Quando médicos e mafiosos se misturam.
Tentando uma vaguinha no limitado mercado de séries médicas,
a Fox resolveu lançar The Mob Doctor, série sobre uma médica que, por uma
dívida de família, tem de ajudar a máfia de Chicago a salvar a vida dos
criminosos locais. É claro que eventualmente essa tarefa simples se transforma em
um fardo pesado de carregar e a função de salvar vida se inverte. A Drª Grace Devlin
(Jordana Spiro), que revela um gosto especial por cadáveres, vai ter que matar
para salvar a vida do irmão e manter a mãe protegida.
Essa seria uma espécie de descrição oficial da produção e,
com um Piloto que é ágil e bem estruturado, as expectativas de sucesso para The
Mob Doctor aumentam. Meu problema pessoal com a série, no entanto, surgiu no
final do episódio. Estava convencida de que a premissa era sólida quando o
roteiro me fez mudar de ideia. Sei que muita gente adorou tudo isso e achou
condizente com a personagem interpretada por Spiro, mas não consigo aceitar o
fato de que Grace provou ser extremamente burra.
Quando um mafioso (seja ele amiguinho ou não) te dá uma
escolha tão fácil quanto a que Grace desperdiçou, você simplesmente aceita.
Como entender que, entre mudar-se de Chicago, livre, leve e solta, a
protagonista prefere ficar, pagando uma dívida que tecnicamente nem possui mais?
Porque uma médica jovem e talentosa, que poderia trabalhar em qualquer hospital
e ter uma carreira de sucesso preferiria ser imbecil e enfrentar as chances de
ter de matar pessoas inocentes diante da ameaça de criminosos? Faz sentido? Não creio que faça. Pelo menos não do
jeito que a coisa foi colocada, porque qualquer empatia com Grace meio que se
perde quando ela faz essa opção absurda de vida.
Obviamente estou colocando na balança os traços mais marcantes
da personalidade dela. Grace gosta do desafio, do poder, da emoção e de um
pouco de ilegalidade. Isso tudo é verdade. Mas, ela dá mostras claras de que
não gostaria de viver diante de ameaças e que não está disposta a simplesmente
aceitar as ordens dos bandidos (por assim dizer).
A chance de ser presa
por assassinato é algo vai além de qualquer vício por adrenalina. Grace tem essa dúvida e vive em cima desse
muro, mas nada disso é palpável. Quem
não quer conviver com ameaças e tem a oportunidade de escapar disso, escapa. Não
há nem o que pensar sobre o assunto. Quando Grace faz cara de “sou foda” e diz
que fica, o dilema (seja ele qual for) acabou.
The Mob Doctor só fará sentido se Grace, a partir desse
episódio, assumir que é mesmo uma agente do crime, usando a profissão de médica
como fachada. Infelizmente, não acredito que essa seja a intenção da série.
Querem impor que Grace é uma mulher que vive sob perigo e age em nome disso.
Mas não é mais verdade. Não depois dos minutos finais.
Incomoda o fato de que todo o problema de Grace é instigante
no começo (mas se perdeu, repito). O modo como ela enfrenta autoridades é um
ponto a favor. A ambientação Roosevelt Medical Center foi bem feita e os
problemas pessoais de Grace, com a mãe, o irmão, o namorado e os colegas de
trabalho vêm na medida certa. O roteiro consegue humanizar Grace com talento,
não restam dúvidas. O caso do menininho
de oito anos, morto por incompetência de um dos colegas de hospital foi
colocado no episódio estrategicamente com essa função.
O primeiro defunto que Grace deveria produzir para a máfia,
no entanto, escapa. Mas assassinato é um ingrediente inevitável na relação que
ela manterá com Constantine (William Forsythe) depois que esse “amigo” próximo a
usa para voltar ao comando da máfia, ao matar Moretti (Michael Rappaport, guest
star apenas nesse episódio) e assumir novamente uma posição de destaque, após
umas “férias forçadas” na cadeia.
Ao que tudo indica, The Mob Doctor quer ser mais do que uma
série médica com problemas de hospital e na tentativa de potencializar seu
drama central, lança mão da máfia como ingrediente, na expectativa de criar
muitos conflitos morais e éticos. Se a série irá realmente conseguir o que
pretende é difícil dizer.
Se em seu Piloto o grande mote já é esmagado fica complicado
de acreditar em vida longa. O mínimo de lógica e discernimento precisa fazer
parte de uma produção assim, inclusive porque o caminho natural é vermos Grace
sob mira de investigação criminal, embora a onda de aprovação por anti-heróis
possa garantir que o público fique do lado dela mesmo com a escolha de ser uma
assassina. Podem até tentar mostrá-la manipulando tudo em favor daqueles que
seriam as vítimas, mas novamente, é uma questão de lógica. Se ela não matar ela
morre. Se ela morre não tem série. Simples assim.
Dentre os personagens, temos também a enfermeira Rosa
Quintero (Floriana Lima, a melhor amiga de Grace; Dr. Brett Robinson (Zach
Gilford) o namorado boa praça; Dr. Stafford White , o chefe do hospital (Željko
Ivanek); Drª Olivia Wilcox (Jaime Lee Kirchner), a rival de Grace ; Nate(Jesse Lee Soffer), o irmão que só sabe
ferrar a vida alheia, além da mãe, Daniella (Wendy Makkena). Não podemos
esquecer, ainda, de Franco (James Carpinello) ex-namorado de Grace e braço-direito de Constantine.
The Mob Doctor é criação de Josh Berman (“Drop Dead Diva,” BONES), que roteiriza e atua na produção executiva da série ao lado de Rob Wright (“Drop Dead Diva,” “Crossing Jordan”). Michael Dinner (“Justified”) e Carla Kettner (BONES) também são produtores executivos. Dinner é responsável pela direção do Piloto.
The Mob Doctor é criação de Josh Berman (“Drop Dead Diva,” BONES), que roteiriza e atua na produção executiva da série ao lado de Rob Wright (“Drop Dead Diva,” “Crossing Jordan”). Michael Dinner (“Justified”) e Carla Kettner (BONES) também são produtores executivos. Dinner é responsável pela direção do Piloto.