Tiro certeiro.
Direto no alvo. Assim foi o episódio de Glee dessa semana,
capaz de surpreender, chocar e gerar burburinho. Um episódio polêmico e
emocionante, mas acima de tudo, diferente. Um diferente estranho, porque mesmo
quando o roteiro saiu de sua zona de conforto ainda pudemos ver ali os
elementos que fazem Glee ser Glee. Foi uma experiência e tanto de acompanhar,
de sentir junto, de arregalar os olhos, de chorar. E tudo isso sem sair de
Lima, sem produções mirabolantes. Tudo se resumiu a roteiro e atuação.
Esse é o tipo de episódio que prova o quanto Glee é
subestimada e o quanto a série tem a oferecer. Sou uma grande fã do estilo que
Glee tem e fazer crítica social e jogar sal na ferida por meio de um humor
cretino e sempre exagerado. Ryan Murphy coloca uma lente de aumento em cima dos
defeitos do ser humano e da nossa sociedade e essa não é primeira vez que ele
faz isso. Nas piadas mais idiotas é que ele mostra as maiores verdades, mas nem
todo mundo nota, porque Glee tem essa fachada de “comédia boba para
adolescentes”. E a série é sim, divertida e engraçada, até quando há um drama
em foco. Mas não dessa vez. Dessa vez, o texto foi além e mostrou uma situação
que não é nem um pouco engraçada.
Foi a partir daí que surgiram as críticas negativas. Porque
não se brinca com tiroteios em escolas, afinal de contas. E também não devemos
discutir sobre porte de armas, sobre professores que tentam conseguir o direito
de ir trabalhar armados, não devemos falar sobre o motivo pelo qual, vira e
mexe, uma tragédia desse tipo acontece nas escolas.
Quem reclama do conteúdo desse episódio quer fingir que os
problemas não existem, porque a intenção, não é brincar com esses temas (aliás,
é tudo muito sério quando a sequência inicia), mas mostrar o terror que já faz
parte do subconsciente dos americanos, em especial, já que esses eventos
infelizes são muito mais comuns por lá.
Não passa despercebida a reação dos alunos. Automática.
Todos sabem como proceder, como tentar criar um “ambiente seguro” numa situação
de caos. E essa reação tão rápida e tão certa é terrível de notar, porque vemos
claramente que o medo é um sentimento arraigado nos estudantes americanos. Notamos
que eles convivem com essa possibilidade diariamente e foi ai que eu me rendi.
Talvez esse não seja um sentimento comum para brasileiros ou
outras nacionalidades, - embora tiroteios assim não sejam, absolutamente,
exclusividade dos EUA , até no Brasil isso já aconteceu - mas naquele momento, durante esse episódio de
Glee, nós pudemos sentir a alegria e a leveza escorrendo pelo ralo.
É uma experiência televisiva rara quando somos transportados
para o lugar do outro, para o que o outro sente. E Glee conseguiu. É por isso
que faço a defesa desse episódio diante dos que não gostaram, porque o objetivo
não era ser sensacionalista, pura e simplesmente, apesar de ninguém aqui ser
inocente a ponto de achar que TV não é espetáculo e não precisa de elementos
que alavanquem a audiência.
Além do texto muito pontual, vale um elogio ao elenco, que
soube dosar as emoções, transmitir os sentimentos e reagir de forma
absolutamente natural diante dos acontecimentos. Ninguém ali sabia o que estava
acontecendo, se havia vítimas, se sairia vivo. Os vídeos em celular com as
mensagens dos alunos deram um toque interessante à situação e mostram que, em casos
assim, somente as coisas que realmente importam passam pela cabeça das pessoas.
Mensagens de amor, de perdão.
E toda essa onda de pavor veio justamente quando tudo
parecia banal. Mais um dia na escola, mais uma tarefa do Glee Club, mais um
asteroide/meteoro/cometa prestes a atingir o planeta. Caminhamos das amenidades
para o mais profundo drama. E o episódio consegue se recuperar rapidamente
depois do pico de tensão e estabiliza bem, antes do desfecho e da revelação de
que, afinal, Becky seria a responsável por tudo. Mesmo sem querer. Mesmo por
acidente.
