Pronto para virar um porco-espinho voador?
Você que acompanha Fringe desde o lançamento, vai entender do que estou falando: Lembra do tempo em que tudo parecia só um amontoado de casos bobos sobre criaturas nojentas e bizarras? Pois é. Agora tudo faz sentido.
Minha memória sobre a sensação de assistir à primeira temporada ainda é muito clara. Eu não enxergava bem, até pelo menos metade dela, que tudo aquilo não era só “encheção de linguiça”. Pensava apenas que estava diante de mais um vírus em tamanho gigante, uma lesma extragrande, uma cobra misturada com morcego ou um porco-espinho que mais parecia um lobisomem.
Com o tempo, deu para perceber que as intenções da série eram bem maiores, entramos no assunto dos universos paralelos e, com a morte de David Robert Jones na Season Finale da Season 1, ficamos com tudo na memória, sem realmente fazer uma ligação com o futuro de Fringe.
O que é genial é saber que tudo o que vimos no episódio dessa semana não estava planejado. Eu, pelo menos, não acredito que isso não tenha sido pensado há quatro anos e levado à perfeição até hoje. Se for isso, é maravilhoso. Se não for, é melhor ainda. Fringe virou a série número um da minha lista ao provar sua capacidade de costurar detalhes. Creio que isso atraiu a maioria dos fãs, igualmente.
Já no previously eu fiquei intrigada. Sabia que vinha por aí alguma menção ao 13º episódio da 1ª temporada, chamado “The Transformation”. No caso original, como foi explicado por Peter, um vírus causava a mutação genética nesse policial disfarçado e isso acontecia em pleno voo, matando toda a tripulação e os passageiros. Clicando na imagem é possivel ver as notas de laboratório de Walter.
Na época a resolução foi satisfatória e aparentemente sem consequências para a trama central. Descobriu-se que o vírus, criado por Conrad Moreau (nome que faz referência ao livro A Ilha de Dr. Moreau, de H.G Wells), seria vendido no mercado negro como arma biológica, mas o processo de compra foi impedido por Peter e Olívia, que se disfarçam de compradores.
Aliás, acho que é preciso conhecer um pouco mais sobre o livro para entender o tipo de debate que a série está propondo. Lançado em 1896, conta a história de um médico, que se dedica a criar estranhas formas de vida numa ilha tropical. Ele é um cientista obcecado pela idéia de transformar animais em homens, usando hipnose e cirurgias. O livro, que virou filme em 1996, serve para contextualizar ciência moderna, com temas como engenharia genética, religião,ética, evolução e behaviorismo.
Qualquer semelhança com o plot apresentado nesse episódio e em Fringe, como um todo, não é mera coincidência. Cada um desses elementos aparece no episódio, com David Robert Jones tomando o lugar de Moreau e com a obsessão digna de seita religiosa das pessoas dispostas a se tornarem as “crianças do novo mundo”.
Fiquei realmente impressionada com o modo como transformaram algo aparentemente menor num grande salto para esclarecer essas temporada. Parece estranho dizer que semana passada estávamos falando sobre amor, para nessa, entrarmos tão fundo numa discussão científica.
O que vejo, a partir daqui, saõ inúmeras possibilidades. Foi dito que Jones tem complexo de Deus e só isso explica cada uma de suas atitudes. Se Peter não tivesse sido apagado e ele tivesse morrido, nada disso seria explicado e jamais veríamos a conexão. Meu único problema com essa temática é que ela é ampla demais para ser resolvida até o fim dessa temporada. Acho tudo tão incrível que gostaria que tivéssemos mais um ano para explorar o assunto com cuidado.
David Robert Jones é o grande vilão que Fringe estava precisando. Como cientista, ele é tão capaz quanto Walter. Só prevejo coisas ótimas vindas de uma mente brilhante e mal intencionada, afinal, o cara criou um porco-espinho voador e convenceu um grupo de pessoas de que isso é algo divino.
