A hora de decidir se Community vai ser uma comédia de
referência ou uma referência em comédia.
Quando comecei a ver Community, um novo mundo se abriu para mim, na categoria
de comédias. Uma série inteligente e que conseguia ser engraçada ao fazer boas
referências a elementos da cultura pop, com um elenco afiado e talentoso e
texto ousado, que fugia dos padrões. Com todas essas vantagens, a audiência
nunca correspondeu, mas os fãs, mesmo querendo que a realidade de Community
fosse a de #SixSeasonsAndAMovie, sempre tiveram consciência de que séries assim
não duram tanto, mas deixam uma marca indiscutível.
É por isso que quando ouvimos as noticias da saída de Dan
Harmon houve quem defendesse o cancelamento. Nós, fãs da série, discutimos
muito sobre o significado nas mudanças estruturais da produção, depois ainda
enfrentamos um longo hiatus e o adiamento constante da estreia da nova temporada.
Agora, que pudemos ver dois episódios da “nova Community”, o veredicto é o um só:
a série já não é mais mesma. Até quem disse que gostou do que viu, assume esse
fato.
Confesso perplexidade diante do que vi e revi. Sim, revi.
Minha primeira impressão da Season Premiere foi tão negativa que resolvi ver o
episódio novamente, dias depois, com a cabeça fresca e a mente aberta. Eu não
tinha ilusões ou expectativas, eu só queria ver Community de volta. Não é pedir
muito afinal. E ali, no meio de um desespero palpável e de referências sendo
jogadas na tela como quem atira comida aos macacos num zoológico, comecei a
digerir um pouco melhor o episódio, mas ainda o classifico como muito ruim. E não
é ruim por má vontade, é ruim por não ter nenhuma graça. Esse é o problema
central. Ser uma comédia que não faz rir e que, de tão ruim, irrita a quem está
assistindo.
Já na cena de
abertura, com Troy e Abed voltando do verão, o texto é sobre mudanças e o
ambiente histérico, com diálogos forçados (mesmo que de propósito) e risadinhas
de fundo, já mostrando a descaracterização da série. Não dá para levar isso como piada ou como “os
caras estão rindo deles mesmos”. Ainda estou aqui tentando digerir aquelas
bobagens com hipsters, fontes dos desejos, gírias babacas de Annie e pegadinhas
com o reitor.
Algumas cenas dos “Reitores Vorazes”, uma batalha terrível
para aula de História do Sorvete, valeram a pena, até porque, é difícil quando
Dean Pelton não consegue ser destaque em suas aparições. As viagens mentais de
Abed e a Abed TV tendem a ser um ponto positivo, mas mesmo nesses momentos não
senti firmeza. A inserção dos “Greendale Babies” foi muito avulsa e
completamente aleatória. Desculpem, mas não basta mencionar que o personagem foi
para um lugar seguro em sua mente e jogar uma animação do nada. Chega a ser
desperdício de recursos.
O episódio seguinte, que obviamente foi planejado para
exibição na semana de Halloween, é ainda mais sofrível. Não é nem pela proposta
estar fora de época (na verdade, isso não importa em nada), mas porque, mais
uma vez não foi possível esboçar sequer um sorriso. Pierce preso num quarto do
Pânico e todo mundo na mansão dele, supostamente assombrada, com quadros
estranhos, jogos de espelho, ilusões e susto absolutamente imbecis e primários.
Tudo para terminar com Pierce e seu meio irmão virando roommates. Como se alguém
se importasse com isso.
As fantasias foram o mais chamativo, Annie ficou perfeita de
Samara e Britta encarna um pedaço de presunto com rara sensualidade, mas fora
esse ridículo visual, o texto, o grande trunfo da série, deixou muito a
desejar. Tanto que não sou capaz de pontuar um bom diálogo que seja. A situação
não é nada, nada boa.
É claro que, com tudo o que aconteceu (incluindo até a saída
de Chevy Chase do elenco, algo que só veremos mais para o fim da temporada) é
preciso dar a Community o benefício da dúvida. Um tempo hábil para entrar no
ritmo, mas vai necessário paciência. Annie pontua uma coisa curiosa: “É difícil
ser uma comédia de referência”. Ninguém discute. Community sempre sofreu por assumir
seu estilo, por ser diferente das demais, mas agora é a hora de escolher em que
pé ficaremos. Community vai ter episódios que vomitam referências ao léu ou vai
deixar de infantilidade e mostrar que pode continuar viva longe de seu pai e
criador? Quatro anos se passaram e a série estava evoluindo. Vê-la se
transformar num arremedo de si mesma não vai ser uma experiência muito agradável.
P.S*Uma coisa boa: outro ator interpretando Pierce na Abed
TV. Sinal de que nem na imaginação ele atura o coleguinha mais velho, que
recebe prospectos de caixões.
P.S*O que esperar da Changnesia de Chang?