E só poderia ser ela
a pessoa a fazer Sue assumir algo desse tipo. Becky, que é colocada em pé de
igualdade com qualquer outro aluno (e não ao contrário, como pode parecer), nos
mostrou seu receio de enfrentar o mundo e o quanto as coisas que acontecem fora
do universo escolar a apavoram a ponto de acreditar que uma arma seria a
solução, seria sua proteção. Becky está num beco psicológico. Paralisada de
pavor, age sem pensar. No fundo, ela não fazia a menor ideia de que carregar um
revólver para escola poderia ter terríveis consequências. Acho que é por isso
que a atitude de Sue funciona tão bem. Mas não deve ficar assim. Acredito que Becky -
que atuou muitíssimo bem - vai assumir a responsabilidade pelo acidente.
Falando em atuação, acho que devemos aplaudir esse elenco de
Glee. A tensão do tiroteio foi um prato cheio para todos mostrarem que não são
só bons cantores ou bons comediantes. A reação de Sam, desesperado por não
saber de Britanny emocionou, assim como a própria Britanny, sozinha numa cabine
do banheiro. Ryder se reaproxima de Jake e Marley, Kitty se arrepende e assume
cada peripécia que já aprontou, Artie (que é um cara que já esteve perto da
morte por causa do acidente que o colocou na cadeira de rodas) agradece por ter
tido uma boa vida até ali...
São reações muito naturais a um momento de incerteza como
aquele, em que o melhor a fazer é não fazer nada. É o caso de Tina, que ficou
de fora e só podia esperar por boas notícias, enquanto diretor Figgins, com uma
expressão de mais puro terror, tentava manter o controle da situação. A única
atitude “burra”, por assim dizer, é de Will Schuester, que sai pelo corredor
para resgatar alunos. Corajoso? Sim, claro. Mas se o perigo fosse real, o
desfecho poderia ser sangrento.
Passado o grande susto, o desafio é voltar à rotina e
enfrentar os novos padrões de segurança que já são comuns em muitas escolas. E
nem mesmo isso pode garantir que a sensação de insegurança vá embora. Imaginem
como deve ser ir para a aula, algo que deveria ser banal, pensando nas coisas
ruins que podem acontecer se um colega resolver se vingar do mundo ou se alguém
achar que precisa de uma arma para se defender? Glee trata justamente disso e
não é de hoje. Esse episódio é só mais um alerta, na verdade, para um assunto
que é o mote central da série: o bullying. Em casos reais, esse é, geralmente,
o estopim dessas tragédias.
Mas é claro que o episódio não foi só isso. Porque só Glee
colocaria um tema super sério junto de uma serenata para um gato. Algo que é
extremamente cretino e que serviu como distração. Enquanto pensávamos “não acredito
que estão cantando para um gato”, fomos pegos de surpresa por algo muito maior.
Tudo planejado em detalhes mínimos.
Só que também vale notar a escolha da música. ‘More Than
Words’, do Extreme é um clássico que já figurou polêmicas no finado The Glee
Project. Não consigo deixar de pensar que Lord Tubbington é apenas uma alegoria
para homenagear Robert Ulrich, responsável pela escolha de elenco da série.
Quem não se lembra desse homem afirmando ter PERDIDO A VIRGINDADE com o Extreme?
Mesmo com ‘More Than Words’ tendo sido lançada depois de ele já estar casado e
com filhos (sim, tenho certeza disso porque fiz pesquisa!)? Faz a gente pensar
em qual virgindade Robert estava pensando quando deu essa declaração.
O fato é que, sim, adorei a música, porque não tem como não
gostar. E também foi legal ver Ryder cantando ‘Your Song’ e descobrindo que
está sendo enganado por um dos colegas do Glee Club. Já apostei aqui que a
pessoa com quem ele troca mensagens é Unique e continuo pensando assim. Só se
Blaine resolveu atirar para o lado de Ryder ou se Kitty ficou tímida do nada.
Esse medo de mostrar a cara parece coisa de Unique mesmo, mas enfim, acho que
tudo vale.
Estava com saudade de coach Beiste e gostei de revê-la. Só
que esse amor por Will veio meio que do além. Não porque a relação de amizade
entre eles não permite essa interpretação, mas porque a mulher estava fora da
série há século e já a colocaram fazendo declarações de amor e cozinhando
macarrão na banheira utilizada pelos atletas suados. A saída de Will foi cheia
de gentileza e honestidade e foi legal ver a amizade deles em foco novamente.
Esse é um elemento antigo de Glee que eu gostaria de ver mais.
