Ascensão e queda de Glee.
Quando Glee estreou me tornei uma
fã instantânea da série. Defendi a produção inúmeras vezes, entrei em longos e
calorosos debates com haters do tipo não-vi-e-não-gostei e exaltei as
qualidades da trama, da trilha e dos personagens semanalmente desde então. Mas
também fui honesta quando achei algo
medíocre, não gostei de alguma coisa e quando percebi erros graves. Essa
semana, estamos mais perto do segundo comportamento. Uma semana infeliz para a
série e para os fãs, que tiveram de aturar longos 40 minutos de uma história já
repetida à exaustão.
O pior? Glee não apenas sabe disso, mas passa
o tempo todo fazendo que sim, está repetindo tudo de novo, só porque, convenhamos,
não há mais o que fazer, na pobre e limitada concepção dos roteiristas e produtores.
É uma pena. Uma falta de respeito com todos nós, que estamos há seis anos nesse
barco. A série está em sua reta final, temos apenas mais três episódios e é assim
que teremos de nos lembrar da última temporada? Com uma coleção de episódios
que variam entre fracos e péssimos? Se essa é a intenção, parabéns. O objetivo
se cumpre com facilidade.
Dói bastante constatar tudo isso,
apesar da experiência que eu tenho (e sei que a maioria de vocês também tem) de
acompanhar a queda absurda de qualidade em todas as produções que levam a
assinatura de Ryan Murphy e sua equipe. Como eu costumo dizer, o homem sabe
como começar, te prender e te conquistar, mas ele invariavelmente destrói o que
construiu nas temporadas que encerram cada trabalho. Sempre tive a impressão de
que Ryan Murphy é como uma criança que vibra com um brinquedo novo, mas que
enjoa do mesmo rapidinho e larga tudo bagunçado para brincar com algo que
acabou de ganhar ou no caso, criar.
No caso, Glee é brinquedo velho
para ele e, por isso, somos condenados a assistir mais um episódio centrado em
Sue Sylvester em que nada faz sentido, sem mesmo considerando o estilo esquizofrênico
da série. O episódio é um amontoado de tramas abiloladas que não são engraçadas
e tampouco emocionam. Um amontoado de velharias repetidas entrecortadas por
músicas sem muito brilho e que resultam em um dos piores episódios da série.
Honestamente, não sei qual era a
necessidade de voltar a bater na tecla Sue. Oh, ela mente. Oh, ela é má. Oh,
não, ela é boa quando quer. Oh, ela vai destruir o New Directions. Oh, meu saco
cheio! Já vimos isso mil vezes. E já vimos isso mil vezes nessa temporada. É
tudo mais do mesmo, mas e daí?
Tá acabando mesmo né, roteiristas? Isso não
parece fim de série, parece fim de feira. Ficamos com o refugo. Com os repolhos
batidos e os tomates amassados.
Além de toda a ladainha de Sue,
ainda inventaram um incêndio na Dalton Academy e uma forçada união dos Warblers
com o ND. Opa, já resolvemos um problema aqui, pensam os roteiristas super
espertos de Glee. Agora eles têm uma justificativa para o ND vencer as
nacionais contra o Vocal Adrenaline, mesmo sem estrutura alguma. A emenda ficou
péssima, se me permitem a observação. Tão péssima quanto a entrada do garotinho
da semana anterior. Céus, para que tanta invencionice? Não dá para entender.
E então, Becky resolve que vai
dar uma lição em Sue. Até aí, ok. Talvez esse seja o plot com mais noção do
episódio, já que Becky, apesar de tudo, é uma espécie de elemento de equilíbrio
quando falamos de Sue. Mas, claro, a culpa de tudo é de Will Schuester e mais
uma vez ficamos na conversinha idiota de “vou destruir o Glee Club de uma vez
por todas”. E Sue vai fazer isso sendo treinadora do Vocal Adrenaline. Opa! Que
coisa mais incrível né? Só que não.
Devo dizer que no meio de tanta
coisa idiota, valeu a participação de Geraldo, um ícone do barraco na TV
americana. Para os mais novinhos, basta dizer que esse homem tinha um programa
que inspirou o formato do Casos de Família e congêneres, então, pelo menos
nisso acertaram a mão. Até mesmo a aparição de Michael Bolton valeu a pena,
assim como a mãe de Sue,interpretada por Carol Burnett.
Falando nisso, o clássico The
Trolley Song ficou bem legal e é a melhor música da semana. O que não quer dizer
muito, porque o resto foi bem resto mesmo. Rather Be não passa de ok, Far From
Over é aquela coisa sem emoção de sempre com o Vocal Adrenaline, The Final
Countdown aborrece até com aquele show de perucas ridículas e Rise nos mostra
um bando de engravatados que definitivamente não são e não representando o New
Directions nessa espécie de Paquitas New Generation.
E claro que não podemos esquecer
de Rachel, mais uma vez entre seu ego e sua mania de grandeza. Sam a gora vai
ter que arrumar 50 toalhas brancas e pistaches sem pele, toda vez que quiser se
reportar à namorada. O pior de Rachel nos assombra e ela é, provavelmente, uma
das personagens mais estúpidas da TV, já que nunca aprende e nunca evolui. Um retrato
de Glee, se me permitem a observação. Uma série que tem um histórico de
momentos incríveis entrecortados por outros onde o exagero estraga a
experiência. Nessa temporada de encerramento, em especial, precisamos de menos,
por mais bizarro que seja dizer isso. Glee deveria apostar no que é simples e
no que nos faz felizes em vez de tentar dar nó em pingo d’água. Uma receita
nunca foi tão fácil e tão difícil de seguir, ao mesmo tempo.
Músicas no episódio:
"Rather Be" - Clean Bandit feat. Jess
Glynne: New Directions
"The Trolley Song" - Judy Garland: Sue
Sylvester and Doris Sylvester
"Far from Over" - Frank Stallone: Clint
and Vocal Adrenaline
"The Final Countdown" - Europe: Sue Sylvester and
Will Schuester
"Rise" - Original composition: New
Directions