Um episódio que mostra porque Callie é a melhor personagem
de Grey’s Anatomy atualmente.
Já faz um tempo. Sim, já faz um tempo desde que Callie se
transformou de uma completa avulsa na trama de Grey’s Anatomy em uma personagem
essencial. Em alguns anos de dramas, romances, choros e risadas, ela alcançou
status na série e conquistou uma gorda fatia de fãs que, já no final da
temporada passada gritavam e bradavam com Arizona, por motivos óbvios.
Esse episódio, que vem diferente da mesmice que tem sido
apresentada nessa décima temporada, vem para mostrar porque amamos Callie. E
vem também para nos mostrar porque odiamos Arizona desde a traição. É um
episódio que faz isso ao nos mostrar que Callie erra que toma decisões erradas,
que vacila de vez em quando. Foi quase como um teste. Vamos ver se o público
ainda vai gostar de uma médica que faz um atleta olímpico perder as pernas.
Podem acreditar que esse é pensamento de Shondanás, essa mulher que adora jogar
sal na ferida, promover tiroteios, acidentes de avião e toda sorte (ou azar) de
desastres.
Meu veredicto final no caso do julgamento de Callie Torres é
que ela ainda é a personagem mais interessante de Grey’s nessa temporada. Adoro
Cristina desde sempre, mas existe um esforço para torná-la uma chata e isso tem
funcionado. Todos sabem que parte da preparação do terreno para a saída da
atriz do elenco não poderia ser tranquila e que a ira de Shondanás cairia sobre
Cristina e também sobre nós. Sim, sofremos a cada surto e a cada assassinato de
personagem nos roteiros, mas assim é a vida de quem escolheu acompanhar Grey’s
Anatomy até o suspiro final. O nosso ou o da série. O que vier primeiro.
Confesso que minha primeira reação ao episódio foi a de
pensar: “o que diabos está acontecendo?”. Pareceu estranho que uma parte tão
importante da vida de uma das principais personagens tenha sido omitida e que
ganhemos a coisa toda de uma única vez, com flashbacks para preencher as
lacunas. Não sou lá muito fã dessa tática, mas acho que funcionou. Deu um ar
diferente, trouxe surpresa e a história foi bem construída, tanto que prende
nossa atenção o tempo todo.
Imaginei que Callie seria inocente no final, mas esse não
era o ponto principal. O objetivo do episódio era mostrar o quanto ela é forte,
apesar de ser atingida por meteoros o tempo todo. Na vida pessoal, na vida
profissional, na mistura das duas. Callie é um saco de pancadas ambulante. No
final, vimos que apesar do esforço, a negligência existiu. Não foi intencional,
mas estava ali. A bagunça da vida acabou levando a erro médico de grandes
proporções, quase como se o universo orquestrasse o que deveria acontecer.
No meio da separação, da pressão, do medo e da culpa, Callie
resistiu. Saiu ferida, mas viva. E é por isso que gosto dela. Porque apesar de
tudo Callie não deixa de ser quem é e não muda de personalidade. Ela só fica um
pouco psicopata comprando meia-calça, mas quem nunca? Callie é sólida. Pede
perdão, enfrenta os próprios erros e tenta consertá-los. Fez isso com o
paciente e também com Arizona, ao pedir que ela voltasse para casa.
Aliás, um conselho bastante duvidoso a leva até esse ponto.
Não que não valha a pena tentar, mas é bastante complicado esperar que Callie
perdoe Arizona. A traição sendo, talvez, o menor dos problemas e apenas a gota
d’água. Percebam que enquanto uma passava por um verdadeiro inferno a outra
escolheu ter um caso com uma das internas e seguir em frente. Alguém mais vê
que Arizona está em outra dimensão? Com o lance do bebê nesse caldeirão a coisa
fica ainda pior. Sou capaz de apostar que esse problema na gravidez será
apontado como o motivo, razão e circunstância a influenciá-la em suas escolhas.
Se for isso mesmo, a babaquice de Arizona é ainda maior do que qualquer um de
nós poderia prever.