O retrato da família feliz,
aquele das propagandas de margarina, passa mesmo muito longe da realidade.
Rookie Blue tem investido exatamente nisso nas duas últimas semanas, em que a
série conseguiu ir além de sua fórmula tradicional (que sempre é bacana de
acompanhar) adicionando um pouco mais de drama à vida de alguns personagens.
Não foram temas avulsos, mas
fatos que fazem parte da vida dos personagens desde o inicio da trama e nunca
antes haviam sido propriamente explorados. Com temporadas curtas fica até
difícil cobrar algo do tipo, mas creio que estamos chegando lá. A série não
ficou apenas no patamar dos romances, até porque, esse momento parece resolvido
por hora. O interessante é ver coisas importantes e que impactaram a formação
do caráter dos personagens sendo expostas.
Claro que estou falando de Andy, a
princípio, mas não apenas dela. O destaque para Oliver Shaw foi mais do que
merecido. O diferencial dessa temporada é esse. A chance de personagens
secundários ganharem um arco mais sólido do que beber café nas viaturas e fazer
comentários avulsos.
Os novos acontecimentos na vida
de Andy, no entanto, foram uma surpresa. Ninguém estava esperando a aparição da
mãe dela, assim, no meio de uma ocorrência e sem a menor dica. No primeiro olhar entre elas dá para notar o
que está acontecendo e Andy tem todas as reações naturais a esse retorno,
embora aquela história de ‘pai que não permite que a filha tenha contato com a
mãe para protegê-la’ tenha sido um baita clichê.
Esse retorno foi muito bem
trabalhado em ambos os episódios, em meio a muitas amostras de lares disfuncionais.
Andy foi abandonada pela mãe, infeliz no casamento e ao mesmo tempo fica comparando
sua situação com a do casinho da semana. A família mostrada no episódio era
completamente desestruturada, mas todos lutavam para proteger uns aos outros e
para ficarem juntos.
Também destacaram novamente a
relação de Andy com o pai, que virou até alívio cômico, embora eu esperasse,
desde o Piloto, algo um pouco mais sombrio vindo daí, já que no começo tentam
mostrar que o homem é bêbado e dependente da filha. Depois o assunto foi
varrido e esquecido, inclusive no episódio da sequência. Não que eu esteja
reclamando, afinal, seria estranho que o pai de Andy resolvesse fazer inferninho
porque a filha adulta está dando uma nova chance ao seu relacionamento
interrompido com a mãe.
Falando em alívio cômico, dá para
notar que a única solução que encontraram para a estabilidade do casal Sam e
Andy foi fazer os dois zoarem um ao outro, o tempo todo. Na verdade é ela quem
ganha como troll da relação, fazendo o coitado levantar da cama e vestir
chapéus de aniversário, empatando a foda do sogrão, ou tacando farinha cara de
Sam, com tanta vontade, que até me surpreendeu. Gosto desses momentos mais
leves entre os dois, afinal, foram duas temporadas de desentendimento e, muito
embora Sam tenha essa mania de mandar puxar a ficha das pessoas que se
aproximam da namorada, os conflitos estão num nível normal.
Já que o tema recorrente é
familiar eis que Oliver ganha seu momento. Sempre ouvimos comentários sobre o
quanto ele é dedicado à esposa e às filhas e desde que trouxeram à baila a
separação, fiquei esperando algo mais. Como o personagem sempre é pintado como
o pai do ano, fiquei tentando entender que tanto aquela esposa dele tem para
reclamar, mas enfim... O momento em que ele encontra a filha com o traficante e
chega ao limite emocional foi bastante forte. Dava para sentir ali o desespero
dele como pai e a frustração por bagunçar tanto a vida da filha, que afinal,
deu uma joelhada em Gail e merece nosso respeito.
Falando em Gail, eu quero muito
entender a relação dela com Nick e porque ela sacaneia tanto com Chris, que
obviamente ainda gosta dela e já havia sofrido com aquele flerte entre ela e
Dov. Ficou no ar que Nick não quer nada
sério e Gail finge estar na mesma situação. Provavelmente isso vai entrar mais
em destaque até o fim da temporada, até porque Nick é novo na série e só fica
fazendo referências aos fuzileiros (já basta, viu?) e sabemos muito pouco sobre
ele.
O lance de Dov com Crystal parece
algo legal e acho que deveriam investir nisso. O namorico dele com a menina do
esquadrão anti-bombas nunca chegou a decolar ou ganhar importância, então a
hora é perfeita para isso ser chutado de vez e continuarem com Dov se apaixonando
pela irmã do cara que ele matou em serviço.
Outra coisa que foi elevada um
nível acima é a relação entre Nash e Barber. Os dois estavam sempre super
escondidos na série e têm provado que funcionam bem em tela, quando ganham a
chance. Além do debate sobre fidelidade (que foi bonitinho), há os problemas
profissionais, já que Nash é detetive em treinamento e rola aquela confusão, já
que ela namora o chefe. Acho que a cena das camisas e terninhos idênticos foi
uma das coisas mais cretinas do mundo e reparando bem nas vestimentas de Jerry,
nota-se que ele tem uma estranha obsessão com camisas de tecidos finos em cores
berrantes. Melhor Nash manter o visual dela numa paleta menos escandalosa.