“Tudo pelo que vale a pena lutar tem um preço”.
Em sua conversa com Peter, ao
ressaltar que Walter conhecia perfeitamente bem as consequências do ‘Plano’, Nina
Sharp disse bem. Para vencer as causas mais
importantes é preciso pagar um alto preço, que geralmente, vem em forma de
vidas que se perdem, ou melhor, que se doam para um bem maior. É exatamente
assim que nos despedimos de uma das personagens mais misteriosas da série. Nina
Sharp é, talvez, uma das figuras menos exploradas, apesar da constante
dualidade que apresenta desde o Piloto. Por muito foi impossível detectar quem
ela era e de que lado estava. Nina sempre foi controversa e gerou desconfianças,
mas agora não restam mais dúvidas sobre seu caráter e suas verdadeiras
intenções. Ela era a mulher que sabia demais e que jogou com os poderosos, até
que proteger a si mesma significou prejudicas os outros.
Entrei direto nesse assunto
porque, ao ver (e rever) esse episódio, um filme passou pela minha cabeça. Fiquei
lembrando de muitos momentos de Nina, ao longo desses anos e percebi que
sabemos pouco sobre ela, sobre quem ela realmente era. Sabemos muito da Nina
cientista, braço direito de William Bell (e apaixonada por ele), de seu
companheirismo com Walter e de como ela adotou Olivia quando houve a mudanças
nas timelines, invertendo a relação das duas, que antes era de puro desconforto
e cheia de momentos passivo-agressivos.
Não sei se essa é uma sensação
geral, mas depois daquela cena em que ela encara Windmark e sacrifica a própria
vida, essa ideia de que Nina poderia (e deveria) ter tido um pouco mais de
atenção ficou na minha cabeça. Ou talvez não. Talvez a aura de mistério em
torno dela esteja na medida certa para gerar uma despedida emocionante.
Aqui vale o elogio à
interpretação de Blair Brown, que passa serenidade e contrição, sem deixar de lado
sua ira por tudo o que os Observadores representam. O diálogo dela com Windmark
é inesquecível e cheio de ironias. “Seus animais”, ele diz ao ver que aqueles
que são de sua prole foram estudados como ratos de laboratório. E apesar de
isso ser, de fato, cruel, não podemos negar que a recíproca é verdadeira e que
os humanos passam e passaram por coisas muito piores nas mãos dos Observadores
e suas torturas mentais. O modo como Nina explica de onde vem a viradinha de
cabeça e compara essa “raça superior” a lagartos é fenomenal. No fim das
contas, os Observadores podem ter toda a tecnologia do mundo, mas ainda são uma
involução.
Aliás, esse episódio, com
bastante foco em Nina e Michael traz diversas informações importantes sobre os
Observadores. Mais uma vez, Fringe consegue fazer um episódio que é simples e
complicado ao mesmo tempo e que aproveita fatos de temporadas anteriores para
costurar a trama. Tudo isso sem deixar o arco central da temporada de lado,
porque afinal, restam apenas três episódios para o fim e é óbvio que o Plano
entrará em ação.
Ainda sem sair do assunto de Nina
e Michael, fiquei impressionada com o modo como a relação dos dois foi
facilmente estabelecida. O garoto também é digno de elogios, porque consegue
ser tão absolutamente inexpressivo quanto um Observador adulto, embora tenha
deixado a emoção fluir quando dá de cara com o corpo de Nina. Aquela única
lágrima significa coisas demais.
Significa que Michael, considerado uma anomalia cromossômica, é algo
além do Observador comum. Ele sequer tem o chip implantado na base do cérebro,
o que significa que a tal anomalia é, na verdade, um estágio de evolução que
justamente por fugir do controle deveria ter sido eliminado.
O interessante aqui é que
precisamos voltar até a 1ª temporada para entender o que foi que fizeram com o
caso do menino-observador. Windmark diz que ele desapareceu antes de ser
eliminado e que ninguém jamais soubera seu paradeiro. Nós sabíamos. Michael
ficou cerca de 70 anos escondido dentro daquele abrigo subterrâneo, sobrevivendo
somente com a ingestão de insetos. Sabemos a data porque ela é a data do fechamento
do prédio em que o pessoal da Fringe Division o encontra, ou seja, Michael
entra no abrigo por volta de 1939 e só é libertado em 2009, quando ajuda Olivia
a resolver um de seus casos.
A teoria geral é de que o próprio
September, já naquela época, sabia que o garoto seria importante para um plano
maior, tendo-o salvo e escondido por anos e anos, até o momento chave.
Inclusive, podemos ver depois, por flashbacks no próprio episódio, que é
September quem leva o Michael pela mão, provavelmente para outro esconderijo,
onde seus colegas Observadores não poderiam encontrá-lo.
