cristina. Foi uma despedida bonita, num episódio inesquecível. Foi muito bom se considerarmos que o personagem estava largado às moscas faz um bom tempo. Derek perdeu função na série, convenhamos e esse momento foi construído cuidadosamente no roteiro e é por isso que acho muito "inocente" a surpresa das pessoas. As dicas pipocaram desde a entrada de Amelia assumindo a chefia da neurocirurgia. O casamento com Meredith ficou em segundo plano e ele resolveu ir para Washington, até o ponto em que ela disse "Eu não preciso de você, mas quero você". Estava lá para quem quisesse ver. E Derek, assim como um paciente terminal, voltou à ativa depois de um tempo em baixa, só para que sua morte tivesse o efeito que teve. 

Por tudo isso que elenquei, não vejo, realmente, a morte dele como algo negativo. Racionalmente falando, as pequenas participações de Derek na trama não faziam mais a menor diferença. Eram até bem chatinhas. E com a saída dele temos novas possibilidades para Meredith que, aliás, deu um show de interpretação nesse episódio. Ellen Pompeo estava fantástica e mostrou a força da "nova" Meredith. Essa mulher que, afinal, teve que aprender com tantas e tantas perdas.

Claro que tenho aqui minhas ressalvas. Por mais inclinação à tragédia que alguém possa ter, Meredith bate recordes. Mãe, pai, irmã, amigos, marido... Todos deixando marcas bem profundas na pobrezinha, com mortes horríveis ou assuntos inacabados. Se eu fosse Maggie fugiria para as colinas para tentar escapar da maldição de Meredith. Tudo que ela toca morre. Ou vai embora para sempre. 

Também acho que matar protagonista acaba sendo uma saída fácil para chamar a atenção e que o efeito tende a durar pouco. Tivemos aqui uma mudança no jogo, o que valoriza Grey's Anatomy, de certa forma. Se essa decisão foi ou não acertada descobriremos a seguir, com a 12ª temporada, mas geralmente, após grandes momentos, a tendência na série é a de decair em qualidade.

Patrick Dempsey também merece elogios pelo episódio. Sua narração dos momentos pós acidente, quando ele repassava procedimentos e previa a própria morte foram agoniantes e me levaram às lágrimas facilmente. E isso aconteceu intensamente, apesar de eu ter levado TODOS OS SPOILERS do mundo, antes mesmo da exibição. 

A construção da história toda foi bem bonita e estava presente ali aquela ironia de que o mais talentoso neurocirurgião é abatido por morte cerebral, além de algumas doses de despreparo e incompetência. Mas ele foi como um herói. Como o cara que não desiste e que honra a profissão. Fiquei um tanto pensativa a respeito da qualidade de atendimento médico e da questão do tempo. O episódio levanta esse debate sobre médicos serem humanos e passíveis de erros, tirando a ideia de que eles são deuses e jamais escolhem errado. Também me preocupou o fato de os médicos se empenharem apenas quando souberam que Derek também era médico e tinha salvado as vítimas do acidente. Como se antes a vida dele valesse menos.

Houve ainda uma situação bem incongruente no começo do episódio e não posso deixar passar. Na semana anterior, Meredith passa o dia ressabiada por Derek não atender o telefone. Ela desabafa com Bailey e essa mulher manda ela relaxar e despirocar só depois, mas em nenhum momento ela diz: "olha Mer, falei com Derek hoje cedo na sala de cirurgia e ele estava pegando um atalho para o aeroporto. O que acha de começar a procurar por aí?". Bailey não diz nada. Inclusive, qual era a motivação daquele telefonema no meio de uma cirurgia? Porque diabos Derek ligaria para falar bobagens com Amelia, Bailey e April naquele exato momento? Essa cena precisa de explicação na semana que vem, ou será um erro bem idiota.