Para encerrar tantas emoções num clima “mais ameno”, o
pessoal do New Directions ataca de “Say” e consegue mostrar que existe união,
esperança e que, ali, um vai apoiar o outro para superar esses acontecimentos.
A noção de que esse grupo é uma família nunca foi tão difundida e nunca foi tão
forte.
Espero, sinceramente, que não apenas Glee, mas que outras
séries se proponham a fazer esse tipo de episódio pontual. No passado, acho que
vale citar o tiroteio proposto por One Tree Hill, que causa um efeito
devastador no espectador, mas não acho que as coisas tenham de seguir essa nota
dramática ou monotemática. Existem muitos assuntos a discutir por aí e nessa
temporada 2012/2013 somente Switched at Birth conseguiu trazer uma proposta
nesse sentido com um episódio 100% sem diálogos “falados”, só com língua de
sinais. Agora, também temos Glee nessa lista de engajamento e podem apostar: achemos
ou não esse episódio um dos melhores da série, será difícil esquecê-lo ou não nos
lembrarmos dele como exemplo.
Músicas no episódio
"More
Than Words" – Extreme: Sam (Chord Overstreet) e Brittany (Heather Morris)
"Your
Song" - Elton John: Ryder (Blake
Jenner)
"Say" - John Mayer: New Directions
P.S* Aproveitar esse espaço para dizer que estou revoltada e
infeliz com o cancelamento de The Glee Project. Absurdo de proporções épicas.
Que review maravilhosa gostei muito! Sério quem reclamou desse episodio realmente assiste Glee apenas para reclamar e fazer criticas bobas ou reclamar de casais, de musicas e até da roupa que eles usam e infelizmente uma grande parte faz isso...Porem tem muitos que amam e espero que a série siga nesse padrão da 4° temporada que vem tendo episódios maravilhosos, e que não mudem a 5° temp para tentar atrair aquele ''publico'' da 2° temporada....
ResponderExcluirCamis você não acha que esse ''cancelamento'' do The Glee Project só fortalece os rumores da 5° temporada seguir com o mesmo ano letivo, dai claro não teria utilidade ter uma temporada para colocar mais um personagem, no meio de vários desfechos de outros, que no caso o 5° ano seria formatura do outro pessoal. Acho que eles querem fazer algo melhor do que o ano passado que foi tudo muito corrido! Então tenho esperanças que Glee Project possa voltar quem saber no final do ano ou até na próxima summer mesmo :).
Esse episódio me lembrou bastante o desconforto que senti ao ver os "colegas de escola" do Tate em American Horror Story isolados na biblioteca tentando se esconder do atirador na escola. Naquela ocasião nós não conhecíamos as vitimas e mesmo assim nos apegamos a elas em pouquíssimo tempo. Em Glee foi muito mais arrebatador porque conhecemos e nos importamos com aquelas pessoas mas o horror da cena de AHS não saiu de minha cabeça durante toda a seqüência.
ResponderExcluirO que? The Glee Project foi cancelado? Assisti as duas temporadas esse ano e achei o melhor reality show do mundo. Absurdo.
ResponderExcluirsó tenho que parabenizar o roteiro de glee essa semana, que nao poderia ser mais pontual e pertinente
ResponderExcluirabordou com elegancia e beleza um assunto que ja tinha passado da hora de alguma serie teen abordar
nao creio que abordagem sobre os atiradores tenha sido gratuita, ao contrário, gostei muito e creio que tenha servido de reflexao a muitos jovens, e adultos, americanos ou nao.
Os musicais também foram escolhidos a dedo e super combinaram com a situacao.
Minha unica critica a esse episodio, é o fato que roteiros assim, acontecem uma vez a cada cinco episodio em glee, o que é uma pena, pq sempre percebemos o potencial que a serie tem e nao utiliza.
Aquele episódio foi tenso de AHS e fica ainda pior por ser o tate o assassino. Agora Glee faz isso também foi de arrepiar, fiquei com medo.
ResponderExcluirReview excelente e no ponto Camis, quem reclamou do episódio realmente não entendeu a mensagem a ser transmitida, adorei tudo, porque foi uma coisa que pegou todo mundo de surpresa, eu espera um episódio normal, mas aqueles dois tiros tiraram minha alegria na hora, fiquei tão apavorado quanto os Gleek. A cena do Sam querendo sair da sala me deu agonia, Ryder também foi excelente nesse episódio e a Brittany no banheiro me deixou apreensivo. Como você mesmo disse Glee saindo da zona de conforto e apresentando um episódio marcante.