No fim das contas, September é o
grande articulador de toda a história, tendo interferido em pontos chave e
plantado informações por toda a linha temporal, para que, um dia, os pontos
pudessem ser ligados. No momento em que Michael revela toda a verdade para
Walter é que vemos um desses lances de genialidade de Fringe. “The boy is
important”. Pois é. Aquela sequência de imagens, que recontam um pouco a trama
é prova da capacidade incrível que esses roteiristas têm em dar atenção a
detalhes. Se a amarração foi planejada bato palmas. Se não foi, bato palmas
lentas. Não é fácil pegar um lance isolado da 1ª temporada e juntar com o
andamento de cinco anos de série para que um arco da temporada final faça
sentido. É preciso muito estudo e muita perspicácia para não deixar furos. E essa
história não tem furo algum.
É óbvio que a frase mais ouvida ‘o
garoto é importante’ já foi sim, comprovadamente, ligada a Peter. Isso fica
claro porque essa mesma expressão já veio acompanhada de ‘ o garoto que não
deveria se tornar adulto’, coisa que obviamente não é ligada a Michael, simplesmente
porque ele não cresce, mas nada impede que September tenha batido nessa tecla e
usado essa frase específica de propósito, para lembrar Walter, num futuro distante,
do que ele, Peter e Olivia precisariam fazer. “The boy is important” vale,
portanto, para Peter e Michael, em diferentes ângulos da história.
O fato de Michael não crescer,
inclusive, levanta a teoria de que Observadores são criados em laboratórios,
embora a palavra ‘cultivados’ se encaixe melhor. Fica bem claro que Observadores
nascem adultos, por assim dizer. Imagino seus corpos dentro de tubos de ensaio
gigantes, esperando a maturação. É para ter controle total que não existem
mulheres (se é que Observadores têm sexo) e variáveis emocionais, muito embora
todo esse ‘controle de qualidade’ tenha deixado escapar alguns itens defeituosos.
Os maiores exemplos são August (que
morre por amor, ao se apaixonar por uma humana), Michael (que tem
características físicas de Observadores, mas não tem o chip e desenvolveu a
capacidade de sentir, ainda que não em grande escala) e September que, ao que
tudo indica, escolheu se tornar “humano”. A revelação de que ele é Donald fez
algumas pessoas ganharem apostas por aí, mas valeu muito mais porque vimos
September sorrindo pela primeira vez, em cinco anos. E com cabelos! Fica a
ideia de que ele teria retirado seu implante e se transformado num ‘humano de
verdade’ ou o mais próximo que se pode chegar disso. E se ele conseguiu mudar,
depois de muito tempo estudando a raça humana e amando-a a ponto de manipular
tudo para salvá-la, outros Observadores talvez mudem também. Fiquei um pouco
com essa impressão, depois do discurso de Nina.
Voltando a falar de Michael,
também fica a impressão de que ele teria restaurado as memórias de Walter, mas
não apenas do passado. Memórias da timeline apagada no sumiço de Peter, ao
operar a Máquina do Apocalipse. Parece que isso aconteceu porque colocaram ali
a cena em que Peter vai resgatar Walter do hospício, algo que só teria acontecido
na timeline original, então, acho que resta esperar alguma confirmação, caso
contrário creio que teremos um furo por aqui, o que sequer teria cabimento,
depois do que fizeram com o episódio dessa semana.
Continuo impressionada com os
efeitos visuais e como não economizam em mostrar equipamentos estranhos e que
exigem muito preparo técnico para que a cena não fique amadora na tela. Os
projetores em 3D são fantásticos e adorei o leitor de ondas sonoras, que capta
os sons que deixam ‘impressões digitais’ no vidro. A transformação de Walter também segue em
frente e depois da morte de Nina, talvez vejamos Walter num grande sacrifício,
tenho pensado muito nisso ultimamente.
Sense é o Glyph Code da semana,
que significa compreensão/percepção. A palavra está claramente ligada à
comunicação estabelecida com Michael e no modo como ele revela sua real
importância no plano. Quando ele toca as pessoas, Michael amplia a percepção
delas da situação atual e provavelmente ele foi peça fundamental para que Nina
decidisse pelo suicídio. Essa morte dá ainda mais confiança de que Walter, Peter
e Olivia estão no caminho certo, porque se fosse de outra forma, ela não teria
danificado o próprio cérebro com aquele tiro para evitar que suas memórias
fossem lidas.
P.S*Walter ainda está sobre o
efeito de Black Blotter, porque Astrid virou ACID nesse episódio.
P.S* Desculpem a demora na publicação
dessa review, mas Fringe e parentada em casa pras festas de fim de ano não
combinam e tiram a concentração de qualquer um.
P.S* Voltamos em 2013 para as
duas últimas semanas dessa maravilhosa saga.