Sobre fugas de prisão e Ação de
Graças.
Eu gostei desse episódio de
Community. E o mais estranho em dizer isso é, ao mesmo tempo, admitir que não
dei nenhuma risada de verdade, o que antes era muito frequente. É curioso
perceber que gostei do episódio pelo que ele representa para os personagens e
pelas referências apresentadas e essa é a verdade. Pode não sido a comédia mais
engraçada da semana, mas em termos estruturais esse foi um episódio bacana, que
reforça a relação entre os personagens e revela toda a cruel realidade que
sempre fica escondida em TODOS os roteiros sobre o feriado que nós mais
gostaríamos de celebrar (mas não podemos), o Thanksgiving.
Nesse sentido, Community vem com
um toque de denúncia. Sempre vemos um feriado atrapalhado, mas em que as
pessoas agradecem e compartilham por tudo de bom em suas vidas. Aqui não. Todo
mundo quer fugir da família e, eventualmente, da família dos outros, porque a
verdade é que feriado em família sempre acaba em briga, barraco e confusão e
não em gente feliz e harmoniosa numa refeição fácil de preparar. É claro que,
depois do sofrimento generalizado desse Thanksgiving, Community não fugiu da
tradição e apelou para o clichê da família unida, mas foi uma coisa boa. Fica a
sensação de que, apesar das mudanças, a essência ainda está ali e até Dean
Pelton foi incluído na celebração, o que é muito justo, porque ele se esforça
para invadir contas de e-mail e escutar as novidades colocando copos nas
paredes.
Tudo o que rolou na casa de
Shirley foi bem legal, com Abed aproveitando para imitar Morgan Freeman em sua
narrativa espetacular de “Um Sonho de Liberdade”. E como o feriado parecia uma
prisão torturante, nada melhor que aproveitar para desenhar o mapa da casa de
Shirley na barriga, como a tatuagem emblemática de Prison Break. Só não sei se
existe a necessidade de citarem tudo abertamente e tenho sentido que isso virou
algo comum nos episódios dessa temporada. Deve ser porque estão tentando fazer
a série ser mais palpável, afinal sempre houve a reclamação de que as pessoas
não pegavam as referências, mas essa “Community For Dummies” não se faz necessária,
na maioria das vezes, afinal, o público da série continua praticamente o mesmo
e não existe ninguém (ou quase) que decida começar a série por uma temporada
avulsa, sem assistir às anteriores. Qualquer um que acompanhe Community ou que
tenha visto em maratona conhece o estilo e está acostumado a prestar atenção
aos detalhes. Mas, enfim, é apenas uma observação.
A interação de Abed, Troy, Annie
e Pierce foi surpreendentemente interessante. A garagem se transformou num pátio
de prisão, que valeu comentários sobre como o corpo de Troy ficaria alterado
pelo excesso de exercícios e colocou até Abed levantando pesos e fazendo
trambiques. Dessa vez, a desculpa da menstruação (que sempre funciona!) furou e
Pierce continua sendo Pierce, ao estragar todos os planos e fazer até os parentes
mais bizarros de Shirley (que acham que Batman e Robin são gays, olhem só que
ABSURDO!) buscarem refúgio.
Impossível não se compadecer da
pobre Shirley, condenada a aturar gente louca por causa da Black Friday, o que
causa revolta em Pierce, que gostaria de instituir a Jew Friday também. A única
esperança dela é fugir pelo buraco na parede (outra referência de “Um Sonho de
Liberdade”), que vai ficar ali por muito tempo, ao que parece.
Longe dali, outra interação ótima
veio de Britta e Jeff que, ao reencontrar o pai, vai se libertar de sua prisão
psicológica. Essa parte mais emocional do episódio caiu muito bem e é minha
preferida. Seja pela franqueza com que Jeff encara o abandono e coloca tudo
para fora ou pelo modo como Britta utiliza pãezinhos em sua terapia doida, mas
que funciona.
A participação de James Brolin
foi boa, assim como a de Adam Devine, que fez valer o título de mimizento, ao
interpretar o pequeno Willy Winger, lembrando que ele seria Danny Devitto se a
vida fosse, de fato, um filme. Jeff ficaria com o papel de Arnold Schwarzenegger
no clássico “Irmãos Gêmeos”, o que acabou sendo outra boa referência.
P.S*Sinto cheiro de revival para
as pegações de Jeff e Britta. Será?