Vale reparar menção a mais duas criaturas que já vimos antes. Uma delas em “Unleashed”, o 16º episódio da primeira temporada, que trata de um grupo que luta por direitos dos animais, que acaba vítima de um híbrido, criado em laboratório. É o episódio em que Charlie Francis acaba infectado pela larva do tal bicho, ficando refém de injeções para sempre. A criatura é uma mistura genética, na tentiva de encontrar um predador imbatível, misturando os pontos fortes de animais como cobra, escorpião e morcegos.
O outro é “Snakehead”, nono episódio da segunda temporada, que fala sobre um grupo de imigrantes ilegais chineses, infectados com um parasita, utilizado em sua forma gigante para que fosse possível extrair dele uma substância com fins medicinais, que combatia inúmeras doenças de imunidade. O verme, uma nova espécie, só podia ser cultivado dentro do intestino humano.
Como se pode ver, os assuntos que permeiam ambos os casos são ligados aos temas centrais do livro de H.G Wells. Havia, inclusive, outras criaturas que não pude identificar na sequência final, como aquela provável aranha criada a Toddy ( e torradas!), mas não é porque não foi mostrado em episódios anteriores que esses monstros medonhos não possam existir e fazer parte do plano de Jones, em se tornar o homem que desafiou Deus, como estão propondo.
Sobre a troca de memórias de Olivia, confesso que fiquei meio brava no começo, com aquela ladainha de que ela não poderia mais ser agente por não ser a mesma pessoa. Imaginei a situação da psicóloga do FBI, tachando Olivia de louca, só porque a Fringe Divisian vai além da compreensão humana. Por sorte, Broyles acabou rapidamente com o problema, ao admitir que é melhor ter meia Olivia Dunham do que nenhuma.
Lincoln se saiu muito bem no episódio, em suas conversas honestas com Peter e se tornando outro agente vítima de acidentes de trabalho, envolvendo mutação genética e possível mudança corpórea. Tomei um tremendo susto quando ele foi jogado na parece pelo porco-espinho e tenho um pouco de vergonha em admitir esse fato, porque estava na cara de que era isso o que ia acontecer no escuro.
O clima de família no laboratório me trouxe lembranças da terceira temporada. Nada como um dia com Walter querendo saber se Peter encontrou os órgãos genitais do monstro e servindo sanduíches asquerosos de bacon com manteiga de amendoin. Voltamos também às lindas cenas entre pai e filho. Sempre me emociono quando Peter demonstra afeto pelo pai e dessa vez não foi diferente.
O lance dos presentes de aniversário foi lindo, embora um tanto estranho. Os brinquedos são até explicáveis, mas outros presentes, mais referentes à vida adulta, nem tanto. Vale dizer que Walter esteve internado no sanatório também nessa nova realidade e, portanto, não poderia comprar aquela cerveja, por exemplo. A não ser, é claro, que ele tenha visitado a lojinha do hospital psquiatrico e mandado embrulhar para presente.
Houve ainda outras referências no episódio como ao livro The Lake of the Long Sun (Gene Wolfe), no retorno de Edward Markham, o colecionador de livros antigos que sabe tudo de escrita cuneiforme e foi a pessoa a revelar o manifesto ZFT ou The First People.
O Observador estava bem fácil de encontrar, aparecendo atrás na cena em que Lee e Peter chegam à casa do segundo porco-espinho, vendo que Olivia não aceitaria as ordens de não se envolver nos casos tão facilmente.
A palavra extraída do Glyph Code é FUTURE. Relação fácil com o lugar para onde essa temporada está no levando. Todos os casos vistos até aqui serão desvendados no futuro e descobriremos o motivo de tudo isso estar acontecendo quando chegarmos lá. Também pode ser relacionada com o que Jones pretende para o futuro da humanidade, afinal, a megalomania dele não tem limites e ele não quer que nada aconteça apenas por acidente da natureza.
P.S* Pobre Aphid, digo, Astrid. Ganhou novo apelido.
P.S* Nojento o negócio de comer gordura de lipoaspiração.