Porque, hein, Misfits?
Uma das coisas mais difíceis do meu ano seriador (por assim dizer), foi precisar admitir que uma das minhas produções favoritas havia entrado no limbo. Não foi um caso único em 2011, sinto dizer, mas o que resta ao fã quando sua série do coração está em frangalhos?
Eu sou do tipo que reclama mesmo. Não aceito qualquer coisa, nem desculpa esfarrapada. Sinto cheiro de roteirista em crise criativa de longe e fico louca da vida quando tentam usar truques baratos para me dar a sensação de que meu tempo diante da telinha valeu a pena, quando na verdade, eu deveria mesmo ter ido ler um livro.
Tudo isso eu passei com essa temporada de Misfits. Era uma das minhas séries mais aguardadas, porque convenhamos, poucas coisas foram tão legais em 2010 quanto a 2ª temporada dessa maravilha do canal E4. Ousada, abusada, inventiva, engraçada e inteligente, sempre estiveram na lista dos meus adjetivos para Misfits, desde a 1ª temporada, aliás.
Quando eu me deparei com a proposta da série, disposta a aloprar todo e qualquer detalhe glamuroso sobre a vida de humanos com super poderes, me apaixonei. Misfits tinha sido feita para mim e achei que seriamos o par ideal por muito tempo.
A metáfora é boba, mas é assim mesmo. Minha relação com Misfits, esse ano, caiu numa rotina de chatice. Brochei mesmo. Parei de me interessar pelo que ela dizia e não consigo destacar um episódio realmente bom da 3ª temporada. Nas últimas duas semanas, entrei naquelas de “dar um tempo” na relação, mas voltei para tentar recolher os cacos que restavam e, quem sabe, arrumar forças para tentar novamente.
Foi com esse espírito que comecei a assistir ao episódio sete. Zumbis, todos me diziam, insistentemente, como se Misfits nunca tivesse explorado isso. Nathan (saudoso) sempre foi zumbi, morria e voltava, com a vantagem singular de não precisar comer carne de gente ou de bichos ainda vivos no processo.
De qualquer forma, a pegada de filme trash que tentaram impor parecia promissora e resultou no que é, talvez, o melhor episódio desse ano. Infelizmente, isso não quer dizer que tenha sido um saldo positivo. Não achei engraçado e a ação se desenvolveu de modo estranho. O ritmo não parecia certo e, convenhamos, ninguém mata zumbis com tacos de baseball. Qualquer idiota sabe que é preciso destruir o cérebro dos mortos-vivos e uma paulada não dá conta desse serviço.
A história de Kelly e Seth foi estranha. O cara ressuscita uma defunta velhíssima e ressacada e ela se refaz todinha? Muito cômodo! Só a ideia de beijar na boca uma mulher que ficou apodrecendo por tanto tempo já tenho asco e é nesse ponto que o episódio é bem sucedido.
Dentro da mitologia de estranhezas da série, essa trama é perfeitamente cabível. Infelizmente, não consigo mais amar Kelly depois que ela deixou de ser a Malaca Parabólica para se transformar numa projetista de foguetes. Seth, mesmo sendo bem bonitinho, não me empolga e os demais personagens não tiveram uma função prática de verdade. Louvo apenas o gato, digo, Mr. Miggles, que atuou sua agressividade zumbi com tudo no episódio.
Em seguida, assisti à Season Finale da temporada, já sabendo que teríamos o retorno de alguns personagens. Mais uma vez, a proposta foi melhor que a execução, porque o retorno daqueles fantasmas foi absolutamente aleatório.
A volta do primeiro supervisor foi uma boa lembrança. O cara durou 40 minutos na série, mas foi o responsável por todos os acontecimentos que vimos até hoje. Por isso, fiquei com aquela sensação de Series Finale, mesmo já sabendo que Misfits terá mais um ano, pelo menos.
Só achei meio “pobrinho” a justificativa de que eles estavam ali para resolver assuntos pendentes. Absurdamente clichê. A aparição da outra supervisora, que afinal, era namorada do cara, veio para selar essa temática de resolução e até aí tudo bem. A história estava sendo contada direitinho, mesmo sem aquele sabor exuberante dos episódios mais crocantes de Misfits.
No setor “cômico”, a menina Santa do Pau Oco retornou e foi de “loukadokoo” a psicopata bipolar em muito pouco tempo. Essa mudança me incomodou. Do nada a menina se irrita com uma fala idiota de Rudy e, munida de um estilete, destrói o que ainda existia de bom em Misfits.
A sequência da morte de Alisha foi completamente previsível e sem nenhuma emoção e, apesar de a ideia de Simon entrar num looping temporal para reviver esse amor eternamente ser até interessante, essa é uma explicação muito boba para o maior plot da série: a motivação do Parkour Mascarado em viajar no tempo.
Depois disso, não tenho mais motivação para ver Misfits. Até porque, depois da saída de Nathan, Simon e Alisha já não estarão mais na 4ª temporada. Se agüentei firme até aqui foi porque Iwan Rheon soube dominar a série e se transformar num excelente protagonista. Até simpatizo com Rudy e suas excentricidades, no final, comecei a ver nele bastante potencial, mas todo o resto é tão desprezível que deixou a série em ruínas.
É aqui que eu percebo que minha metáfora para o relacionamento que tive com Misfits, é perfeita. Começamos bem, vivemos ótimos momentos, mas tudo esfriou e ficou chato. Não dá mais e para mim, é hora de abandonar o barco. Fico com a lembrança das duas primeiras temporadas, como algo unicamente cretino na história da TV.
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