E disse o corvo: NUNCA MAIS.
Pegando carona no sucesso de
Pretty Little Liars, a ABC Family lança Ravenswood, um spinoff de clima
sombrio, com foco nessa cidade onde a morte ronda por todos os lados e na qual
coisas estranhas acontecem. Sendo assim, nada mais justo do que o Piloto da
série começar em sua série-mãe. Há alguns episódios, o público de Pretty Little
Liars vinha sendo apresentado às bizarrices de Ravenswood (que fica pertinho de
Rosewood), com o claro objetivo de fazer os fãs se interessarem e mergulharem
de cabeça na nova série.
A decisão de fazer de Tyler
Blackburn o protagonista, levando Caleb para a nova série também parece
estratégica, já que muita gente adora o personagem e toda sua sensualidade (Onde?
Cadê?) marota. Até aqui, fizeram tudo certo. Pegaram um tema que está em alta
na TV, uma série sólida (ruim, mas sólida) para dar o start e um personagem
amado pelas meninas (de 12 anos). Só esqueceram que para tudo isso funcionar
precisariam desenvolver uma história de verdade e não apenas jogar cinquenta
cenas fantasmagóricas e de péssima qualidade na tela.
A trama de Ravenswood não tem
força e é ruim até para quem gosta de Pretty Little Liars. Foca numa maldição
que recai sobre cinco adolescentes - sendo Caleb um deles – que aparentemente
já morreram no passado e, agora, estão juntos novamente para morrer e repetir a
ladainha. Por isso, temos muitas cenas em cemitérios, aparições da Samara de O
Chamado e escovas de cabelo que se movem sozinhas. ASSUSTADOR BAGARAI, NÉ? Não
posso deixar de lado a cena sensual do banho de Caleb (que prefere chuveiros,
registre-se) que quase morre afogado em dois palmos d’água, sendo atacado pela
cortina de plástico do banheiro. Tudo muito bem pensado para deixar o público
cabreiro e querendo saber mais dessa história, só que ao contrário.
O elenco da série, sejamos justos,
tem atores bacanas. Podem não ser vencedores do Oscar, mas mostram potencial
para atuar em algo melhor que Ravenswood. Gostei, particularmente, do trabalho
de Britne Oldford, que interpreta Remy Beumont, a filha do dono do jornal
local, mas os demais não deixam a desejar. Miranda Collins, interpretada por
Nicole Gale Anderson tem carisma, mas vai ser difícil de aturar que ela e
Caleb, que parecem irmãos gêmeos, sejam um casal no futuro. Brett Dier, que faz
Luke Matheson e Merrit Patterson, que viverá a irmã do moço, Olivia, também não
decepcionam ao mostrarem a família problemática, que sofre com o recente
assassinato do pai, pelo qual a mãe deles é acusada em praça pública.
O que decepciona é a história. O
episódio acaba com os cinco unidos, dentro de um carro que cai num rio depois
de uma das aparições de Samara. E ela sequer teve a gentileza de ligar antes e
avisar que restam apenas sete dias. A vontade de ver todos mortos e a série
acabando ali mesmo é a maior prova de que Ravenswood tem tudo para ser um
fiasco. Além disso, a série já começa com twist idiota, porque ninguém
acreditou que iriam matar os cinco protagonistas no Piloto. Mais um golpe de
pura babaquice da equipe de roteiristas do canal, que também não soube como
retirar Caleb de PLL sem ofender os shippers do casal que ele forma com Hanna.
Por isso, inventaram a terrível desculpa de que ela mesma é quem pede que seu
namorado fique em outra cidade para ajudar Miranda a se juntar ao tio, seu
único parente vive. Devo dizer que, ao usarem Hanna dessa maneira, toda a
ligação de Caleb e Miranda fica invalidada, já que ele está fazendo um favor
para a (futura ex) namorada e não sente a menor conexão a garota que conhece
num ônibus, a caminho de Ravenswood.
O tio de Miranda, vivido por
Steven Cabral é um arremedo de tentativa de copiar o clima sinistro de Six Feet
Under. Dono de funerária que faz cara de enterro o tempo todo? Não, obrigada. Não
preciso e não quero ver uma porcaria dessas. Claro que Raymond parece saber de
algo da maldição, assim como o pai de Remy. E claro que a morte do pai de Luke
e Olivia tem ligação com o mistério, assim como o misterioso retorno da mãe de
Remy, única sobrevivente de sua tropa no Afeganistão. Juntemos a isso as
lápides de Caleb e Miranda e temos uma salada mista em que nada faz sentido ou
soa remotamente interessante.
Tudo isso de defeitos e é bem
capaz de Ravenswood sobreviver por algum tempo na grade da ABC Family. Quanto a
mim, farei como o corvo de Edgar Allan Poe e direi meu sonoro NUNCA MAIS, ao
bosque dos corvos.
P.S* Engraçado que a casa do tio
de Miranda perdeu todas as teias de aranhas de um dia para o outro,
considerando que estava parecendo a mansão da Família Adams durante o péssimo
episódio de Halloween de Pretty Little Liars.