Um estranho no ninho.
Quando Grey’s Anatomy entrou em
hiatus, ficamos com a informação de que, daqui em diante, Avery seria o chefe
absoluto na nova conjuntura estabelecida para o Seattle Grace Mercy West.
Soubemos, ali mesmo, que isso traria uma série de conflitos naturais e que
dariam bastante gás à série, se tratados do modo correto. O que ninguém poderia
imaginar é que, já no episódio de retorno, tudo isso se transformaria em
emoção. Por que só isso descreve o efeito que esse episódio tem. É triste e
bonito ao mesmo tempo. Um dos destaques desse nono ano que começou sob tensão,
mas conseguiu conquistar o público da série.
Foi uma metáfora muito bem
colocada, muito clara e que teve o apoio das histórias paralelas por completo.
Era muito necessário fazê-lo, já que muita gente não aprovou a inclusão de
Avery na história central, principalmente por que ele não é considerado um “personagem
do primeiro time”. De fato, ele ainda não é, mas fica a impressão de existem
planos para fazer dele alguém de maior destaque. A mudança tem sido gradual,
inclusive e inclui também Kepner.
Com o sonho de um hospital
dirigido por médicos saindo do papel e se tornando realidade, o episódio mostra
os revezes administrativos, legais, contábeis... Um sem número de papéis,
relatórios, regulamentações. Tudo ali, precisando ser revisto, discutido e
colocado em prática para ontem, o que faz com que Avery fique no olho do
furacão, tendo de rebolar para não ser engolido por colegas mais experientes e
que não tem o menor pudor em demonstrar que não o respeitam como chefe.
A única pessoa a acreditar na
capacidade de Avery é sua mãe e Katherine acompanha o processo de perto,
refutando as dúvidas e questionamentos de Richard como uma leoa que defende a
cria na Savana africana. Avery passa um bom tempo calado ou tentando não ser
completamente minado, mas consegue sair do ostracismo e do medo paralisante de
falhar. Não faz muito, não faz milagre, mas sobrevive e consegue se impor. A
primeira a reconhecer esse fato é Bailey (que anda um tanto apagada, mas dá
para compreender, com tanta coisa rolando), uma pessoa que não se intimida
diante de nenhuma figura de chefia e sempre diz o que pensa.
Verdade seja dita, poderíamos até
achar que Avery é um “coitadinho” por apanhar tanto dos colegas, o tempo todo,
mas não enxergo assim a situação. É notável que o desafio e necessidade de se
provar farão dele um chefe melhor e com maior capacidade de tomada de decisão.
Sem criar essa “casca”, ele nunca será capaz de ser mais do que um residente de
cirurgia plástica, como Cristina insiste em repetir num tom pejorativo.
Com o grupo formado por Meredith,
Derek, Cristina, Arizona e Callie reunido e unido em todas as questões, Avery é
o corpo estranho, o órgão transplantado e que pode sofrer rejeição total e
destruir todo o processo. É por isso que todas as histórias do episódio giram
em torno disso e são extremamente bem construídas e encaixadas.
Mais uma vez houve um balanço raro entre humor
e drama. Começamos com os pacientes de Cristina, vizinhos de bairro, que se
tornaram vizinhos de quarto hospitalar e tem uma pendenga de traição para
embolar o meio de campo. A rabugice e as provocações entre eles fizeram rir e
encarar a situação com graça. As
artimanhas de Karev com sua paciente adolescente também foram mais para esse
lado e, apesar de seu mau humor e agressividade, no final, ele é capaz de
mostrar para Jo que está interessado. Aliás, os momentos ranhetas de Karev
também são engraçados e compreensíveis, porque ele ficou de fora de toda a
movimentação central e das decisões.
O que realmente mexeu comigo de
modo inesperado foi o rapaz que decidiu desligar os próprios aparelhos e doar
seus órgãos, ainda em bom estado, para salvar um monte de gente. Foi
surpreendente porque era um personagem absolutamente avulso e ninguém espera
debulhar um rio de lágrimas por um coadjuvante. A história era simples e
poderosa. E funciona porque faz com que cada um de nós se coloque no lugar do
paciente e depois, no lugar daquela mãe que chora desesperada, mesmo quando
aquela era uma morte agendada e planejada de forma 100% consciente.
Complementando a forte dose
emocional trazida por esse caso, vemos Avery despontar como um líder consciente
e que tem pulso firme, capaz de administrar mudanças sem usar a Fundação
controlada por sua família como escudo. Ali, Avery age apenas em nome do
hospital, de seus diretores e funcionários. E quando ele surge com o novo nome “Grey
Sloan Memorial Hospital”, aquele sentimento de perda que muitos de nós ainda temos,
vêm à tona, mas depois de tanto tempo, já dá ver tudo com mais calma e como uma
homenagem aos personagens que deixaram a trama de forma marcante (e
traumatizante).
Também foi bom ver Derek e Owen
conversando com honestidade, depois daquela briga no começo do episódio. Dá
para notar que muitas decisões estão endo tomadas pelo fator emocional e que a
ferida causada pela queda do avião está cicatrizando, mas não totalmente
curada.
P.S* Cristina MUITO antiética ao
contar para Owen da possível demissão.
P.S* Pior frase do episódio, by
Katherine: “Só existe um quarto em que eu aceito ordens do meu namorado.”.
Menos, muito menos, quase nada. Poderíamos passar sem essa.