ResponderExcluirAchei o episódio sensacional e a review, como todas as da Camis, perfeita!
ResponderExcluirFaz tempo que penso que quem está trollando o Ryder é Unique, porém o celular tocando na sala me remete ao fato de que o celular da Unique tem como toque "Bootylicious", conforme vimos em outro episódio... apesar de que se tratando de Glee, pode ser que esse plot tb tenha morrido hahaha
Adorei o episódio! Não creio que cancelaram TGP revoltada e infeliz (2)!
ResponderExcluirO episódio foi bem feito mas eu já cansei dessa temporada de Glee e olha que eu tava me divertindo bastante no começo dela. O que eu tô notando é que desde que Glee voltou do hiatus pós natal, a série abandonou todos os arcos de historias que existiam até então para apostar nas mesmices de casais que eu não poderia me importar menos e plots forçados e apelativos que não levam a série pra lugar nenhum (vide Rachel possivelmente gravida, vide tiroteio, vide Quinn e Santana), não curto quando glee tenta ser séria demais, nunca engoli aquele plot do possivel suicídio e nem vou engolir esse tiroteio, foram cenas bem feitas e bem atuadas? Sim, mas a única coisa que eu gostaria de ver é a Glee que emociona sem colocar algum personagem à beira da morte, e o desenvolvimento dos personagens, principalmente dos novos, que agora só se resumem a casais e videoclipes mega produzidos.
ResponderExcluirPor isso que eu digo, cancelem glee e me dêem meu TGP de volta!
p.s.: Ryder arrazou, passada com o talento do Blake, sempre!
Simplesmente maravilhoso esse episódio....não sei pq tanta polêmica....Fiquei com o coração na mão com a Britanny sozinha no banheiro e o desespero do Sam e a mãe da Marley na cozinha fiquei com medo de algo acontecer com ela!!! Gente Adorei a Britanny com a história do asteroíde/meteoro/cometa dela ri muito rsrsr e a cara do pessoal com a serenata para o gato kkkk Cada vez mais gosto do Sam e a Britanny como casal...
ResponderExcluirAdorei a Review....
Linda review e ótimo episódio! Esta temporada tá muito muito boa =)
ResponderExcluirótima review! Nunca comentei nenhum episódio mas este eu me senti na obrigação de fazer. Quando terminei de assistir (em lágrimas obviamente) percebi o quanto eu gostava e me importava com os personagens, afinal essa "nova" geração do new directions está muito boa. Realmente glee é uma série subestimada por gente que não tem opinião própria, e falam mal pq todos falam e afinal é tão mais fácil ir com a maré do que nadar contra ela, não é !?! Só tenho a dizer que estou muito feliz de gostar e reconhecer que Glee é uma das melhores séries no ar atualmente!
ResponderExcluirSwiched At Birth e Glee na mesma review: arrasou, camis *---*
ResponderExcluirAchei esse episódio sensacional, e impossível de não se emocionar. Comecei rindo horrores com Lorde Tubbington e More Than Words e, de repente, há tiros na escola. A cena de maior tensão pra mim, foi a Brittanny no banheiro, vendo as lágrimas de desespero dela, sem qualquer barulho, foi tenso demais. Acho que todos os atores arrasaram na interpretação.
ResponderExcluirE fica aqui minha revolta e meu luto eterno pelo fim de TGP. Vou sentir tanta falta das mãozinhas do Zach, do recalque da Nikki, da boina amarela de Titia... e gente, e o plot twist melhor do mundo que foi descobrirmos que Robert é casado e com filhos? E agora você me deixou chocada com isso que More Than Words foi lançada quando ele já era casado. Nunca tinha parado pra pensar nessa linha do tempo... Que virgindade foi essa que ele perdeu? o_O
O Ryder mesmo fala isso pro Jake, quando está tentando descobrir quem é, descarta Unique porque o toque do celular dela é Bootylicious.
ResponderExcluirUnique também estava com o celular na mão quando ela e Kitty se abraçam após eles serem informados que o perigo já passou.
ResponderExcluiròtimo review. Esse foi o episodio mais marcante de toda a série, sem sombras de dúvidas.
ResponderExcluirConcordo com tudo o que você falou, OTH feelings... s2 Não sei como teve gente que não gostou oO #RIPTheGleeProject
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