Também houve quem questionasse o fato de Derek estar com o carro em pleno funcionamento, mas não pensar em levar ninguém pro hospital ou sair para pedir ajuda. Realmente, cabem perguntas aqui, mas dá para explicar com a regra simples de que não se move uma vítima sem a ajuda de paramédicos, por questões de segurança, mas enfim, ele já tinha atendido todo mundo ali e poderia sim, ter buscado ajuda. A resposta simples e verdadeira, porém, é a de que se Derek fizesse isso, ele não seria atingido por um caminhão, ao ser imprudente ao extremo, parando o carro na transversal no meio de uma estrada, só para caçar um telefone celular e, claro, perder mais uma ligação de Meredith, num local SEM SINAL DE CELULAR.

Mesmo com esses aprontamentos, ainda fico com minha impressão maior de que esse episódio trouxe para série uma dose de emoção mais do que necessária. "How To Save a Life" não salvou a vida de Derek Sheperd, mas nos mostrou muito sobre o que o personagem significou dentro de Grey's Anatomy e nos fez lembrar da história de amor que fez tudo começar. Talvez por isso a despedida seja dolorosa para muita gente, mas a série não é mais o que era há alguns anos e é preciso ousar no roteiro para mantê-la no ar por mais tempo. Mais uma vez, o desafio está lançado para Shondanás e sua equipe, mas vale lembrar que o tempo de exibição e o desgaste emocional do público são dois grandes inimigos a enfrentar.



Comentários
5 Comentários

5 comentários:

João Paulo disse...

Eu duvido que a série aguente mais de duas temporadas, tenho certeza que a próxima temporada será a última. A audiência vai cair drasticamente. Gostei dos pontos que você colocou, eu não gostei de terem matado o Derek (achei apelação ou vingancinha de bastidores), a história do personagem merecia mais do que só um episódio despedida, enfim concordo que a narrativa foi emocionante, principalmente no terceiro ato, caramba a Meredith chegando no hospital com as crianças e vendo o Derek daquele jeito, eu pensei, cara não precisava disso, essa mulher já sofreu demais. Enfim foi um episódio que eu pessoalmente não gostei, matar o personagem principal nunca é algo bom, a não ser que você planeje encerrar a série em breve. Vamos ver no que dá.




Obs: Camis a primeira coisa que notei foi esse erro de continuidade da conversa dele com a Amelia e a Bailey. Sério fiquei procurando na mente onde essa merda encaixava no episódio anterior.

Alynne Carvalho disse...

Nossa, mas a cena da ligação pra Bailey e Amelia e eu me lembrando que com as reações da semana passada nada fazia sentido me incomodaram bastante.
No geral, acho que a minha opinião é bem parecida com a sua. Frente à situação, Derek teria que sumir de alguma forma; antes assim do que depressivo pelo mundo pq Meredith não queria mais ele ou algo do tipo. Tudo em Grey's Anatomy, menos luto e depressão, pq são bem mal escritos, no geral.

No fim, eu gostei da despedida, apesar de saber o quanto a posição emocional de Meredith deve mudar a partir de agora. Anyway... hora de anunciarem o fim, não pq esteja ruim (já esteve bem pior em outras épocas), mas vai saturar por completo a qualquer momento.

Mayara Bernardeli disse...

caraca Camis você leu minha mente pra escrever essa review!!!! perdi um pouco da emoção porque também levei um monte de Spoiler de uns desgraçados aí. hahaha. Como que o cara para o carro na transversal no meio da rodovia logo DEPOIS de um acidente?!!! isso sim foi o que mais me chocou. "Derek perdeu função na série, convenhamos e esse momento foi construído cuidadosamente no roteiro e é por isso que acho muito "inocente" a surpresa das pessoas." concordo completamente

Regina Phalange disse...

Você elogiou todos os episódios da 9a temporada, não entendi porque citou como uma das ruins. Confundiu com a sétima, Camis??

Douglas Duarte disse...

Olá, adorei a postagem e adorei ainda mais seu blog, irei voltar mais vezes! =D

Já estou seguindo seu blog, se possível siga o meu também, Obrigado!!

http://curiosidadegerasaber.blogspot.com.br/